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Suspeito de pedir propina por vacina foi indicado à Anvisa por Bolsonaro

Roberto Dias foi exonerado do Ministério da Saúde - Anderson Riedel/PR
Roberto Dias foi exonerado do Ministério da Saúde Imagem: Anderson Riedel/PR

Do UOL, em São Paulo

29/06/2021 23h52Atualizada em 30/06/2021 02h59

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou indicar o nome de Roberto Ferreira Dias, suspeito de pedir propina para compra de vacinas, para o cargo de diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em outubro de 2020. Diretor de Logística do Ministério da Saúde, Ferreira Dias será exonerado do cargo, segundo informou a pasta, após reportagem da Folha de S.Paulo sobre a acusação de que ele teria cobrado propina.

Em 19 de outubro de 2020, o nome de Ferreira Dias chegou a ser publicado no Diário Oficial da União, para que fosse apreciado no Senado para o cargo de diretor da Anvisa. Bolsonaro, no entanto, solicitou que o Senado desconsiderasse a indicação, depois que o servidor foi acusado de assinar um outro contrato suspeito de irregularidades, também na área da Saúde.

Segundo reportagem do Congresso em Foco, parceiro do UOL, o próprio Ministério da Saúde avisou o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre possíveis irregularidades no contrato.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada hoje, Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply, empresa que tentou negociar com o governo de Jair Bolsonaro a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, acusou Ferreira Dias de cobrar a propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde.

Segundo a reportagem, a suposta cobrança de propina ocorreu em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, no dia 25 de fevereiro.

Indicado por líder do governo na Câmara

Roberto Ferreira Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Sua nomeação ocorreu em 8 de janeiro de 2019, na gestão do próprio ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM).

De acordo com o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), o presidente Jair Bolsonaro associou Barros às irregularidades identificadas na negociação pela compra das vacinas Covaxin. O servidor do Ministério da Saúde responsável pelas importações e que levantou suspeitas sobre as negociações é Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado denunciante.

Inicialmente, a Davati negociou cada dose do imunizante ao preço de US$ 3,5 por cada; depois passou a US$ 15,5.

O caminho do que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias foi uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa Dominguetti, em entrevista à Folha

Servidor será exonerado, diz Saúde

Após a publicação da reportagem, o Ministério da Saúde informou que Roberto Dias, diretor de Logística da pasta, será exonerado do cargo. Segundo o comunicado, a decisão sairá no Diário Oficial da União de amanhã.

Ainda de acordo com o ministério, a decisão foi tomada na manhã de hoje, antes da denúncia contra Dias vir à tona.