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Pazuello deveria se inspirar na postura do presidente da Anvisa
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O início não foi nada promissor. Em sua primeira aparição como integrante do governo de Jair Bolsonaro, o contra-almirante Antonio Barra Torres surgiu na rampa do Palácio do Planalto ao lado do presidente, sem máscara, saudando manifestantes que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso.
Isso foi em março passado e tudo levava a crer que o atual presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fazia parte do grupo de militares negacionistas que povoam o governo. Gente que acredita em cloroquina no tratamento da covid-19 e desdenha dos epidemiologistas e infectologistas brasileiros, respeitados em todo o mundo.
Quando surgiram as primeiras vacinas, temeu-se que Barra Torres capitulasse diante das pressões de Bolsonaro, que fez de tudo para desacreditar a vacina desenvolvida pela empresa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
Com o jeito durão da caserna, o presidente da Anvisa deu entrevistas para dizer que o critério técnico prevaleceria na avaliação das vacinas.
Muitos duvidaram. Mas foi exatamente o que aconteceu.
Mesmo diante de tantas turbulências, Barra Torres garantiu aos cientistas da Anvisa a tranquilidade necessária para darem conta da tarefa que há décadas a entidade desempenha tão bem.
Transmitido por várias emissoras de TV, o anúncio do resultado da avaliação das vacinas foi exemplar. Os técnicos passaram segurança à população sobre os imunizantes e ainda foram esclarecedores ao destacar que não existe outro tratamento para o coronavirus que não seja a vacina. Cloroquina e ivermectina foram oficialmente descartadas.
Em meio a tantas confusões do governo no combate à pandemia, a postura de Barra Torres foi uma surpresa positiva.
Enquanto o general da ativa que ocupa o Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello, fez tudo errado apenas para seguir a regra de que o presidente manda e ele obedece, o presidente da Anvisa fez o que devia ser feito, de acordo com os critérios técnicos.
Deveria ganhar elogios, mas acaba de receber uma saraivada de críticas do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). Para Barros, a agência de vigilância sanitária está criando dificuldades para a aprovação das vacinas. Não cita a aberta campanha de descredibilização da imunização, feita por Bolsonaro, e as trapalhadas de Pazuello. Essas é que são dificuldades enormes.
Em uma fala agressiva, o deputado prometeu "enquadrar" a Anvisa, para que as análises sejam mais rápidas.
Mais uma vez, Barra Torres tomou a atitude correta. Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, defendeu os servidores da Anvisa e partiu para o ataque.
"Que enquadramento é esse que o deputado se refere? Ele está no dever de formalizar uma denúncia no canal competente ou se retratar. Acho que para ele não tem mais outra saída: Ou ele denuncia ou se retrata", questionou o presidente da Anvisa, ao jornalista Mateus Vargas.
O embate acontece no momento em que o Centrão está mais poderoso que nunca. Por isso, não será surpresa se em algum momento Barra Torres for demitido por enfrentar o principal grupo político de apoio a Bolsonaro. É preciso não esquecer também do regulamento esdrúxulo do presidente, segundo o qual qualquer integrante do governo que for elogiado pela imprensa será excluído.
Se isso vier acontecer, o interesse do país será o grande derrotado. Barra Torres, porém, irá para casa com a consciência de que fez o que devia ser feito.
Por enquanto, ele resiste.
Seu posicionamento deveria inspirar o general Eduardo Pazuello. Como militares, tanto o ministro da Saúde quanto o presidente da Anvisa sabem que ordens absurdas não devem ser obedecidas.
Pazuello parece ter esquecido disso. A conduta de Barra Torres está aí para lembrá-lo.
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