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Voto impresso seria ótimo para caciques políticos, diz ex-presidente do TSE

Carlos Velloso era presidente do TSE quando o voto eletrônico foi implantado - Alan Marques/Folhapress - 19.out.2005
Carlos Velloso era presidente do TSE quando o voto eletrônico foi implantado Imagem: Alan Marques/Folhapress - 19.out.2005

Colaboração para o UOL

22/07/2021 09h36Atualizada em 22/07/2021 10h40

Carlos Velloso, ex-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) responsável pela implantação do voto eletrônico no Brasil na década de 1990, afirmou que a mudança no sistema eleitoral no país para implantar o voto impresso é interessante para os "caciques políticos".

Em entrevista ao Estadão, o ex-ministro afirmou que as críticas às urnas eletrônicas acontecem "em razão do desconhecimento dos mecanismos de segurança da urna". Segundo Velloso, as urnas são auditadas "antes, durante e depois das eleições", e ponderou que hackers não têm como acessar o sistema, visto que o processo de votação "não está em rede e não opera on-line".

"Posso dizer que o voto impresso seria o retorno dos fraudes. Ele é que quebraria o sigilo do voto, garantia constitucional de independência do eleitor. Seria ótimo para os caciques políticos deste país", afirmou.

Bolsonaro desanima sobre voto impresso

No começo desta semana, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se mostrou pessimista sobre a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 135/19, conhecida como a PEC do voto impresso. O projeto seria apreciado na semana passada pela comissão especial, mas após tumulto e pedido de revisão do texto, a sessão foi encerrada quando havia 22 votos contrários e apenas 12 favoráveis.

"Eu não acredito mais que passe na Câmara o [projeto sobre o] voto impresso. A gente faz o possível, vamos ver como é que fica aí", disse Bolsonaro em conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada. A declaração foi gravada e transmitida pelo canal "Foco do Brasil" no YouTube.

Hoje, o Estado de S. Paulo informou que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, teria ameaçado as eleições de 2022 e condicionou a realização do pleito à aprovação do voto impresso. Segundo a reportagem, a mensagem foi levada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor, que não teve o nome revelado.

De acordo com a publicação, Braga Netto deu o aviso no dia 8 de julho e pediu para comunicar a quem interessasse que não haveria eleições em 2022 sem voto impresso, sendo que no momento da fala estava acompanhado dos chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, em conversa com apoiadores transmitida nas redes sociais, que só haveria eleições em 2022 no Brasil "se elas fossem limpas", reforçando seu discurso a favor do voto impresso.

Sem provas ou indícios, o presidente tem reiterado que o atual sistema eletrônico é passível de fraudes e que é preciso implementar o voto impresso. A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.

Ainda de acordo com O Estado de S. Paulo, Arthur Lira considerou o recado como uma ameaça de golpe e procurou Bolsonaro para uma conversa na qual, segundo relatos, respondeu que não embarcaria em rupturas institucionais e não admitiria golpes.

No encontro, publica o jornal, o presidente repetiu que "respeitava as quatro linhas da Constituição" e nunca defendeu golpe, mas Lira reafirmou que o recado enviado a ele tinha sido muito claro.

O Ministério da Defesa não respondeu aos questionamentos do jornal sobre o episódio. O UOL também tenta contato com o ministério e publicará o posicionamento assim que receber a resposta.

Urnas são seguras

Além de auditáveis, as urnas eletrônicas são testadas com regularidade sobre sua segurança. Já foi constatado que os dados principais são invioláveis e não podem ser infectados por vírus que roubem informações.

O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirma que não há indícios de fraude em eleições desde 1996, quando as urnas eletrônicas foram adotadas.

Adicionalmente, segundo a Constituição, qualquer alteração no processo eleitoral deve ser aprovada ao menos um ano antes da votação. Isso significa que a PEC apoiada por Bolsonaro precisa passar pelo Congresso até outubro deste ano para ser aplicada às eleições de 2022.