Contra impeachment, Alvaro Dias espera que Brasil use inteligência em 2022
O senador Alvaro Dias (Podemos-PR) disse hoje esperar que os brasileiros "usem a inteligência" para escolher um candidato nas próximas eleições presidenciais, em 2022. Crítico do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Dias, no entanto, é contra um impeachment do mandatário, apesar de reconhecer a existência de crimes de responsabilidade.
Alvaro, que em 2001 foi expulso do PSDB após defender a abertura de um processo de impeachment contra o então presidente Fernando Henrique Cardoso, justificou o fato de não ser a favor do julgamento de Bolsonaro porque não haveria "clima político". "Hoje não sou favorável. Nós temos razões, obviamente, para um processo de impeachment. Temos crime de responsabilidade, sim. Principalmente na atuação em relação à pandemia. Mas não temos condições políticas", disse ele no UOL Entrevista, conduzido pelo colunista do UOL Tales Faria.
Impeachment só ocorre quando a população vai às ruas. Hoje não podemos levar a população às ruas porque estaríamos estimulando a morte. Não discuto hoje essa hipótese.
Alvaro Dias, senador da República
Para ele, o diagnóstico do país é pessimista. "O Brasil, hoje, se tornou pária internacional, é um país mal visto lá fora, as atitudes do nosso governo e do Ministério de Relações Exteriores comprometem a nossa imagem, e certamente afasta investidores", disse, afirmando que, apesar da situação, não é hora de jogar a toalha. "Eu ainda acredito no brasileiro. Eu espero que em 2022 ele possa usar sua inteligência e fazer uma boa escolha para que não sejamos vítimas do equívoco histórico que podemos cometer no processo eleitoral", afirmou.
Golpe no Brasil?
O senador criticou declarações dadas recentemente pelo presidente, que falou, mais uma vez, em tom de ameaça, sobre um golpe militar no país. "Ele pode até desejar dar um golpe, mas não alcançará o objetivo. Embora governantes transformem o país numa republiqueta de bananas, é um país continental, que tem instituições solidificadas na história. Não vejo possibilidade".
Para ele, o "resquício de autoritarismo" que prepondera é nocivo aos interesses do povo brasileiro. "Ele [Bolsonaro] pode achar que é fácil, mas certamente não alcançaria esse objetivo se tentasse. Imagino que não tentará, desejo que não tente."
Segundo Dias, Bolsonaro não mudou desde a campanha eleitoral. "Quando ele chega no aeroporto, ainda há populares que o chamam de mito. Ele imagina que esse entorno é o Brasil. Por essa razão o julgamento que faz é que está correto. Outro dia ele disse: 'eu não errei nada até agora'. Imagina se tivesse errado, as profundezas dessa tragédia."
Portas abertas a Sergio Moro
Alvaro Dias voltou a afirmar que apoia a candidatura do ex-juiz Sergio Moro à Presidência e que o Podemos está de portas abertas para a filiação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública.
"Moro não é um político, mas ele já conhece a perversidade da política. Ele está sofrendo as consequências de ter penetrado nessa selva política. Cabe a ele decidir, obviamente. Eu acredito que seria uma valorização da política a presença dele. Uma valorização do processo eleitoral. Tenho a impressão que para o país seria bom, para o debate político seria interessante, e obviamente o partido que o filiasse daria um salto de qualidade, ganharia muita visibilidade, credibilidade, protagonismo", disse.
Fachin e Lula
Conhecido por defender a Operação Lava Jato no Congresso Nacional, Alvaro criticou a anulação dos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que a mudança no sistema judiciário brasileiro só vai acontecer quando se alterar o método de escolha de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
"A verdade é que, enquanto nós mantivermos esse sistema de decisão dos tribunais superiores, nós estaremos sempre discutindo a suspeição dos ministros em cada julgamento. Porque, por mais competente que seja para julgar tecnicamente e correto no julgamento, sempre existirão aqueles que suspeitarão porque houve uma indicação política. Portanto, a mudança começa com a alteração do modelo de escolha dos ministros dos tribunais superiores", disse.
A sugestão do senador é que os próprios magistrados escolham uma lista e o presidente da República escolheria um dos nomes e submeteria ao Senado. "Nessa legislação de mudança também nós determinaríamos a duração do mandato do ministro do STF, certamente nós eliminaríamos essa suspeição de que todo julgamento de ministro é suportado por interesse político de alguém", afirmou.
'Política se tornou samba do crioulo doido'
Na visão de Alvaro Dias, há espaço para uma candidatura de centro nas próximas eleições, que se posicione entre a esquerda, hoje representada por Lula, e a direita, na figura de Bolsonaro.
"Sei que muitos advogam à convergência do centro. Eu não carimbo ninguém de direita, ninguém de esquerda. Porque, sinceramente, a política brasileira se tornou o samba do crioulo doido. É difícil você carimbar alguém de esquerda e vendo alimentar banqueiros, com políticas públicas, que beneficiam poderosos, que ampliam as diferenças sociais, e no entanto são chamados de esquerdistas".
Voto nulo em 2018
O senador também aproveitou para fazer uma "confissão". "Eu vou fazer uma confissão aqui, não peço que sigam como exemplo, não. Eu anulei o voto [no segundo turno das eleições de 2018]. Não podia votar no PT, porque havia combatido o PT por 16 anos, mas não via boa coisa na outra candidatura", afirmou.
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