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MP: Crivella entregou celular com chip antigo para "obstruir investigação"

Maurício Almeida/AM Press & Images/Estadão Conteúdo
Imagem: Maurício Almeida/AM Press & Images/Estadão Conteúdo

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

22/12/2020 13h04

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) acusa o atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), de ter trocado o chip do celular que entregou aos investigadores em setembro. "[Crivella] inseriu um chip antigo em um aparelho de outra pessoa e o entregou ao oficial de Justiça que presidia a diligência", diz o MP na denúncia que apresentou contra o prefeito carioca.

Em 10 de setembro, Crivella foi alvo de mandado de busca e apreensão da Operação Hades. Na ocasião, houve uma ordem para reter o celular do prefeito carioca. Hoje, ele foi preso em mais uma etapa da operação, que investiga um esquema de propina na Prefeitura do Rio de Janeiro.

De acordo com o MP, Crivella trocou de número de celular ao menos três vezes ao longo das investigações. Sobre a entrega de um celular com um chip, a Promotoria disse que houve "inequívoco intuito de obstruir e, mais uma vez, dificultar ao bom andamento da investigação".

Procurada, a defesa disse apenas que "Marcelo Crivella falou sobre o caso na manhã desta terça-feira, na Cidade da Polícia".

"Caminhadas"

caminhadas - Reprodução/MP-RJ - Reprodução/MP-RJ
O MP fez menção a caminhadas de Marcelo Crivella com a companhia de Rafael Alves
Imagem: Reprodução/MP-RJ

A Promotoria ainda ressalta as "caminhadas matinais" de Crivella com Rafael Alves, tido como membro do primeiro escalão do esquema de propina.

"Chama atenção a realização de reuniões na casa do próprio prefeito e após ou antes do horário normal de expediente, sempre para tratar de assuntos cujo teor jamais eram revelados nas trocas de mensagens que os antecediam", diz o órgão.

Para o MP, as mensagens trocadas entre Alves e Crivella confirmam que eles "se valiam das 'caminhadas matinais' para tratar de assuntos sigilosos e que não podiam ser resolvidos pelos meios tradicionais de comunicação". A afirmação da Promotoria, porém, não tem provas que comprovem o teor das conversas nas caminhadas.

O UOL procurou pela defesa de Alves, mas ainda não teve retorno.

Crivella diz que "combateu a corrupção"

No total, a polícia tenta cumprir hoje sete mandados de prisão. Seis pessoas foram presas, segundo o MP-RJ.

Mais cedo, ao chegar à Delegacia Fazendária, na Cidade da Polícia, onde prestou depoimento, Crivella falou rapidamente com os jornalistas. "Fui o prefeito que mais combateu a corrupção na Prefeitura do Rio de Janeiro", declarou, dizendo ainda que agora espera "justiça".

Ele também foi suspenso das funções públicas, segundo determinação do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). Com isso, ele está afastado do cargo. Quem assume o comando da cidade é o presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felippe (DEM). O vice-prefeito Fernando McDowell, morreu em maio de 2018.

Crivella disputou a reeleição em novembro, mas foi derrotado por Eduardo Paes no segundo turno. Ele era apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Seu mandato termina em nove dias, em 31 de dezembro.

À tarde, ele e os demais presos na operação de hoje participarão de uma audiência de custódia —com isso, será avaliada a necessidade de manutenção da prisão.

Alvos da operação de hoje

Além de Crivella e Alves, são alvos da operação o ex-senador Eduardo Lopes (Republicanos-RJ) e o ex-tesoureiro de campanhas eleitorais de Crivella, Mauro Macedo. Há mandados também contra Fernando Morais (delegado), Cristiano Stokler e o empresário Adenor Gonçalves.

O ex-senador Eduardo Lopes não foi encontrado em casa. Ele foi presidente da Riotur e assumiu a vaga no Senado após a eleição de Crivella para a Prefeitura do Rio, em 2016.

De acordo com as investigações, empresas que desejavam fechar contratos com a prefeitura ou tinham recursos a receber do município eram obrigadas a pagar propina a Rafael. Em troca, o empresário facilitava a assinatura dos contratos e o pagamento das dívidas. Contra ele, a polícia também cumpre um mandado de busca e apreensão de uma lancha que está em Angra dos Reis, na região da Costa Verde do Rio.

O UOL entrou em contato com os advogados dos suspeitos, mas ainda não obteve retorno.

As investigações se baseiam no acordo de colaboração premiada do doleiro Sérgio Mizrahy, preso pela Operação Câmbio, Desligo. Ele apontou Rafael Alves como chefe do esquema criminoso que aconteceria na prefeitura.