Bolsonaro mente ao dizer que STF o proibiu de 'qualquer ação' contra covid
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mentiu, na tarde de hoje, ao dizer ter sido proibido de adotar "qualquer ação" contra o coronavírus. Em abril, o STF (Supremo Tribunal Federal) reafirmou a autonomia de estados e municípios para adotar medidas de isolamento social e definir quais atividades serão suspensas, mas não tirou do governo o poder para atribuições relativas à pandemia.
"Só deus me tira daqui. Me tirar na mão grande não vão tirar. Vou repetir aqui: que moral tem João Doria e Rodrigo Maia em falar em impeachment se eu fui impedido pelo STF de fazer qualquer ação contra a pandemia?", afirmou Bolsonaro nesta tarde em entrevista a José Luiz Datena, da TV Band.
O chefe do Executivo se referiu a uma coletiva concedida por Maia e Doria, na qual o presidente da Câmara dos Deputados afirmou ser "inevitável" falar sobre a possibilidade de impeachment de Bolsonaro no futuro.
'Tinha que estar na praia'
Na entrevista, o presidente da República disse que deveria estar "na praia" segundo a determinação do STF.
Pelo STF eu tinha que estar na praia uma hora dessas, tomando uma cerveja. O Supremo falou isso para mim
Jair Bolsonaro em entrevista à TV Band
Não é a primeira vez que o chefe do Executivo se declara impedido de adotar ações de combate à pandemia, colocando na conta do Supremo a responsabilidade pelas decisões.
Em junho passado, a ministra do STF Cármen Lúcia explicou ao UOL que o entendimento da Corte é de que o governo federal não pode interferir nas decisões locais, já que governadores e prefeitos entendem melhor as necessidades de suas respectivas regiões. Isso não significa que o governo não possa adotar medidas de abrangência nacional.
O que o Supremo disse é que a responsabilidade é dos três níveis [federativos] -- e não é hierarquia, porque na federação não há hierarquia --- para estabelecer condições necessárias, de acordo com o que cientistas e médicos estão dizendo que é necessário, junto com governadores, junto com prefeitos
Ministra do STF Cármen Lúcia
Agências de checagem de notícias falsas, Agência Lupa e Aos Fatos já classificaram as afirmações como falsas.
Também em junho de 2020, o presidente da Corte, Luiz Fux, declarou não ter tirado de Bolsonaro o poder para adotar medidas de combate ao vírus. Ele reforçou a fala da ministra Cármen Lúcia ao dizer que a determinação reforça a competência de estados e municípios.
E às vezes, o que serve para a União, não serve para municípios. A União federal continua com a sua responsabilidade
Ministro Luiz Fux, presidente do STF
O Comprova, consórcio de veículos do qual o UOL faz parte, apurou que a determinação do STF está dentro das atribuições da Corte e que a decisão é prevista em lei.
"O artigo 23 da Constituição diz ser competência comum da União, dos estados e dos municípios cuidar da saúde e o artigo 24 afirma que os três entes podem legislar sobre a 'proteção e defesa da saúde'", explica matéria publicada em setembro passado.
Maia diz que presidente é 'coordenador do SUS'
Após entrevistar Bolsonaro, Datena também conversou com o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). O parlamentar afirmou que Bolsonaro tem papel no combate à pandemia enquanto coordenador do SUS (Sistema Único de Saúde).
Eu estava ouvindo aqui e é interessante como se tenta falar que o Supremo tirou a responsabilidade do presidente em relação ao seu papel constitucional, legal, que é o do coordenador do SUS
Deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara
"O Supremo em nenhum momento tirou essa atribuição do governo federal, de forma nenhuma. Acho que a gente tem até um vídeo circulando agora, com as pessoas ligadas ao governo fazendo um vídeo tirando a máscara, quer dizer... No momento em que chega uma segunda onda, o vírus tem levado mais pessoas às UTIs e gerado mais mortes. Veja a desorganização do SUS, que é coordenado pelo governo federal junto com governadores e prefeitos, no caso de Manaus", acrescentou o deputado.
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