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Quem foi Jim Jones, comparado a Bolsonaro por Renan na CPI da Covid

Gabriel Toueg

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/06/2021 14h02Atualizada em 11/06/2021 15h01

Durante a sessão de hoje da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, comparou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao pregador religioso extremista norte-americano Jim Jones.

"Nós temos um Jim Jones na Presidência da República", disse Renan. "A diferença para o americano é que o americano induziu ao suicídio e o que está na Presidência da República do Brasil induz à continuidade dessa tragédia e desse morticínio". Segundo o senador, "isso não pode continuar a acontecer".

Mas quem foi Jim Jones? Líder da seita fundamentalista Templo dos Povos, Jones foi responsável pelo que é considerado o maior suicídio em massa da história. Em novembro de 1978, mais de 900 seguidores de Jones tomaram cianeto misturado com suco, sob ordens do reverendo. Alguns dos fiéis foram mortos a tiros e facadas. Entre os mortos havia 276 crianças.

A tragédia coletiva começou um ano antes, em 1977, quando Jones fundou um vilarejo na Guiana, próximo à fronteira com a Venezuela, batizado com seu nome: Jonestown. Ele conseguiu atrair centenas de fiéis para o local, em que ocorriam, segundo relatos, abusos físicos, psicológicos e sexuais.

Com ares messiânicos, Jones tinha 25 anos quando fundou o Templo dos Povos, em 1956, no estado norte-americano de Indiana, após se impressionar com a popularidade de cultos da Igreja Metodista. Foi a partir daquele ano que ele começou a coordenar grandes aglomerações ao redor de si fazendo pregações apocalípticas. O pastor dizia ser a reencarnação de Gandhi, Jesus, Buda e Lenin.

O desfecho trágico, como foi depois contado por sobreviventes, foi forçado por Jones depois que oito fiéis fugiram do local. O congressista norte-americano Leo Ryan chegou a ir ao local para investigar acusações de abusos. Mas Ryan e outros integrantes da delegação acabariam assassinados.

Jones dizia que a morte era melhor do que "mais dez dias desta vida". Por alto-falantes no vilarejo, o pastor clamava as pessoas a se matarem, dizendo "Não me importo de quantos gritos vocês tenham que ouvir, não importa quanto choro agonizante. A morte é um milhão de vezes melhor que mais dez dias desta vida. Se vocês soubessem o que está adiante de vocês, ficariam felizes de estarem partindo esta noite".

Drogas, América do Sul e culto à morte

A comparação feita pelo relator da CPI da Covid, entretanto, não é inédita. Em abril de 2020, o articulista David Nemer publicou na revista Salon um artigo em que questionava: "Jair Bolsonaro, presidente de extrema-direita do Brasil, é o novo Jim Jones?". Publicado no início da pandemia, o artigo dizia que o líder brasileiro "usa uma retórica de culto à morte, ignora especialistas em saúde e se recusa a lutar contra uma pandemia evitável".

Especializado em antropologia da tecnologia, Nemer é professor-assistente de estudos de mídia na Universidade da Virgínia. No texto, ele compara o negacionismo de Bolsonaro frente à pandemia com a tragédia em Jonestown. "Um país sul-americano, um líder religioso, uma droga e as mortes de milhares de seguidores fanáticos podem soar como a trágica história do massacre de Jonestown. Mas esses detalhes também podem servir como introdução a outro capítulo devastador do governo do presidente Jair Bolsonaro, enquanto ele conduz o Brasil ao caos em meio à pandemia do coronavírus", escreveu.

"Os paralelos assustadores entre o reverendo Jim Jones e Bolsonaro lembram o velho ditado de que a história se repete - primeiro como tragédia, depois como farsa", criticava o autor. Nemer também comparava o cianeto de Jonestown à cloroquina e a terminologia usada por Jones e por Bolsonaro. "Pouco antes de Jones decretar o suicídio em massa, ele disse aos seguidores para 'pararem com essa histeria', usando a mesma terminologia que Bolsonaro invoca para atacar medidas preventivas contra o coronavírus."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.