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Witzel nega defesa de 'tiro na cabecinha' em entrevista: Frase 'nunca dita'

Igor Mello e Anaís Motta

Do UOL, no Rio e em São Paulo

17/03/2021 17h38

Afastado do governo do Rio após responder a processo de impeachment e ser alvo de denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro, Wilson Witzel (PSC) negou que tenha defendido "tiro na cabecinha" de criminosos armados com fuzis. Em diversas oportunidades, Witzel foi questionado sobre a declaração e nunca a havia negado.

Em sua participação no UOL Entrevista, o governador afastado do Rio foi questionado sobre sua política de segurança pública, que resultou no maior número de mortes cometidas por policiais na história do estado em 2019. Em novembro de 2018, dias depois de ser eleito, Witzel defendeu que criminosos portando fuzis fossem mortos sumariamente por policiais, cunhando sua mais célebre frase.

"O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro...", disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

Contudo, agora Witzel afirma nunca ter proferido essa afirmação. "Essa expressão nunca foi dita por mim", alegou.

Durante seu período à frente do Palácio Guanabara, Witzel colecionou declarações em defesa de ação policial violenta. Pregou que os policiais fluminenses fizessem o "abate" de criminosos —chamados por ele de "narcoterroristas"—, comemorou a morte do sequestrador de um ônibus na Ponte Rio-Niterói e saiu em defesa de agentes envolvidos em operações com altos índices de letalidade.

Convertido a uma igreja evangélica, Witzel agora diz que suas polícias nunca foram estimuladas a matar.

Tenho respeito pela vida humana. Mas não é o fato de eu ter me convertido à igreja evangélica que me torna uma pessoa diferente do que eu era em relação ao respeito à vida. Eu sempre respeitei a vida (...) A polícia nunca foi estimulada para matar

Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio

Ele também disse ser "um defensor dos direitos humanos" e ter como projeto de governo "resgatar as pessoas das comunidades que estão trabalhando no tráfico".

"Roubou R$ 18 mi, fez delação e tá solto", diz Witzel sobre ex-secretário que o delatou

Witzel se defendeu das acusações, que o tornaram réu no STJ (Superior Tribunal de Justiça), de que teria comandado um esquema de corrupção na saúde do estado.

Segundo ele, a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) teria se baseado exclusivamente nas declarações de delatores. Em especial de seu ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, que admitiu ter integrado o grupo criminoso e devolveu R$ 8 milhões desviados dos cofres do estado.

Eu fui afastado, mas as máfias não foram afastadas. O Edmar Santos roubou mais de R$ 18 milhões. Fez uma delação, saiu da cadeia, tá solto

Witzel culpa 'máfia da saúde'

Em diversos momentos, Witzel atribuiu seu afastamento do cargo a um complô da "máfia da saúde", a quem ele diz ter enfrentado.

"Quem está incomodando é o governador Wilson Witzel, que era de fora da política, não tem compromisso dessas máfias da saúde, com OS [organização social], não tem compromisso com nenhum tipo de político corrupto."

Eu estava sendo o sujeito que estava incomodando a máfia da saúde. Agora estou afastado, a máfia da saúde continua atuando, porque as OSs que são suspeitas de corrupção continuam atuando

Críticas ao ex-aliado Jair Bolsonaro

Witzel também voltou a fazer críticas à postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução da pandemia de covid-19 e atribuiu a esse fator inclusive falhas ocorridas em seu governo, como o fato de apenas dois dos sete hospitais de campanha previstos terem saído do papel —nenhum deles com a capacidade prevista.

Ele admitiu não ter "acertado 100%" no combate à pandemia, mas disse que sua gestão foi alvo de uma "campanha difamatória" e foi atrapalhada pelo "negacionismo" de deputados bolsonaristas e do governo federal, que "não deu apoio nenhum a nenhum estado da federação".

"Os governadores foram completamente abandonados à sua própria sorte. Não se fez no Brasil aquilo que todo país tem que fazer, que é o controle da pandemia pelo governo federal através de diálogo com governadores. Hospitais de campanha poderiam ter o auxílio das Forças Armadas, não precisaríamos estar batendo cabeça em relação à construção de hospital de campanha", criticou.

Infelizmente esse é o retrato que o governo federal tem hoje. A população, inclusive, está entendendo que o problema da pandemia hoje, na última pesquisa [Datafolha] que saiu, é do desgoverno, que infelizmente é um desgoverno negacionista e que está desestruturando a política de saúde em todos os estados.

Wilson Witzel, governador afastado do Rio