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'Pare de olhar no espelho e falar com ele', diz Omar Aziz a Bolsonaro

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

30/06/2021 15h25Atualizada em 30/06/2021 17h05

Após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer hoje que mentiras não vão tirá-lo do Palácio do Planalto e se referir a membros da CPI da Covid como "bandidos", o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu mandar um recado para o mandatário.

"Eu vou aqui mandar uma mensagem. Presidente, pare de olhar no espelho e falar com ele. Quando a gente fala pro espelho, dá nisso", declarou Omar, durante audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado.

A CPI ouve hoje o empresário Carlos Wizard, apontado como um dos principais integrantes do chamado "gabinete paralelo", que teria assessorado informalmente o presidente Bolsonaro ao longo da pandemia da covid-19. Com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal), ele decidiu ficar em silêncio hoje durante a oitiva. Mesmo assim, ouviu dezenas de perguntas formuladas pelos parlamentares.

Mais cedo, em evento em Ponta Porã (MS), Bolsonaro não falou da denúncia de que integrantes do Ministério da Saúde cobraram propina para fechar negócio com empresa que vendia vacinas de Oxford/AstraZeneca, mas declarou:

"Não conseguem nos atingir. Não vai ser com mentiras ou com CPI, integrada por sete bandidos, que vão nos tirar daqui. Temos uma missão pela frente: conduzir o destino da nossa nação e zelar pelo bem-estar e pelo progresso do nosso povo."

Em meio a denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde, o presidente participou de cerimônia relativa à rede de radares de vigilância do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro.

Um grupo de sete senadores independentes e oposicionistas que integra a CPI, composta por 11 titulares e sete suplentes, ficou conhecido como o "G-7" e conta, inclusive, com Omar, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL). Seria a esse grupo que Bolsonaro teria se referido ao citar "sete bandidos" da CPI.

Hoje, Omar também ressaltou que Bolsonaro ainda não explicou a quem mandou investigar as suspeitas de irregularidades relacionadas ao processo de aquisição da vacina Covaxin, fabricada pela indiana Bharat Biotech e intermediada no Brasil pela Precisa Medicamentos, a seu ver.

"De uma forma repetitiva, [Bolsonaro] ataca membros dessa CPI chamando de bandidos e outros adjetivos. Ele não tem nenhum adjetivo ao deputado [Luis] Miranda, que acusou de prevaricação", acrescentou.

Randolfe Rodrigues também reforçou o fato de que Bolsonaro fez "agressões gratuitas" a membros da CPI e não teceu comentários a Miranda, agora seu ex-aliado.

Agora à tarde, grupo de partidos e entidades pretendem protocolar um "superpedido" de impeachment contra Bolsonaro na Câmara dos Deputados. O documento reunirá diversos crimes supostamente cometidos pelo presidente da República, na avaliação dos autores.

Pedidos de impeachment precisam ter o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para o processo ser iniciado no Congresso. Ao menos 120 pedidos já foram protocolados contra Bolsonaro e nenhum foi aceito até o momento. Lira é líder informal do centrão e chegou ao comando da Casa com o apoio do Palácio do Planalto em fevereiro deste ano.

Atualmente, não há perspectiva de que o novo "superpedido" seja aceito.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.