Covaxin: Empresário foi interrogado sobre esquema de testes falsos na Índia
As negociações entre a Precisa Medicamentos e o laboratório indiano Bharat Biotech para trazer a vacina Covaxin ao Brasil envolvem uma terceira empresa, cujo diretor foi recentemente interrogado na Índia numa investigação a respeito de testes falsos de covid-19.
O UOL teve acesso a um "memorando de entendimento", de 24 de novembro, assinado pela Precisa, Bharat Biotech —farmacêutica que fabrica a Covaxin— e Envixia Pharmaceuticals LLC. O documento consta no processo administrativo do Ministério da Saúde que trata da aquisição de 20 milhões de doses do imunizante.
A Envixia Pharmaceuticals LLC é representada no documento por Anudesh Goyal. De acordo com reportagem publicada pelo jornal The Times of India —um dos maiores periódicos daquele país—, ele foi ouvido no fim de junho por uma equipe especial de investigação local formada para apurar um suposto esquema fraudulento de testagem em massa.
Goyal é apontado como o responsável por fazer a intermediação de um acordo entre as empresas Max Corporate Services e Nawla Laboratories para testagens durante um festival religioso em abril, o Kumbh Mela, na cidade de Haridwar.
A suspeita é de que ao menos 100 mil testes possam ter sido forjados. O sinal de alerta foi dado após autoridades terem detectado nos relatórios dos exames nomes, endereços e telefones com indícios de falsidade.
O governo da Índia interrompeu os pagamentos às empresas até que sejam concluídas as investigações. A própria realização do festival já havia sido alvo de críticas de especialistas. A Índia vive um aumento exponencial de casos de covid-19 nos últimos meses. O país registra mais de 400 mil mortos pela doença desde o início da pandemia, atrás apenas de Brasil e Estados Unidos no mundo.
Sede nos Emirados Árabes Unidos
O memorando de entendimento é um acordo de negócios que estabelece o que cada uma das empresas tem de fazer para a comercialização da Covaxin no Brasil.
De acordo com o documento, com validade inicial de dois anos, a função da Envixia na parceria com a Precisa e a Bharat Biotech é bastante ampla: "prover suporte para todas as atividades relacionadas ao registro e à comercialização da Covaxin no Brasil".
Pelo que consta no documento, a companhia tem sede em um prédio em Fujairah, uma das sete regiões administrativas que compõem os Emirados Árabes Unidos.
Em sua página no LinkedIn, porém, Anudesh Goyal se apresenta como diretor de outra empresa, a Invex Health Private Limited, fundada em dezembro de 2018, no distrito de Neemuch, na Índia.
'Parceiro certo na hora certa'
A Invex Health, por sua vez, afirma, em seu site, realizar serviços que vão da entrega de produtos médicos e farmacêuticos ao apoio a transações entre empresas do setor. A companhia diz "identificar o parceiro certo para a oportunidade certa na hora certa".
Goyal também é administrador de outra empresa do ramo farmacêutico, criada em junho de 2017, com sede em Mumbai, na Índia: a Morse Lifesciences LLP.
O UOL tentou contato com Anudesh Goyal por e-mail e pelo telefone da Invex Health, sem sucesso. Um número de celular da Índia chegou a retornar, mas desligou assim que o repórter atendeu a ligação. A reportagem não conseguiu contudo contato com esse telefone.
A Precisa Medicamentos e a Bharat Biotech também foram procuradas, por meio de suas assessorias de imprensa, para esclarecer qual a participação da Envixia Pharmaceuticals nos negócios envolvendo a Covaxin no Brasil, mas não houve resposta.
Não há registro de que a companhia sediada nos Emirados Árabes tenha participado diretamente das tratativas com o Ministério da Saúde.
Outra empresa emitiu notas fiscais
A Envixia não é a primeira empresa misteriosa que apareceu relacionada à compra da Covaxin. Documentos levantados pela CPI da Covid mostram que foram emitidas notas fiscais em nome da Madison Biotech apesar de ela não aparecer no contrato assinado pelo governo federal.
A Madison tem sede em Singapura, país conhecido por ser um paraíso fiscal. Reportagem do UOL revelou que documentos registrados no órgão regulador daquele país mostram ligações entre a empresa e a Bharat Biotech —dois diretores são ligados ao laboratório indiano.
As notas fiscais em nome da Madison foram uma das suspeitas levantadas pelo servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, irmão do deputado Luís Miranda (DEM-DF), sobre as negociações envolvendo a compra da Covaxin.
Na sessão da última terça-feira (6) da CPI, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) apontou uma série de indícios de fraudes num desses documentos, redigido inclusive com erros básicos de inglês.
O contrato para a compra da Covaxin está suspenso desde 29 de junho, por decisão do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, até que seja concluída uma análise da CGU (Controladoria Geral da União).
O pedido de uso emergencial da vacina foi encaminhado à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na mesma data, mas a análise foi interrompida no dia seguinte após a agência verificar que documentos obrigatórios para a avaliação da eficácia e segurança "foram apenas apresentados parcialmente ou não foram localizados".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.