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'Vou juntar todas as mentiras ditas na CPI no relatório final', diz Renan

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid - Adriano Machado/Reuters
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

19/05/2021 15h14Atualizada em 19/05/2021 15h15

O relator da CPI da Covid Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou hoje que vai "juntar todas as mentiras ditas no relatório final". Em entrevista à CNN, ele citou o depoimento do ex-secretário de comunicação do governo federal, Fabio Wajngarten.

"Como relator, vou juntar essas mentiras todas, comprová-las e elas farão parte do relatório final", disse ele. "Nós mandaremos [o documento] para o Ministério Público para processar essas pessoas e, se for o caso, condenar".

"No caso do Wajngarten, o presidente [da CPI, Omar Aziz] propôs uma decisão alternativa, atravessar uma petição e mandar os documentos rapidamente para o MP". A alternativa foi proposta porque, no dia do depoimento de Wajngarten, Renan ameaçou pedir a prisão do ex-secretário.

Renan Calheiros é o relator da CPI e fica responsável por acompanhar todo o trabalho da comissão e escrever o relatório sobre os resultados das apurações, que é apresentado ao fim da CPI para aprovação dos membros.

Apresentado o texto e voto do relator, se a maioria dos membros estiver de acordo, o relatório se torna um parecer, que pode ser pela aprovação total ou parcial da matéria analisada, rejeição, arquivamento ou apresentação de algum projeto ou orientação sobre o assunto.

Hoje, a CPI da Covid ouve depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello. A declaração do relator Renan Calheiros foi dada durante intervalo da audiência. Até o momento, Pazuello respondeu a todas as perguntas dos senadores apesar de habeas corpus que o permitia ficar em silêncio.

Embate com Pazuello

Mesmo respondendo aos questionamentos, a postura de Pazuello irritou Renan e levou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a dar uma bronca.

O relator reclamou diversas vezes ao alegar que Pazuello agia com prolixidade e não oferecia respostas objetivas.

Em dado momento, depois de uma pergunta sobre a condução das negociações com a Pfizer, o ex-ministro —que é general da ativa do Exército e conhecido por ter pavio curto— reagiu: "Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa", respondeu o militar, ao ser confrontado com a tese de que ele não teria assumido "protagonismo" no diálogo com a farmacêutica.

"Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o Ministro. Se o Ministro... Jamais deve receber uma empresa, o senhor deveria saber disso."

A fala de Pazuello foi classificada por parlamentares da oposição como "provocação" e "desrespeito". "Vou responder novamente: as respostas foram respondidas inúmeras vezes na negociação. Nós nunca fechamos a porta. Queremos comprar a Pfizer o tempo todo. O senhor me desculpe, eu acho que o senhor [em referência a Renan] está conduzindo a conversa", emendou o ex-ministro.

Aziz então o repreendeu: "Não faça isso. (...) Vossa excelência não tem que dar opinião sobre pergunta de senador."

Pazuello omitiu e distorceu fatos

Aos senadores, Pazuello omitiu e distorceu fatos sobre a negociação de vacinas para a covid-19, a eficácia do atendimento do SUS durante a pandemia e o teor de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o combate ao coronavírus.

Pazuello omitiu os acordos inicialmente não fechados pelo governo federal para a compra de doses da Coronavac e da Pfizer; afirmou que o SUS cuidou de "todos os cidadãos", quando houve inúmeras notícias sobre UTIs lotadas, falta de oxigênio e escassez de medicamentos; e distorceu a decisão do STF que definiu competência compartilhada entre União, estados e municípios para ações de combate à pandemia.

A presença de Pazuello na CPI da Covid era a mais aguardada pelos senadores da CPI, em especial pelos que formam o bloco de oposição ao governo. O depoimento estava originalmente marcado para o início de maio, mas foi adiado porque o militar disse ter tido contato com pessoas infectadas pelo coronavírus e, portanto, deveria ficar em isolamento.

Pazuello foi o ministro da Saúde que mais tempo ficou no cargo no governo —cerca de dez meses— e é visto por senadores independentes e oposicionistas como o mais subserviente a Bolsonaro, com discurso de tom negacionista.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.