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Oposição diz que Wizard 'amarelou' e governistas destacam 'visão humanista'

Anaís Motta

Do UOL, em São Paulo

30/06/2021 15h20Atualizada em 30/06/2021 16h51

Senadores de oposição criticaram hoje a opção de Carlos Wizard por ficar em silêncio durante seu depoimento à CPI da Covid, enquanto parlamentares alinhados ao governo usaram seus 15 minutos de fala para exaltar e elogiar o "trabalho humanitário" do empresário com refugiados. Wizard falou apenas 15 minutos, na abertura da sessão, e depois se recusou a responder a todas as perguntas.

Para Otto Alencar (PSD-BA), Wizard "amarelou" e "não teve coragem de falar", mesmo após assistir aos vídeos em que se manifestava "com muita firmeza" sobre a pandemia — em especial, sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, ainda que o medicamento seja comprovadamente ineficaz.

"O senhor foi muito irresponsável, doutor Carlos, muito irresponsável. E fez isso no afã de querer agradar aos donos do poder, ao dono do poder, ao presidente da República. 'Vamos fazer graça para ele, vamos estar com ele, vamos fazer a festa', que é muito natural dos áulicos. Áulico é um termo técnico para aqueles que gostam de puxar saco dos que estão no poder", disse o senador.

O seu advogado está aí do lado. Inclusive, o seu advogado está muito corado. Está vendo que ele está corado, parece que tomou banho de mar. Está vermelho. E o senhor, senhor Carlos, amarelou aqui na Comissão Parlamentar de Inquérito.
Otto Alencar, na CPI da Covid

Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, também criticou o silêncio de Wizard, classificado pelo senador como ofensivo as mais de 516 mil mortes pela covid-19 registradas no Brasil. Rogério Carvalho (PT-SE), por sua vez, acusou o empresário de ocultar a verdade em nome de Deus para proteger "interesses inconfessos".

Na avaliação do petista, a postura de Wizard é "uma pena, uma vergonha".

"Queria dizer ao senhor Carlos Wizard", disse, "que, em vez de ajudar a CPI a encontrar a verdade por trás das mais de 516 mil mortes, o senhor se reserva, com todo o direito que a lei lhe permite, a ficar calado. Uma pena e uma vergonha. Depois de hoje, o Brasil passará a conhecê-lo, mas infelizmente não da forma como o senhor se autopromove nesse livro que traz consigo."

"Pai de família"

Luis Heinze - Waldemir Barreto/Agência Senado - Waldemir Barreto/Agência Senado
"Poucos brasileiros têm esse desprendimento de fazer o que o senhor fez", elogiou Luis Carlos Heinze (PP-RS)
Imagem: Waldemir Barreto/Agência Senado

Já Marcos Rogério (DEM-RO) cumprimentou Wizard e o exaltou por ser, como definiu, um "pai de família, trabalhador, homem de histórico honesto, de boa reputação e dedicado a causas humanitárias". O senador ainda comparou o empresário a Bill Gates, cofundador da Microsoft e filantropo.

"Não vejo no senhor também qualquer interesse em exposição pessoal, mesmo porque em 2018 o senhor já tinha uma vida econômica e financeira consolidada. Ou seja, sua participação em causas humanitárias se deu depois de sua estabilidade pessoal e familiar, como tantos outros brasileiros fazem, assim como celebridades internacionais, como é o caso de Bill Gates", discursou.

Luis Carlos Heinze (PP-RS) e Eduardo Girão (Podemos-CE) também endossaram o coro favorável a Wizard e parabenizaram o empresário por sua visão humanista e "cristã". Girão, porém, disse se sentir frustrado com a recusa do depoente em responder às perguntas feitas pelos senadores, e criticou o STF (Supremo Tribunal Federal) por conceder-lhe o direito ao silêncio na CPI.

"Acredito que o STF, o nosso Supremo Tribunal Federal, mais uma vez, se equivoca, atrapalha nossos trabalhos. Ele, que mandou a gente abrir esta CPI, não deixa vir governadores aqui para a gente poder rastrear a corrupção e, neste momento, também impede que o senhor possa falar e responder perguntas que, acho, seriam muito esclarecedoras para a nação", lamentou.

Carlos Wizard, não o conhecia -- prazer! -- pessoalmente. Parabéns pelas suas atitudes, pelas suas posições. Parabéns! Estou enxergando um pouco do seu trabalho, da sua vida e o que isso representa. Poucos brasileiros têm esse desprendimento de fazer o que Vossa Senhoria fez, assim como a sua esposa, como o seu filho, se dedicando aos refugiados. Então, eu só queria parabenizá-lo.
Luis Carlos Heinze, na CPI da Covid

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.