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Renan recusa questionar médicos pró-cloroquina e bate boca com governista

Do UOL, em São Paulo

18/06/2021 11h03Atualizada em 18/06/2021 18h27

Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Luis Carlos Heinze (PP-RS) discutiram hoje na CPI da Covid após Renan se recusar a questionar os médicos Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Eduardo Cardoso Alves, que são defensores do chamado "tratamento precoce", sem eficácia contra a covid-19.

A decisão de Renan foi influenciada após o que ele classificou como "escárnio" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ontem, em live divulgada nas redes sociais, Bolsonaro voltou a defender a imunidade de rebanho e disse que teria imunidade natural após contrair o vírus no ano passado.

"Em função desse escárnio, me recuso a fazer hoje qualquer pergunta aos depoentes, com todo o respeito. Não dá para continuar nessa situação, a CPI tem o papel de dissuadir práticas criminosas como essa do Presidente da República e ele continua a fazê-lo em desrespeito a uma instituição da república, que é a CPI", disse o relator.

"Isso não pode continuar, nós chegaremos no sábado, provavelmente, a meio milhão de mortes pela covid no Brasil e ainda continuamos a ouvir esse tipo de irresponsabilidade, impunidade? Quer dizer, chega, precisamos dar um basta nisso tudo".

Nas redes sociais, o emedebista acrescentou, em tom de ironia. "Sobre minha decisão de não inquirir quem defende a cloroquina como cura para a covid-19: eu também não interrogaria um astrônomo sobre se a Terra é plana. É o mesmo critério", escreveu ele.

O senador Heinze rebateu dizendo lamentar a atitude do senador Renan Calheiros. "São dois pesos e duas medidas. Aqui tem cientistas, médicos que trataram centenas, milhares de pacientes. A doutora Luana Araújo e Natalia Pasternak não trataram nenhum paciente. Esses dois senhores aqui [Zimerman e Francisco Alves] são pesquisadores com trabalhos publicados, estão descobrindo tratamento nesse instante para pacientes terminais", argumentou.

Leia o restante da discussão na íntegra:

Renan Calheiros: Eu não tenho que perguntar.

Heinze: Não tem porque não lhe interesse, 16 milhões de vidas que essa gente salvou [médicos Zimerman e Francisco Alves].

Renan Calheiros: Foram salvos pelo tratamento precoce e imunidade natural?

Heinze: Esqueça a imunização natural, o tratamento precoce que Vossa Excelência e outros aqui demonizam salvou vidas no Brasil e no mundo.

Renan Calheiros: O que Vossa Excelência está fazendo aqui é deprimente...

Heinze: O senhor não é um promotor para condenar o tratamento ou as pessoas no Brasil. Eu quero que o senhor questione [os médicos] sobre a pesquisa de Manaus, sobre outras pesquisas que querem fazer, questionem, vocês têm a oportunidade. Deprimente, senador Renan, é o senhor não querer falar.

Em seguida, Renan se retirou da sala.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO) também fez duras críticas à ausência de Renan. "O relator e os membros da oposição, deliberadamente, se ausentaram para não ouvi-los [médicos pró-cloroquina]. A ausência nessa CPI, que desde o começo tem pré-julgado, tem uma sentença embaixo do braço, desqualifica ainda mais o relator e esses membros e vai desqualificar o relatório quando for apresentado porque para emitir um juízo de valor tem que colher provas, analisar, submetê-las ao contraditório, mas quando optam por agir como agiram perde-se a imparcialidade".

O senador ressaltou que "negar o exame de quaisquer provas é nulificar o trabalho investigativo".

"A tentativa deles [oposição] de obstruir o depoimento dos convidados não pode ser feita em investigação de qualquer natureza."

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.