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Vera Magalhães: Direita e esquerda se encontram se é para atacar imprensa

Do UOL, em São Paulo

20/07/2021 15h21Atualizada em 20/07/2021 15h29

A jornalista Vera Magalhães afirma que, na hora de atacar a imprensa, direita e esquerda se encontram, principalmente nos métodos. A colunista do jornal 'O Globo' e da rádio CBN e apresentadora do programa "Roda Viva", da TV Cultura, foi a convidada de hoje do "Jornalistas e Etc.", conduzido pela colunista do UOL Thaís Oyama.

No programa, ela conta como, recentemente, foi atacada nas redes sociais por uma fala sobre hospitais no Nordeste e em São Paulo, principalmente pela esquerda. Mas também relata o ataque do próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ela considera este mais grave.

Era um desmentido sem pé nem cabeça, feito com uma truculência muito grande, usando o Palácio, portanto usando o cargo da presidência da Republica, para fazer um ataque pessoal [a mim].
Vera Magalhães, apresentadora do "Roda Viva"

Vera foi a primeira a noticiar que Bolsonaro teria compartilhado vídeos no WhatsApp que convocavam a população a participar de manifestações em favor do governo e contra o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal), marcadas para 15 de março. Ela, então, passou a ser hostilizada por bolsonaristas e teve até mesmo dados pessoais divulgados nas redes sociais.

O outro episódio aconteceu quando ela comparou, durante uma edição do "Jornal da Cultura", em março, os hospitais particulares de São Paulo ao sistema público de saúde no Nordeste. Internautas a acusaram de xenofobia. Segundo ela, embora o episódio tenha sido mais utilizado por pessoas da esquerda política, a gênese foi no bolsonarismo.

Veja que, quando a ideia é desqualificar a imprensa, às vezes os dois lados se encontram. Não vou dizer que se equivalem, porque justamente o que o bolsonarismo faz é de uma natureza muito mais agressiva e institucionalizada, mas se encontram nos métodos.
Vera Magalhães, apresentadora do "Roda Viva"

Com o tempo, dizque aprendeu a filtrar o que deve ler e responder. "Hoje em dia, eu me reservo a responder apenas a quem também está no debate público, ou de alguma forma é fonte ou autoridade, ou alguém que eu respeito. Os arrivistas, os que tentam usar o meu prestígio e a minha relevância para ganhar público, esses eu tenho evitado responder."

Jornalismo valorizado na pandemia

Em sua avaliação, o jornalismo profissional passou a ser mais valorizado durante a pandemia de covid-19, ainda que também tenha aparecido muito negacionismo científico.

"A informação de qualidade, checada e lastreada por apuração e por meio de empresas que fazem jornalismo profissional, portanto, que pagam seus jornalistas e fazem com que eles sigam todos os critérios éticos e técnicos de uma apuração, isso foi muito valorizado com o advento da pandemia."

"Mas, como essas coisas não são estanques e lineares, também houve um crescimento do outro lado desse grupo de pessoas dispostas a defender o indefensável, a propagar negacionismo e bruxaria no lugar de ciência", alerta.

Os charlatões que estão vendendo isso podem até ter um sucesso efêmero e imediato, mas, no cômputo da história, eles vão sair muito pior do que eles se saíam antes defendendo o governo.
Vera Magalhães, apresentadora do "Roda Viva"

Para ela, Bolsonaro e demais lideres populistas alargaram os limites nos quais os jornalistas podem se manifestar ao atacar o jornalismo profissional: "Algumas pessoas mergulham sem medir tanto a temperatura da água. Acho que sou uma delas, mas não a única".

"Acho que o limite é a defesa da democracia, defesa da ciência, das instituições e do jornalismo como um um baluarte. Quando qualquer uma dessas coisas estiver em xeque, com certeza eu estarei do outro lado. E estarei do outro lado sem falsas concessões para 'um lado diz isso e outro lado diz aquilo', porque não é esse o papel histórico de um jornalista e de um analista neste momento pelo que passa o país."

Do impresso para a TV

Vera relembra que fez a carreira em jornalismo impresso e isso só começou a mudar quando foi para a Jovem Pan, onde há uma forte presença das câmeras. Agora, ela comanda o programa "Roda Viva", mas aprender a fazer televisão não foi o seu maior desafio.

"Os meus maiores desafios, aqueles que me fazem perder o sono anoite, não foram tanto esses técnicos, porque esses a gente acaba pegando no susto. O maior desafio é esse jornalístico antes de tudo, que é de fazer o Roda voltar a ter relevância, ser instigante pro público."

Ela relembra um episódio com Ciro Gomes, em que ele avisou quase no horário do programa que poderia estar com covid-19. Eles então anteciparam a estreia do totem para entrevistar o convidado.

Para o futuro, ela diz que gostaria de continua comandando o "Roda Viva", ao menos durante o período eleitoral. "Seria um desafio para coroar a minha passagem por lá. Cumpriria um ciclo legal de três anos a frente do programa e fazendo o coroamento com a cobertura das eleições."

Além disso, ela conta que gostaria de dar uma pausa, semelhante ao tempo sabático que tirou em 2014. "Ando com vontade de fazer algo semelhante em 2023, que vai ser um ano muito específico na minha carreira, que vai coroar os 30 anos na minha carreira. Todos no front da imprensa diária."