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Ernesto joga cortina de fumaça para ofuscar incompetência, diz Kátia Abreu

Em entrevista à GloboNews, Kátia Abreu disse esperar que Bolsonaro coloque no Itamaraty alguém com "mais responsabilidade" que Ernesto - Moreira Mariz/Senado
Em entrevista à GloboNews, Kátia Abreu disse esperar que Bolsonaro coloque no Itamaraty alguém com 'mais responsabilidade' que Ernesto Imagem: Moreira Mariz/Senado

Do UOL, em São Paulo

29/03/2021 11h21Atualizada em 29/03/2021 11h34

A senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, criticou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que, ontem, a alfinetou em uma postagem no Twitter.

"Só posso imaginar desespero desse cidadão, que ainda se chama de chanceler, por sua possível saída do posto [de ministro] por falta de competência", disse Kátia Abreu em entrevista à GloboNews.

Pressionado pelo Senado para sair do comando do Itamaraty, Ernesto revelou ontem que teve uma conversa com Kátia Abreu a respeito das negociações para a implementação do 5G no Brasil, relacionando a atuação da senadora com um suposto lobby a favor da China.

"[Ernesto] jogou cortina de fumaça para ofuscar [sua] possível saída por incompetência, para que possa ficar bem na fita", acrescentou, afirmando esperar que, caso o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mude o comando do Itamaraty, não troque "Ernesto por Ernesto".

"Esperamos um chanceler que tenha responsabilidade, experiência, conhecimento da diplomacia para trazer resultados para Brasil. Ernesto por Ernesto não dá", continuou.

Conversas reveladas

Segundo o relatado por Ernesto no Twitter, no início do mês, em 4 de março, Kátia Abreu o encontrou no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, onde tiveram uma "conversa cortês".

"Pouco ou nada [se] falou de vacinas. No final, à mesa, [Kátia] disse: 'ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado'. Não fiz gesto algum", acrescentou.

"Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria", finalizou.

Em nota emitida ontem, a senadora confirmou a conversa com Ernesto no início do mês, mas disse que "é uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade".

Durante a entrevista concedida hoje à GloboNews, Kátia Abreu disse que a conversa que teve com o chefe do Itamaraty foi para tratar de duas coisas: sobre a Amazônia e as vacinas contra a covid-19 — com este último tópico se relacionando ao leilão do 5G.

Segundo Kátia, a questão da Amazônia foi levantada porque o desmatamento "ia impedir acordo do Mercosul (Mercado Comum do Sul) com a UE (União Europeia)". "Precisava mudar a narrativa", afirmou.

Já o tópico dos imunizantes foi levantado porque "a proposta do 5G iria excluir a participação da China". "Fiquei preocupada com a reação chinesa em relação às vacinas. Poderíamos ter uma reação muito dura", continuou.

"Disse a ele (Ernesto) que esse período agora é como se fosse o primeiro turno para Bolsonaro: era crucial para um candidato à reeleição. Mesmo [eu] não tendo nenhuma relação com Bolsonaro, queria expor consequências", finalizou.

Reação e pressão contra Bolsonaro

Logo após a postagem de Ernesto, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse, também pelo Twitter, que a tentativa do ministro de "desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge" toda a Casa.

Três senadores — Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Leila Barros (PSB-DF) — estão articulando um pedido de impeachment contra Ernesto, argumentando que o Itamaraty tem sido falho ao lidar com a aquisição de vacinas no exterior.

A pressão pela saída de Ernesto do governo Bolsonaro tem ganhado corpo desde a última quarta-feira (24), quando, em audiência no Senado, Ernesto foi cobrado pelos membros da Casa, que consideram a atual política diplomática brasileira prejudicial na luta contra a covid-19.

Antes de oficializar a demissão de Ernesto Araújo, Bolsonaro tem buscado uma saída honrosa ao hoje ministro, ao mesmo tempo em que é rondado por senadores que buscam emplacar um sucessor.

Na última sexta-feira (26), prefeitos se juntaram ao coro dos senadores, cobrando a demissão do Ernesto devido à postura contrária do ministro ao ingresso do Brasil no Covax Facility, consórcio para distribuição de vacinas, revelada pela coluna do Guilherme Amado, da Época.