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Em defesa de Pazuello, Bolsonaro vê criação de 'corrupção por pensamento'

Bolsonaro saiu novamente em defesa de seu ex-ministro da Saúde - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Bolsonaro saiu novamente em defesa de seu ex-ministro da Saúde Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Do UOL, em São Paulo

19/07/2021 13h16Atualizada em 19/07/2021 17h21

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saiu novamente em defesa do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, dizendo que "inventaram a corrupção por pensamento". A declaração ocorreu após reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelar que, em reunião fora da agenda, Pazuello negociou a CoronaVac com intermediária e pelo triplo do preço.

Em conversa com apoiadores na manhã de hoje em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro se referiu a três integrantes da CPI da Covid no Senado como "otários", sem citar nomes.

"Essa CPI dos três otários tenta de toda maneira colar 'ah, mas o Pazuello conversou com empresário'. Pô, se tivessem tratando de corrupção não ia ter vídeo, meu Deus do céu, seria no porão, seria num canto qualquer. O tempo todo tentando 'ah, mas ele pensou em se corromper' (...) Inventaram a corrupção por pensamento. Para cá (Brasília) vem todo tipo de gente para fazer lobbies. Você pode ver essa última narrativa, 'ah, o Pazuello conversou com empresário'. Eu converso todo dia com empresário, se é crime, sou criminoso", disse o presidente.

De acordo com Bolsonaro, apesar de o ex-ministro ter se comprometido a assinar memorando de entendimento, a negociação não prosperou porque os representantes comerciais se tratavam de estelionatários.

Ontem, logo após ter recebido alta hospitalar, o mandatário culpou lobistas e disse que "lá em Brasília não falta gente tentando vender lote na lua" para defender seu ex-ministro. "Quando fala em propina, é pelado dentro da piscina", e não gravando vídeo de um encontro, afirmou o presidente.

Em outro momento da conversa, Bolsonaro citou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que se recupera da covid-19 pela segunda vez. Ele fez uma relação distorcida sobre o fato, sugerindo que ele reforça seu discurso contra o isolamento social, o que vai na contramão dos especialistas.

Presidente chama Aziz de 'anta amazônica'

O mandatário ainda chamou o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), de "anta amazônica".

"Quem queria comprar vacina, não interessando o preço e sem passar pela Anvisa era o Omar Aziz. Isso está documentado numa emenda que ele apresentou sobre vacina. Assim como o irmão do Renan Calheiros, Renildo, apresentou uma igualzinha, que estados e municípios podiam comprar vacina sem a certificação da Anvisa e sem licitação. Imagina se aprova isso? Hein Omar Aziz, mais conhecido como anta amazônica. A anta amazônica. Imagina se tivesse passado isso? Renan, seu irmão do PC do B... Alguns prefeitos e governadores comprando US$ 30, US$ 50, vacina até da Lua, que não ia passar vacina pela Anvisa", disse o presidente.

O presidente da comissão no Senado, Omar Aziz (PSD-AM) respondeu às acusações pelo Twitter. "Presidente, uma dica: estude a fauna Amazônica. O predador do macaco guariba é a onça. Esses militares que estão ao seu lado sabem disso, eles serviram no meu Estado. Pergunte deles. Que fique claro: na CPI não tem anta, tem onça. E as onças vão pegar o guariba. Pode acreditar", escreveu.

A medida provisória original (1.026/2021), do próprio Bolsonaro, já previa dispensa de licitação para compra de vacinas pela União, desde que tivessem sido aprovadas por cinco agências sanitárias internacionais (dos EUA, da União Europeia, do Japão, da China e do Reino Unido). Conforme explicado em checagem do Projeto Comprova, a MP foi aprovada pelo Congresso com a adição de outras seis autoridades sanitárias — inclusão que permitiria a importação da Covaxin pelo Brasil.

O senador Omar Aziz apresentou duas emendas. Uma delas pedia pela ampliação da dispensa de licitação a estados e municípios, enquanto a outra sugeria a inclusão das agências sanitárias do Canadá, da Rússia, da Coreia do Sul, da Argentina e da Índia.

No entanto, Aziz não foi o único senador a fazer sugestões. Segundo o site do Congresso Nacional, 164 emendas foram propostas por parlamentares, algumas delas semelhantes. Na lei aprovada pelo Congresso, de relatoria de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a emenda sobre a dispensa de licitação por estados e municípios para a compra de imunizantes é creditada à senadora Rose de Freitas (MDB-ES), e não a Aziz.

Já o deputado federal Renildo Calheiros (PCdoB-PE), irmão do senador Renan Calheiros, apresentou três emendas: uma pedindo a inclusão das agências sanitárias de Rússia e Índia, outra pedindo que a compra de vacinas pudesse contemplar autorizações emergenciais de outros países — e não apenas definitivas — e a última afirmando que não deveria ser descartada a hipótese de que estados e municípios pudessem conduzir seus próprios planos de vacinação.

* Com informações do Estadão Conteúdo e de reportagem de Juliana Arreguy e Beatriz Montesanti, do UOL, e colaboração para o UOL