Marco Aurélio questiona se Bolsonaro 'prepara campo para insucesso' em 2022
De saída do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Marco Aurélio Mello disse, em entrevista ao jornal O Globo, que se preocupa com as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocando em dúvida o sistema eleitoral brasileiro.
Marco Aurélio disse que não pode ter certeza sobre as reais intenções do presidente ao defender o voto impresso e apontar, sem indícios ou provas, fraudes em eleições recentes, mas questionou se pode ser uma forma de contestar uma possível derrota nas eleições de 2022.
"Ele estaria preparando o campo para o insucesso? Não tenho expertise para colocá-lo num divã e saber o que está por trás disso, mas desde 1996 não tivemos uma impugnação minimamente séria. É preocupante", disse Marco Aurélio, que se aposentou oficialmente do cargo na última semana, após 31 anos de STF.
O ministro, que presidiu o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em três oportunidades, ainda se mostrou preocupado com os efeitos das recentes declarações de Bolsonaro, uma vez que em sua opinião "o exemplo vem de cima".
"Se ele coloca em dúvida um sistema, o que um leigo vai pensar? Vai pensar que realmente há fraude, manuseio, manipulação. Nós vamos ter muitos atritos sendo levados ao Tribunal Superior Eleitoral, pois em 2022 ele (Jair Bolsonaro) vai começar a campanha antes do prazo fixado", opinou.
País nunca teve comprovação de fraude em urnas eletrônicas
Nos últimos dias, Bolsonaro têm intensificado o discurso, sem base em indícios ou provas, de que urnas eletrônicas são passíveis de fraude. Ele ainda ameaçou a realização das eleições de 2022 caso o voto impresso não seja aprovado. A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.
Desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude nas eleições. Essa constatação foi feita não apenas por auditorias realizadas pelo TSE, mas também por investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.
Além disso, as urnas eletrônicas são auditáveis e este procedimento é feito durante a votação. O processo é chamado Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas (ou "votação paralela"). Na véspera da votação, juízes eleitorais de cada TRE (Tribunal Regional Eleitoral) fazem sorteios de urnas já instaladas nos locais de votação para serem retiradas e participarem da auditoria.
Pelo menos desde março do ano passado, Bolsonaro tem afirmado possuir provas, embora não apresente, de fraude nas eleições de 2014 e de 2018. Sobre a primeira, ele afirma que o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) teve mais votos que Dilma Rousseff (PT), eleita naquele ano. A respeito de 2018, ele afirma que uma fraude o impediu de ter derrotado o candidato do PT, Fernando Haddad, ainda no primeiro turno.
No dia 21 de junho, o TSE deu prazo de 15 dias para que o presidente forneça provas das alegações sobre a segurança das urnas. O prazo, porém, só vencerá em agosto, devido ao recesso judicial. Ainda não houve resposta de Bolsonaro no processo.
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