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Fiz inimigos como vereador e estou tranquilo sobre denúncias, diz Nunes

Andréia Martins, Allan Brito e Gabriel Toueg

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

08/06/2021 10h34Atualizada em 09/06/2021 17h10

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse hoje que está tranquilo sobre a investigação da Polícia Civil por suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro desviado da Prefeitura da capital no período em que foi vereador. As evidências foram levantadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

"Estou tranquilo e não procurei [saber] essa situação. O que ouvi foi pela imprensa. Alguém pegou meu documento. É um documento sigiloso de qualquer cidadão. Eu fiz um trabalho como vereador e criei muitos inimigos", disse Nunes ao participar do UOL Entrevista, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e pelo repórter Lucas Borges Teixeira. "Até agora não fui notificado e não tive tempo ainda de verificar esse processo com meu advogado", completou o prefeito.

Nunes afirmou que pode haver relação entre as denúncias e sua atuação como vereador na capital paulista. Ele foi eleito para o cargo por duas vezes, em 2012 e 2016.

"Pega a CPI do Theatro Municipal. Eu pedi indiciamento de 22 pessoas. Na CPI da Sonegação, mais de cem indiciamentos. Na defesa da cidade, construí inimigos. A denúncia anônima aconteceu bem no meio da CPI de Sonegação. Seria leviano afirmar isso, mas não posso ser ingênuo. Quando [alguém] tem posições mais firmes na defesa da cidade, vai colecionando inimigos, que são inimigos da cidade. Nunca tive problema algum de enfrentar inimigos da cidade", afirmou ele.

Segundo o prefeito, a denúncia anônima foi feita em 2019 alegando que, quando vereador, ele havia beneficiado uma entidade com a promulgação de duas leis. Nunes nega.

"O Ministério Público fez uma investigação profunda, quebrou sigilos, por mais de um ano, e semana atrás o promotor José Carlos, que fez uma devassa na minha vida —e não é reclamação, ele fez o trabalho dele bem feito—, o despacho dele é que não tem indício de irregularidade", afirmou.

Nunes diz que mulher não fez B.O. por agressão

Tema polêmico durante a campanha de reeleição de Bruno Covas (PSDB) no ano passado para a Prefeitura de São Paulo, Nunes voltou a negar que tenha agredido a mulher e que ela tenha feito um boletim de ocorrência (B.O.) contra ele. Segundo o prefeito, que era vice de Covas, o boletim não existe.

"Antes de tudo, a gente precisa lembrar que foi momento eleitoral. Minha esposa, passada a eleição, contratou advogado e peticionou [o documento] junto à delegacia. Todo documento fica arquivado por pelo menos 20 anos. Dizem que isso teria ocorrido em 2011. Ele peticionou e a resposta é que não tem esse documento lá", disse Nunes.

O prefeito afirmou que "jamais agrediria ninguém, muito menos a mulher da minha vida". "Isso está superado e é coisa de campanha eleitoral. Pessoas podem ter certeza de que jamais faria isso", afirmou.

Greve de garis

Ao falar sobre a greve de trabalhadores da limpeza urbana de São Paulo, que suspenderam hoje a coleta de lixo, o prefeito disse que só teve confirmação da paralisação às 6 horas de hoje. "É muito preocupante, imagine se toda categoria fizer greve por vacina", disse. Os garis paralisaram a coleta e organizaram um protesto em frente ao prédio da Prefeitura para pedir que os trabalhadores do setor sejam vacinados contra a covid-19.

Nunes defendeu os critérios do PNI (Programa Nacional de Imunização) para a aplicação das vacinas e disse que a prefeitura mantém diálogo com os garis. "Não houve comunicação, como determina a legislação, com 72 horas de antecedência. Estamos dialogando e esperamos que o serviço seja retomado durante o dia", afirmou.

Vacinação de grupos de risco

O prefeito também defendeu o time de Saúde da cidade e disse que a população pode ter orgulho desses profissionais. "O que podemos alterar no PNI, alteramos", afirmou, exemplificando o caso de gestantes, que foram orientadas a não tomar as vacinas "porque identificamos número alto de óbitos". Segundo Nunes, a cidade "tem uma logística muito grande, mais de 600 postos de vacinação".

