CPI da Covid: Guerra de plaquinhas ilustra embate entre oposição e governo
Plaquinhas com números da pandemia se tornaram marca da CPI da Covid, no Senado Federal, instalada para investigar se houve erros da gestão federal durante a crise sanitária e atos de corrupção em estados e municípios.
O artifício foi lançado originalmente pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, Renan Calheiros (MDB-AL), opositor à gestão de Jair Bolsonaro (sem partido). No lugar de seu nome na plaquinha de identificação, ele passou a enumerar os mortos pela covid-19 no país ao longo das reuniões como forma de criticar o governo federal.
Por ser relator e se sentar numa mesa elevada da cúpula da CPI, Renan costuma aparecer mais do que a maioria dos senadores nas transmissões dos depoimentos. Consequentemente, sua plaquinha também.
Após bate-bocas por causa da medida, aliados do presidente da República passaram a responder na mesma moeda, mas mostrando o número de pacientes curados da covid-19.
Na audiência realizada hoje, na qual prestou depoimento o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, houve plaquinhas de parte a parte.
À frente do vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues, um dos líderes da oposição, havia um cartaz de identificação que, em vez do nome do parlamentar, exibia o número de vítimas desde o início da pandemia do coronavírus: 454.623 mortos.
Já o gaúcho Luis Carlos Heinze (Progressistas), uma das vozes da "tropa de choque" bolsonarista, reagiu com uma plaquinha que mostra o número de "vidas salvas" —em referência aos brasileiros que se recuperaram da covid-19. Seriam pouco mais de 14,7 milhões de pessoas.
Fora do plenário da CPI da Covid, a moda das plaquinhas também já se faz presente. Durante o expediente na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) expôs dessa mesma forma números que, segundo a parlamentar, se referem a inquéritos e processos contra Renan Calheiros.
Depoimento de Dimas Covas
Renan Calheiros disse hoje considerar que o depoimento de Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, contradiz os dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.
Em documento, Calheiros cita o momento em que Covas relatou a existência de um acerto informal, ainda em 2020, entre o Butantan e Ministério da Saúde para que o instituto entregasse 100 milhões de doses da vacina CoronaVac.
As negociações esfriaram, segundo o diretor, após o presidente Jair Bolsonaro dizer que "toda e qualquer vacina está descartada", em outubro daquele ano. O contrato entre o governo federal e o Butantan só seria assinado em janeiro de 2021, em condições diferentes das propostas anteriormente.
"O depoente [Covas] contradiz Pazuello, que afirmou: 'Acreditem, nunca o presidente da República me mandou desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan — em nenhuma vez'. (...) O depoente contradiz Pazuello, que afirmou que já teria assinado o protocolo de intenções com o Butantan, e que esse acordo não havia sido desfeito", apontou o senador.
Dimas Covas, continuou Calheiros, ainda contradisse o ex-ministro da Saúde ao afirmar que as declarações de Bolsonaro atrasaram, sim, a compra de vacinas contra a covid-19.
"Prova disso foi a assinatura do contrato do Ministério da Saúde com a AstraZeneca em agosto de 2020 e, com o Butantan, em janeiro de 2021", acrescentou.
Em outro trecho do documento, o relator da CPI faz menção à declaração de Covas de que os posicionamentos de autoridades brasileiras acabam repercutindo na imprensa chinesa e podem, como consequência, atrapalhar as tratativas pelas vacinas.
"Cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente, isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês", afirmou o diretor do Butantan à CPI.
Esta fala, de acordo com o senador, contradiz os depoimentos de Araújo e Wajngarten.
"[Dimas Covas] Contradiz Pazuello, Ernesto Araújo e Fabio Wajngarten ao afirmarem que as relações com a China sempre foram salutares e não teriam sofrido impactos negativos por conta das atitudes do governo federal e de declarações do presidente da República", avaliou Calheiros.
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