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Homem armado não ameaça, diz chefe da Aeronáutica negando intenção de golpe

Divulgação/FAB
Imagem: Divulgação/FAB

Do UOL, em São Paulo

09/07/2021 17h01Atualizada em 09/07/2021 19h42

O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, negou que as Forças Armadas têm ameaçado golpe e disse ainda que a nota divulgada com o Ministério da Defesa, essa semana, foi um "alerta às instituições".

"Homem armado não ameaça. Não existe isso. Nós não vamos ficar aqui ameaçando. O presidente do Senado [Rodrigo Pacheco] foi bastante feliz na sua colocação. As autoridades precisam entender o que está por trás da autoridade. Nós precisamos entender que o ataque pessoal do senador [Omar Aziz, presidente da CPI da Covid] à instituição militar não é cabível a alguém que deseje ser tratado como Vossa Excelência", disse o chefe da Aeronáutica em entrevista publicada hoje (9) pelo jornal O Globo.

Na quarta-feira, os comandantes das Forças Armadas e o ministro da Defesa, Braga Netto, publicaram uma nota repudiando declarações do senador e presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). O senador disse que os "bons" das Forças Armadas deviam estar "muito envergonhados" com o "lado podre" das instituições militares.

No texto, os comandantes das forças e o ministro afirmam ser "grave" e "irresponsável" atribuir aos militares os supostos esquemas de corrupção envolvendo a compra de vacinas pelo Ministério da Saúde. "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano", diz a nota.

Para o chefe da Aeronáutica, a nota foi "dura", como achavam que "deveria ser". "Cada instituição do país tem a obrigação de se preocupar com a democracia e o respeito às instituições. E nós, instituição militar, não abriremos mão disso", disse.

O comandante nega que a nota é uma ameaça, "é um alerta, exatamente o que está escrito na nota, não enviaremos 50 notas para ele [Aziz]".

Questionado novamente se a frase "não aceitarão qualquer ataque leviano" soou como uma ameaça a golpe, o brigadeiro Baptista se restringiu a dizer que as "Forças Armadas continuam com seu princípio legalista e de acatamento à Constituição".

Parlamentares criticam declarações

Parlamentares reagiram às declarações do comandante da Aeronáutica. No fim da tarde, o presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que o Parlamento "não admitirá qualquer atentado" à sua independência. Apesar dos atritos, Pacheco disse considerar que o atrito está "esclarecido, resolvido e encerrado".

Hoje mais cedo, o relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), disse que os senadores não devem ter "medo de ameaças, intimidações e quarteladas". "Nós vamos em frente, sem medo e investigando quem precisar ser investigado. Nós não podemos ter medo de arreganhos, de ameaças, de intimidações, de quarteladas. Nós vamos investigar haja o que houver, nada vai nos impedir", prometeu.

O vice-presidente da Câmara, deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), disse no Twitter que "o comandante da aeronáutica extrapolou seus limites institucionais", e que não cabe ao militar "impor limites as investigações da CPI e nem impedir investigação sobre a conduta de militares no exercício de funções civis."

Para o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), as falas do comandante são um "manifesto golpista que viola as determinações constitucionais sobre o papel das FFAA".

O deputado Jorge Solla (PT-BA) também comentou em seu Twitter as falas do comandante e afirmou que se ocorrer "qualquer atitude de intervenção na democracia brasileira, irão para cadeia".

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que "não é adequado ao Comandante de uma força do Estado Brasileiro dar continuidade a conteúdos que afrontem instituições da República, como o Congresso Nacional, e que possam sugerir uma desestabilização da democracia" e que "ninguém está acima da lei e qualquer brasileiro, suspeito de corrupção, civil ou militar, pode ser investigado numa CPI, independente de patente."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, Marcelo Freixo é deputado federal, e não estadual. O texto já foi corrigido.