'Como é fácil impor uma ditadura no Brasil', diz Bolsonaro por duas vezes
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, por duas vezes, que é fácil impor uma ditadura no Brasil, ao criticar mais uma vez governadores e prefeitos por adotarem medidas de isolamento social no combate à covid-19. Ele fez questão de ressaltar que é o chefe das Forças Armadas e indicou que pode tomar uma medida extrema (sem dizer qual) "se o povo quiser". O longo discurso foi feito pelo chefe do Executivo durante sua transmissão semanal realizada nas redes sociais, na noite de hoje.
"Lembra daquele vídeo nosso que vazou?! [Vídeo] Que não era par ter vazado, mas o ministro Celso de Mello [do STF] falou que tinha que botar para fora, que eu havia interferido na PF [Polícia Federal]?! Viram primeiro que não havia interferência nenhuma, e, em dado momento, falei aquilo, é espontâneo: 'como é fácil impor uma ditadura no Brasil'. Vou repetir: como é fácil impor uma ditadura no Brasil", disse Bolsonaro, citando a reunião ministerial realizada em abril de 2020 — o vídeo foi tornado público em quase sua integralidade pelo ministro aposentado do STF Celso de Mello. Embora Bolsonaro diga que não interferiu na PF, o inquérito sobre a suposta interferência do presidente no órgão segue em andamento no Supremo.
"Quanto mais atiram em mim, de forma covarde por parte da sociedade, mais estão enfraquecendo quem pode resolver a situação. Como é que posso resolver a situação? Eu tenho que ter apoio. Se eu levantar minha caneta Bic e falar 'Shazam', eu vou ser ditador. Vou ficar sozinho nessa briga? O meu exército que tenho falado o tempo todo é o povo. Sempre digo que eu devo lealdade absoluta ao povo brasileiro, e esse povo está em toda sociedade, inclusive o Exército fardado. A vocês eu devo lealdade, eu faço o que vocês quiserem, porque essa é minha missão como chefe de Estado", afirmou.
Diferentemente de Bolsonaro, entidades científicas defendem as restrições para enfrentar a segunda onda do novo coronavírus. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é do governo federal, quer "medidas mais rigorosas de restrição da circulação e das atividades não essenciais". A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) querem "lockdown em algumas situações críticas e em alguns locais" porque tem "efetividade".
"Sou chefe das Forças Armadas"
Durante o discurso, Bolsonaro indicou que pode tomar alguma medida extrema e destacou que comanda as Forças Armadas no País.
"Repito, eu faço o que o povo quiser. E digo mais: sou o chefe supremo das Forças Armadas. As Forças Armadas acompanham o que está acontecendo. As críticas em cima de generais, não é o momento de fazer isso. Se um general errar, paciência, vai pagar. Se eu errar, eu pago; se alguém da Câmara dos Deputados errar, pague. Se alguém do Supremo errar, um ou dois, que paguem. Agora, essa crítica de esculhambar todo mundo... Nós vivemos um momento de 64 a 85. Você decida aí o que achou daquele período. Pense. Não vou entrar em detalhe aqui", acrescentou, insinuando apoio à época da ditadura militar — sua carreira política é marcado por esse apoio ao período.
O período mais recente da ditadura militar no Brasil ocorreu entre os anos de 1964 e 1985. Com o argumento de evitar a realização de uma ditadura comunista no Brasil, em período de Guerra Fria, as Forças Armadas brasileiras realizaram um golpe de Estado em 31 de março de 1964, que depôs o então presidente João Goulart.
"Eu tenho como garantir a nossa liberdade, eu sou o garantidor da democracia. Tendo em vista a situação que está acontecendo no Brasil, usam o vírus para que? Para te oprimir, humilhar, para tentar quebrar a economia", esbravejou.
Na sequência, repetiu críticas a governadores e prefeitos, em especial João Doria (PSDB), sem citar o nome do governador paulista. Para Bolsonaro, o efeito colateral do lockdown é mais danoso do que o próprio vírus. Ele voltou a apontar os impactos do fechamento das atividades sobre o emprego, tendo como potencial consequência o aumento das tensões sociais.
Ainda durante a live, Bolsonaro disse que está "antevendo um problema sério", mas optou por não explicar qual seria, sob a justificativa de não estimular a violência.
"A pessoa com fome perde a razão, topa tudo. Estamos segurando o Brasil. Estou antevendo um problema sério no Brasil, não quero falar que problemas são esses porque não quero que digam que estou estimulando a violência, mas teremos problemas sérios pela frente", pontuou.
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