Congresso 'coloca a mão em lugar que prima pela ciência', diz Barra Torres
O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o médico e militar Antônio Barra Torres, acusa o Congresso de interferir politicamente no órgão responsável por analisar, autorizar ou negar, o uso de vacinas contra a covid-19 no Brasil.
Em entrevista ao UOL, ele afirma que não se trata de "tentativa", mas de "ação concreta". "O Parlamento está colocando a mão dentro de um lugar que prima pela ciência", disse ele no final da tarde desta quarta-feira (10). Para ele trata-se de "coisa bisonha".
Antônio Barra se refere à aprovação no Congresso de uma Medida Provisória que ordena que a Anvisa autorize, em cinco dias, o uso de vacinas já aprovadas em outros países, incluindo a Rússia, que produz a Sputnik V.
Pode até ser que haja uma questão de sorte muito boa, venha um produto excelente e não dê problema nenhum. Mas pode acontecer o oposto. É razoável um país abolir sua capacidade analítica e partir para jogo de sorte ou azar lidando com vida humana? Não."
Antônio Barra, presidente da Anvisa
Para Antônio Barra, a mudança proposta pelos parlamentares foge da questão técnica num tema ligado à vida humana.
Ele lembrou que muitos o criticaram por sua proximidade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Eu recebia muita crítica: 'Ele foi colocado na Anvisa para que o governo metesse a mão na Anvisa porque ele é amigo do Bolsonaro; Bolsonaro vai falar uma coisa e ele vai fazer'. Isso não se concretizou."
Antônio Barra, presidente da Anvisa
Em outra frente, Barra, que é almirante da Marinha, não se opõe à última indicação do presidente para ocupar uma vaga na diretoria da Anvisa. Bolsonaro indicou o militar Jorge Luiz Kormann, sem formação na área de saúde, para ser sabatinado no Senado. "Se ele é um bom gestor, ele pode somar, sim. A diretoria é uma questão de gestão."
Hoje, dos quatro diretores titulares na Anvisa, apenas um não é profissional de saúde: o advogado Alex Campos. Os outros são médicos ou farmacêuticos. Temporariamente, um servidor da Anvisa ocupa uma vaga de diretor até a chegada do próximo aprovado pelo Senado. Já Kormann "não possui experiência no campo de atividade da agência reguladora", criticou a associação de funcionários da Anvisa (Univisa).
Barros tentou falar com diretor da Anvisa, que não retornou
O líder do governo na Câmara, o ex-ministro da Saúde Ricardo Barros (PP-PR), disse que a Anvisa precisava ser "enquadrada" por causa velocidade na aprovação das vacinas. Na entrevista, Antônio Barra afirma que o gabinete do deputado o procurou mas ele estava ocupado "tentando consertar o que foi dito por ele". Os dois não se falaram desde a semana passada
Ele [Ricardo Barros] tem meu celular e eu tenho o dele"
Antônio Barra, presidente da Anvisa
Segundo Barra, a Anvisa é a agência mais rápida do mundo na autorização de imunizantes. Em seus cálculos, as vacinas CoronaVac do Butantan e da Fiocruz, foram aprovadas em nove dias.
Por isso, ele afirma que não seria possível analisar imunizantes em cinco dias e nem mesmo em 72 h como prevê lei aprovada pelo Congresso em maio do ano passado. Uma liminar do Supremo Tribunal Federal autoriza estados e prefeituras a comprar vacinas caso a Anvisa não cumpra esse prazo definido em lei.
Um dossiê desses... 18 mil folhas em inglês técnico. Tem que ser lido, estudado, os cálculos têm que ser refeitos. Fazer isso em 72 horas ou em cinco dias é impossível."
Antônio Barra, presidente da Anvisa
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