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Dimas Covas contradiz Pazuello, Araújo e Wajngarten, diz relator da CPI

Anaís Motta e Luciana Amaral

Do UOL, em São Paulo e Brasília

27/05/2021 15h24Atualizada em 27/05/2021 16h24

Relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse considerar que o depoimento de hoje de Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, contradiz os dos ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten.

Em documento, Calheiros cita o momento em que Covas relatou a existência de um acerto informal, ainda em 2020, entre o Butantan e Ministério da Saúde para que o instituto entregasse 100 milhões de doses da vacina CoronaVac. As negociações esfriaram, segundo o diretor, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que "toda e qualquer vacina está descartada", em outubro daquele ano.

O contrato entre o governo federal e o Butantan só seria assinado em janeiro de 2021, em condições diferentes das propostas anteriormente.

"O depoente [Covas] contradiz Pazuello, que afirmou: 'Acreditem, nunca o presidente da República me mandou desfazer qualquer contrato, qualquer acordo com o Butantan — em nenhuma vez'. (...) O depoente contradiz Pazuello, que afirmou que já teria assinado o protocolo de intenções com o Butantan, e que esse acordo não havia sido desfeito", apontou o senador.

Dimas Covas, continuou Calheiros, ainda contradisse o ex-ministro da Saúde ao afirmar que as declarações de Bolsonaro atrasaram, sim, a compra de vacinas contra a covid-19. "Prova disso foi a assinatura do contrato do Ministério da Saúde com a AstraZeneca em agosto de 2020 e, com o Butantan, em janeiro de 2021", acrescentou.

Em outro trecho do documento, o relator da CPI faz menção à declaração de Covas de que os posicionamentos de autoridades brasileiras acabam repercutindo na imprensa chinesa e podem, como consequência, atrapalhar as tratativas pelas vacinas (veja no vídeo abaixo).

"Cada declaração que ocorre aqui no Brasil repercute na imprensa da China. As pessoas da China têm grande orgulho da contribuição que a China dá ao mundo neste momento. Então, obviamente, isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias, e hoje demoram mais de mês", afirmou o diretor do Butantan à CPI.

Esta fala, de acordo com o senador, contradiz os depoimentos de Araújo e Wajngarten.

"[Dimas Covas] Contradiz Pazuello, Ernesto Araújo e Fabio Wajngarten ao afirmarem que as relações com a China sempre foram salutares e não teriam sofrido impactos negativos por conta das atitudes do governo federal e de declarações do presidente da República", avaliou Calheiros.

Integrantes do governo federal ouvidos na CPI têm insistido que suas declarações sobre a China não tiveram impacto sobre a obtenção de insumos para o combate a covid-19, notadamente da vacina. Os fatos trazidos pelo dr. Dimas Covas mostram que, ao contrário, a campanha difamatória produzida pelo presidente da República criou uma imagem ruim e indevida sobre a CoronaVac.
Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI

*Com Ana Carla Bermúdez, colaboração para o UOL

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.