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Elcio diz não ter havido discussão sobre imunidade de rebanho na Saúde

Thaís Augusto, Lucas Valença e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo e Brasília

09/06/2021 13h18Atualizada em 09/06/2021 14h24

O coronel Antônio Elcio Franco Filho, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, declarou hoje, em depoimento à CPI da Covid, que nunca houve qualquer discussão dentro da pasta sobre a tese de imunização de rebanho.

A teoria de que a população ficaria imune ao coronavírus depois de uma contaminação em massa, processo por meio do qual as pessoas criariam naturalmente anticorpos contra a doença, é duramente criticada por cientistas e pela comunidade acadêmica em geral.

A ideia foi exaltada publicamente por alguns aliados do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) —que também prestará depoimento à comissão.

"Nunca se discutiu, na área técnica do ministério, entre os secretários, com o ministro, essa ideia de imunidade de rebanho a que o senhor se referiu. Então, nós não visualizávamos isso. Tínhamos a noção da gravidade da pandemia. E, assim como a influenza, a gente imaginava que teríamos que ter campanhas anuais de vacinação", disse Franco Filho, que era o braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello durante o período de sua gestão (maio de 2020 a março de 2021).

Nos primeiros meses de pandemia, Bolsonaro chegou a endossar a tese da imunização de rebanho. O discurso, no entanto, ficou em segundo plano e perdeu espaço para a defesa enfática do uso de medicamentos como a hidroxicloroquina (que não tem eficácia comprovada no tratamento da covid).

Na última sexta-feira (4), vídeos revelados pelo portal Metrópolis mostram o chamado "gabinete paralelo" —núcleo informal e sem vínculo com o Ministério da Saúde— em atuação durante a pandemia.

Segundo membros da CPI que são críticos ao governo, esse grupo —formado por Osmar Terra, pela médica Nise Yamaguchi, pelo ex-assessor Arthur Weintraub, entre outros— orientavam Bolsonaro em relação a questões relacionadas ao enfrentamento à covid. Um dos principais pontos de interesse era o chamado "tratamento precoce" —nome criado na tentativa de se esquivar da polêmica quanto ao incentivo público à cloroquina/hidroxicloroquina.

Defesa da imunidade de rebanho

Uma das linhas de investigação da CPI da Covid no Senado é a defesa por parte de membros do governo Bolsonaro de teorias classificadas como "negacionistas" ou que se opõem às premissas científicas.

Na avaliação de opositores, um discurso do presidente Jair Bolsonaro em um evento, em outubro do ano passado, no Palácio do Planalto, reforça a suspeita de que o governo teria trabalhado com a tese da imunização de rebanho como uma alternativa de política pública.

No vídeo, Bolsonaro reclama do preço das vacinas, além de dizer que quem já tinha contraído a doença não precisaria se vacinar. "A vacina contra a covid, como cabe ao Ministério da Saúde definir essa questão, e já foi definida, ela não será obrigatória", afirmou ele.

Depois, continuou: "Isso não é a toque de caixa, nem de uma hora para a outra; e nós sabemos que muita gente contraiu (covid-19) e nem sabe que contraiu, já está imunizado; vão obrigar essa pessoa a tomar essa vacina? Que inclusive por parte dessa fonte custa mais de 10 dólares, por outro lado, o nosso lado custa menos de quatro".

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.