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Quem é Francisco Maximiano, empresário alvo da CPI da Covid

Reunião virtual da qual participou Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos (no canto inferior direito) - Reprodução
Reunião virtual da qual participou Francisco Maximiano, da Precisa Medicamentos (no canto inferior direito) Imagem: Reprodução

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

14/07/2021 04h00

Na mira da CPI da Covid desde meados de junho, o empresário Francisco Emerson Maximiano atraiu suspeitas tanto pelo negócio investigado, o contrato de R$ 1,6 bilhão fechado entre o governo federal e a Precisa Medicamentos para compra da vacina Covaxin, quanto por outros que aparecem no histórico do empresário.

A Precisa e outra empresa de Maximiano, a Global Gestão em Saúde, são alvos de investigações ligadas não apenas ao Ministério da Saúde, mas também ao governo do Distrito Federal, à Petrobras e aos Correios. Os sócios dele em ambas as companhias também estão na mira dos senadores.

O depoimento do empresário foi adiado duas vezes. A primeira a pedido da defesa dele, que havia acabado de retornar da Índia e precisava cumprir uma quarentena obrigatória antes de comparecer à audiência presencial. Já o segundo adiamento foi determinado pelos próprios senadores, depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) conceder a Maximiano o direito ao silêncio.

A defesa do empresário tem se comunicado regularmente com a comissão, mas revelado o mínimo de detalhes possível sobre ele. Nos documentos enviados ao senadores, os advogados informam que ele é "residente e domiciliado" em Barueri, na região de São Paulo, mas o endereço registrado é o da sede da Precisa.

O empresário atua no ramo farmacêutica há cerca de uma década, mas não era um nome conhecido no empresariado até o surgimento do contrato da Covaxin. De perfil discreto, ele não tem nenhuma rede social nem compartilha qualquer informação privada na internet.

As investigações

No centro das apurações da CPI, a Precisa nasceu em 1999 como uma farmácia, a Drogaria Precisa, em Santos, no litoral paulista. Maximiano, porém, só surgiu no negócio em 2014, quando comprou a empresa da Orizon, pertencente ao grupo Bradesco.

Antes do acordo para importação da Covaxin, o maior campo de atuação da empresa junto ao governo federal era o fornecimento de preservativos para o SUS (Sistema Único de Saúde). Em novembro do ano passado, o Ministério da Saúde acertou com a empresa a compra de 5 milhões de unidades por R$ 15,75 milhões. O fornecedor da Precisa, nesse caso, é outra fabricante indiana, a Cupid.

Este contrato foi assinado pelo DLOG (Departamento de Logística em Saúde), que foi chefiado até ontem por Roberto Ferreira Dias. Ontem, Dias foi demitido do cargo após ser acusado por um empresário de cobrar propina para fechar uma compra de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

A mesma Precisa também é alvo da Operação Falso Negativo, que apura, entre outros pontos, irregularidades na venda de testes rápidos de diagnóstico para Covid ao governo do Distrito Federal. Em setembro do ano passado, o MP-DFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) fez uma denúncia contra 15 pessoas, inclusive o ex-secretário de Saúde do DF Francisco Araújo Filho.

Maximiano não estava entre os denunciados, mas a acusação cita indícios de que a Precisa foi favorecida em uma licitação para venda dos produtos. Segundo o MP-DFT, a Precisa descumpriu os parâmetros ao fazer uma entrega com atraso, mas não foi punida por isso e mantida como fornecedora dos testes.

Ricardo Barros

O descumprimento dos termos da licitação também levou o MPF a denunciar a Precisa por improbidade administrativa em janeiro de 2019. Segundo os procuradores, a empresa Global Gestão em Saúde, causou um prejuízo de R$ 19 milhões aos cofres públicos por não entregar remédios para doenças raras que estavam previstos em contrato.

À época do negócio, o ministro da Saúde era Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo na Câmara dos Deputados. Segundo o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda, o presidente Jair Bolsonaro citou o nome de Barros ao ouvir as denúncias dos dois relativas à Covaxin. Ontem a CPI aprovou a convocação de Barros para depor.

Em 2015, a mesma Global foi multada pela Petrobras em R$ 2,3 milhões. O motivo foi a descoberta de irregularidades em um contrato com a estatal, fechado em março daquele ano, para fornecimento e distribuição de medicamentos aos beneficiários da AMS (Assistência Multidisciplinar de Saúde), o plano de saúde dos funcionários.

Em nota, a Petrobras afirmou que "sancionou a empresa por fraude contratual, ao ter se utilizado de um sistema automatizado que, sem o conhecimento da companhia, limitava as operações por parte dos usuários", o que teria violado a lei anticorrupção.

Segundo o jornal O Globo, um caso parecido envolvendo a Global foi alvo da delação de Alexandre Romano, um ex-vereador de Americana (SP) que foi alvo da Lava Jato. De acordo com o jornal, Romano contou que intermediou pagamentos ilícitos de Maximiano a um diretor dos Correios para garantir à Global um contrato de R$ 62 milhões para fornecer uma espécie de vale-medicamento aos empregados da estatal.

O UOL pediu esclarecimentos à defesa de Maximiano sobre as investigações citadas na reportagem, mas não houve resposta até o fechamento da reportagem. O espaço está aberto para manifestação.