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Heinze: Convocar ex-cunhada de Bolsonaro à CPI é 'remexer na lata do lixo'

27.mai.2021 - O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) - Jefferson Rudy/Agência Senado
27.mai.2021 - O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

05/07/2021 17h58Atualizada em 05/07/2021 18h01

O senador governista Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou hoje que a intenção do relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), de convocar a ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Andrea Siqueira Valle é "remexer na lata do lixo" e foge do objetivo da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado.

Gravações de Andrea indicam um envolvimento direto de Bolsonaro em um esquema ilegal de entrega de salários de assessores na época em que ele era deputado federal e apontam que ele chegou a demitir funcionários que se recusavam a entregar parte dos salários à família, conforme revelou a colunista do UOL Juliana Dal Piva.

As chamadas rachadinhas configuram crime de peculato e ocorrem quando funcionários públicos, que integram o gabinete do político, entregam parte do salário aos que os nomearam.

Renan Calheiros informou que vai solicitar a convocação da ex-cunhada do presidente Bolsonaro para que ela preste depoimento à CPI da Covid. Para Renan, ela pode "explicar se houve espelhamento do esquema das rachadinhas no governo federal".

"Como se sabe Carlos Bolsonaro é peça fundamental no ministério paralelo e Flávio Bolsonaro um influente filtro de indicações", disse o relator.

Luis Carlos Heinze, porém, considera que "estão remexendo no lixo" numa tentativa de prejudicar a imagem do governo federal em meio à pandemia do novo coronavírus.

"Se começa desse jeito, vamos começar a trazer os problemas da Petrobras, das empreiteiras, dos fundos de pensão, do BNDES. Tem um caminhão de coisas para fazer", disse, em referência a outras investigações ou suspeitas de corrupção, parte ocorrida em governos do PT, que deve enfrentar Bolsonaro nas urnas na disputa ao Planalto no ano que vem por meio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Estão remexendo no lixo. Penso para frente. Tem que combater a pandemia: é vacina, é tratamento precoce, é arrumar dinheiro para os laboratórios brasileiros fabricarem vacina. Não estou remexendo na lata do lixo"
Luis Carlos Heinze (PP-RS), senador

De todo modo, o senador governista afirma não estar preocupado com a eventual convocação da ex-cunhada de Bolsoanaro e avalia que a medida pretendida por Renan nada tem a ver com o foco da CPI, da qual é membro suplente.

A CPI da Covid foi instalada em 27 de abril deste ano com o objetivo de apurar ações e eventuais omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus no Brasil, assim como apurar o uso de verbas da União repassadas a estados e municípios.

Heinze ainda reclama que convocações consideradas importantes para esclarecer suspeitas de corrupção na compra de respiradores por estados do Nordeste, por exemplo, não são aprovadas pela maioria oposicionista e independente na CPI.

Áudio liga Bolsonaro a esquema de rachadinha

Em três reportagens publicadas hoje na coluna da jornalista Juliana Dal Piva, o UOL mostra gravações que revelam o que era dito no círculo íntimo e familiar do presidente.

A primeira reportagem mostra que familiar que não quis devolver valor combinado do salário foi retirado do esquema. A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário como assessor.

"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'.

A segunda reportagem revela que, dentro da família Queiroz, Jair Bolsonaro é o verdadeiro "01". Em troca de mensagens de áudio, a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, chamam Jair Bolsonaro de "01". Márcia afirma que o presidente "não vai deixar" Queiroz voltar a atuar como antes.

Já a terceira reportagem descreve como recolher salários não era uma tarefa exclusiva de Fabrício Queiroz. Ex-cunhada do presidente diz que um coronel da reserva do Exército, ex-colega do presidente na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), atuou no recolhimento de salários da ex-cunhada de Jair Bolsonaro, no período em que ela constava como assessora do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Ao ser informado sobre as gravações de Andrea Siqueira Valle, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022.

Wassef afirmou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes, jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos".