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Bloco de Maia escolhe Baleia Rossi como candidato contra Lira e Bolsonaro

Deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP), pré-candidato para a presidência da Câmara - Câmara dos Deputados
Deputado federal Baleia Rossi (PMDB-SP), pré-candidato para a presidência da Câmara Imagem: Câmara dos Deputados

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

23/12/2020 16h58Atualizada em 23/12/2020 17h59

O bloco parlamentar do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), escolheu o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) como pré-candidato para a sucessão no comando da Casa. O anúncio foi feito na tarde de hoje. O grupo é formado por 11 partidos, nos quais estão 284 parlamentares.

A decisão foi tomada mesmo sem o consenso de toda a oposição, disse o líder do DEM, Efraim Filho (PB), ao UOL. Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) anunciou que abriu mão da disputa interna nesta quarta-feira (23) em favor do emedebista.

Boa parte dos opositores não têm vetos a Baleia, mas o grupo de PT, PSB, PDT e PCdoB ainda vai se reunir com ele na segunda-feira (28), às 14h. Uma parcela dos petistas, principalmente de São Paulo, têm resistência a Baleia por sua ligações com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e o governador do estado, João Doria (PSDB).

O bloco de Maia vai enfrentar o pré-candidato Arthur Lira (PP-AL), que tem o apoio do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). O líder do PP aglutinou dez partidos ao seu redor, com 204 parlamentares.

"Nós sabemos que temos uma eleição com 513 eleitores. Com humildade, vamos conversar com cada um dos parlamentares para reafirmar os compromissos que nós assumimos na frente ampla e com os partidos do nosso campo", disse Baleia Rossi em coletiva de imprensa.

"O que nos une neste momento é a defesa intransigente da nossa democracia, do nosso Estado democrático de direito, das liberdades, do respeito às minorias", afirmou Baleia sobre o bloco que une o PSL, ex-partido de Bolsonaro, e a oposição. Ele citou frase do falecido deputado Ulysses Guimarães: "Tenho ódio e nojo das ditaduras."

Nas redes sociais, Baleia disse que vai procurar a oposição: "Vou conversar com todos os partidos do campo progressista. O importante é focar na defesa da independência da Câmara."

As eleições para a Mesa da Câmara ocorrem em 1º de fevereiro, mas a articulação começou antes mesmo das eleições municipais. A expectativa dos dois blocos é ir ao segundo turno e vencer a disputa.

Maia e Bolsonaro se tornaram adversários

Bolsonaro apoiou a eleição de Maia em 2019, mas eles se tornaram adversários ao longo do tempo. O deputado tem dito que o bloco vai atuar de forma independente do governo federal, e atuando como contraponto a medidas do Executivo que consideram antidemocráticas ou contrárias às recomendações científicas no enfrentamento à pandemia de coronavírus. As oposições integram o grupo de Maia.

O grupo é formado pelas bancadas de DEM, PSDB, MDB e PSL, à direita, e PT, PSB, PDT e PCdoB e Cidadania, à esquerda. O PSOL deve lançar candidato próprio, mas estuda se vai apoiar o bloco já no primeiro turno.

Por outro lado, o grupo de Lira afirma que ele não será subserviente a Bolsonaro, nega qualquer tipo de apoio a medidas antidemocráticas ou negacionismo científico em questões de saúde. Além disso, os dois grupos possuem deputados da base aliada do governo, o que minaria a ideia de que o bloco de Maia seria mais independente que o outro.

O grupo de Lira é formado por PP, PL, PSD, Republicanos, SD, PTB, Pros, PSC, Avante e Patriota. Como a votação é secreta, o bloco acredita que obterá apoios de deputados que integram o "conglomerado" de Maia. Mas os aliados do atual presidente da Câmara também esperam obter essa vantagem.

Hoje, Maia disse que é preciso que Baleia dialogue com a oposição. "Agora, há a necessidade de dialogar com todos os partidos, mas principalmente aqueles que têm divergência ideológica. E é isso que vamos fazer."

Parcela do PT resiste a Baleia

O bloco de Maia reuniu 11 partidos e quase 300 deputados. Para isso, o presidente da Câmara costurou acordos com políticos de direita, de centro e de esquerda. Por isso, a definição de um nome no grupo foi cercada de muita discussão.

O PT passou a terça-feira discutindo o tema e voltou a se reunir na manhã desta quarta-feira (24), desta vez com o apoio da oposição. No encontro, PSB, PDT e PCdoB externaram que não viam problemas em Baleia Rossi.

Uma parcela do PT de São Paulo - importe grupo dos petistas - não queria se associar a Baleia por causa de sua proximidade com Temer, que abandonou Dilma Rousseff no impeachment da ex-presidente. A proximidade de Baleia com Doria, adversário dos petistas, também atrasou as discussões.

No entanto, uma parte dos petistas afirmou ser necessário apoiar o candidato mais viável do bloco. No PDT, no PSB e no PCdoB, não havia resistência a Baleia. Uma deputada da oposição comentou ao UOL que era necessário manter a ideia de "frente ampla", sem facções, porque as esquerdas não têm votos para, sozinhas, derrotarem o candidato de Jair Bolsonaro (sem partido), neste momento representada por Athur Lira (PP-AL).

No meio da tarde, os aliados de Maia informaram às oposições que, entre Baleia Rossi e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o indicado era o emedebista. A reunião por videoconferência foi encerrada. Líderes propuseram discutir a candidatura de Baleia na semana que vem.

Alguns foram à residência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no Lago Sul. Baleia estava lá, assim como oposicionistas como Alessandro Molon (PSB-RJ). "Fomos informados de que o candidato apresentado pelos partidos de seu grupo é o deputado Baleia Rossi", afirmaram PT, PSB, PDT e PCdoB em nota à imprensa.

Na reunião de segunda-feira, Baleia vai apresentar seus compromissos. "Nossos partidos continuarão buscando unidade na ação para garantir a defesa da democracia, a independência do Poder Legislativo, a derrota do autoritarismo e do obscurantismo e a proteção dos direitos do povo brasileiro", diz a nota das oposições.

Não era possível esperar mais, diz líder do DEM

Um aliado de Maia disse que não era possível esperar o consenso completo da oposição para anunciar o nome de Baleia. O próprio presidente da Câmara já havia definido quarta-feira como a data-limite para a decisão.

"Primeiro, a questão de timing", disse Efraim Filho, líder do DEM. Essa decisão já vinha sendo aguardada há muito tempo, e a demora estava começando a incomodar e causar estragos", prosseguiu. "Segundo, o Baleia tem um ativo importante, a bancada do partido que, em sua absoluta maioria, segue a sua candidatura. O Aguinaldo não tinha esse ativo com o PP."