Ele disse que o que compete à prefeitura é "ter agilidade, dar capacidade de transporte ou, como nesse sábado (5), quando tinha mais de 197 mil pessoas sem a segunda (dose) da vacinação, a gente fez uma grande campanha ligando para residências e conseguimos diminuir pela metade esse número".

Segundo o prefeito, "se o governo federal tivesse antecipado a compra de vacinas, [a prefeitura] estaria vacinando [os trabalhadores de limpeza]". "No começo do ano, o Covas [então prefeito, que morreu em 16 de maio] fez carta de intenção para compra de vacinas da Pfizer, Janssen, AstraZeneca", revelou Nunes. "Mas não temos comprado porque esses fabricantes querem vender para o Ministério da Saúde antes de vender para São Paulo". Segundo ele, "se amanhã tiver vacina disponível, a gente compra. A vacina salva vidas".

"As ações que a prefeitura tem feito são baseadas nas categorias de maior risco", explicou Nunes. "Fiquei muito feliz por iniciar, na segunda-feira (7), todas as categorias com comorbidades e também gestantes e puérperas", disse. "O ideal seria vacinar todos, mas dentro das possibilidades desses critérios [do PNI], entendo que foi uma decisão acertada dos técnicos da saúde".

Legado de Covas

Eleito na chapa de Bruno Covas, Nunes disse que dará continuidade à gestão do ex-prefeito. "Não tem mudança prevista de secretários", afirmou, ao lembrar que montou o secretariado "junto com o Bruno". "São secretários preparados, é a gestão Bruno Covas".

O prefeito disse, entretanto, que se houver secretários que não cumprirem as metas, não vai aceitar. E prometeu "cumprir metas ou, se possível, ultrapassar". Nunes disse que tem um "diálogo aberto" com os secretários. "Tenho interação bacana, ritmo acelerado, trabalhando até tarde e a única coisa [que pode influenciar uma mudança nos nomes] é se, eventualmente, algum deles não cumprir metas".

Ao ser questionado pela apresentadora Fabíola Cidral sobre qual política traz a São Paulo, Nunes disse que fará "a política que vai cuidar da cidade" e disse que a prefeitura tem uma relação boa com o governo federal e estadual.

Planos para SP

Nunes comentou alguns dos planos para a cidade. Segundo ele, o Novo Vale do Anhangabaú, cuja entrega estava prevista para setembro do ano passado, está pronto. "Está absolutamente pronto, faz parte do nosso grande plano de recuperação do centro", disse. "Fizemos chamamento para concessão. Uma empresa ganhou e fez oferta de R$ 6 milhões de outorga e percentual sobre atividades, mas alegou que queria prorrogar a decisão, o que seria normal, mas se recusou a pagar a outorga", explicou o prefeito. "Se tivesse pagado outorga, a gente ia discutir o contrato, mas se recusaram, entraram com recurso", disse. Nunes anunciou que a prefeitura está fazendo um chamamento de uma segunda empresa.

Ele também sobre parcerias público-privadas (PPP) ao comentar os planos para a Arena Anhembi. "A cidade de São Paulo é a primeira colocada em PPP, tem mais que o governo federal, estamos avançando bem nessa área", disse. Ele chamou a concessão do espaço na Marginal Tietê de "grande avanço". "Vamos ter o maior espaço de exposições da América Latina, deixando a prefeitura sem custos. A gente acabou perdendo eventos do Anhembi pro centro da imigrantes porque aqui tinha que fazer aditivo de contrato". Segundo ele, a iniciativa privada tem "mais dinâmica".

Ao ser questionado pelo repórter Lucas Borges sobre a votação do Plano Diretor da cidade, Nunes lembrou que a lei obriga sua revisão em 2021, mas reconheceu que dificilmente será votado ainda este ano. "É necessário fazer discussão com todos setores", disse o prefeito. "Não mandamos para a Câmara ainda, estamos nesse processo de discussão. Lá para novembro ou dezembro vai ser elaborado o projeto e enviado para a Câmara fazer os debates. Muito dificilmente será votado neste ano. Pode ser que sim, mas é um tema que requer bastante diálogo com a sociedade.

O prefeito, entretanto, acredita que a pandemia não é desculpa para adiar o tema. "É possível escutar a sociedade, ter críticas e contribuições de forma virtual. Não vejo que, por conta da pandemia, não se possa ouvir a sociedade", disse.