CEO da VTCLog diz ter cobrado Dias para assinar aditivo de R$ 18 milhões
Andreia Lima, CEO da VTCLog, empresa investigada na CPI da Covid, confirmou ao jornal O Globo ter cobrado Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, para assinar um aditivo de R$ 18 milhões, valor 1.800% mais caro do que havia sido recomendado em um parecer pelos técnicos da pasta. Apesar da fala, a CEO disse que a organização não pagou propina para continuar ou conseguir novos contratos com o governo.
A CEO afirmou que as solicitações a Dias aconteciam para concluir uma pendência ocorrida desde 2019. A pasta e a VTCLog não entravam em um acordo sobre o modo de pagamento de uma parcela dos serviços realizados, que já estava previsto pelo Ministério.
A Saúde apontava que a VTCLog receberia aproximadamente R$ 1 milhão enquanto a organização entendia que o valor a ser recebido deveria girar em torno da cifra de R$ 57 milhões. Depois do desacordo, a empresa sugeriu um novo pagamento de R$ 18 milhões, o que foi fechado com a pasta.
Segundo reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, a consultoria jurídica do Ministério da Saúde chegou a questionar a negociação e recomendou que outras alternativas fossem exploradas, incluindo a rescisão do contrato. Mesmo com a recomendação do setor jurídico, Roberto Dias concordou com o novo montante e assinou o aditamento de contrato, o que levou à retomada dos pagamentos com a empresa.
Eu cobrei, sim. Venho cobrando esse aditivo desde 2019. É um assunto que a gente vem tentando resolver desde o primeiro faturamento"
Andreia Lima, CEO da VTCLog, ao jornal O Globo
De acordo com uma apuração feita pelo jornal, dados obtidos com a quebra de sigilo de Dias, que já depôs na CPI da Covid e foi preso durante o depoimento sob acusação de mentir, teria ocorrido 135 ligações entre ele e Andreia desde abril de 2020 até maio deste ano.
Andreia explicou que as ligações aconteceram para pedir ajuda de Dias em razão do início da pandemia da covid-19 e uma dificuldade logística em voos da empresa que, segundo ela, precisava distribuir álcool em gel e máscaras.
"As ligações eram, em geral, para tratar de questões operacionais dos nossos contratos [com o ministério]", afirmou a CEO.
Políticos e CPI
Segundo Andreia, ela não tem relação com políticos e afirmou que "em um evento" conheceu o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR). A CEO ainda declarou que tratava a questão do aditivo "apenas com a coordenação e a direção de logística" da Saúde e com nenhum superior de Dias.
A empresária também negou as suspeitas da CPI acerca da VTCLog ter pagado irregularmente agentes públicos para manter e conseguir novos contratos com o governo federal.
"Nunca. Eu ratifico aqui que todos os nossos contratos são todos públicos. Só buscamos receber pelo nosso serviço prestado e nunca agimos de forma a pagar propina a ninguém. Eu afirmo para você que a empresa não atua com pagamento de propina seja lá para quem for."
A VTCLog já prestava serviços para o ministério e até fevereiro deste ano o acordo era de um pagamento total de R$ 485 milhões até 2023. Em fevereiro, porém, a empresa reajustou o valor, elevando em R$ 88 milhões os custos totais, o que causou a suspensão dos pagamentos.
O UOL procurou o Ministério da Saúde, mas não teve retorno até a última atualização deste texto.
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