Sem provas, Bolsonaro insinua fraude e ameaça eleição de 2022
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer hoje uma ameaça às eleições de 2022. Um dia depois de citar, mais uma vez sem provas, a existência de fraude nas urnas eletrônicas, Bolsonaro afirmou que não haverá disputa eleitoral no ano que vem se não houver "eleições limpas". A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.
Eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições
Jair Bolsonaro, que deve tentar a reeleição no ano que vem
A declaração de Bolsonaro foi feita em conversa com apoiadores na manhã de hoje, em Brasília. Ontem, em entrevista à rádio Guaíba, em Porto Alegre, o presidente havia afirmado que se o Congresso não aprovar o voto auditável nas eleições de 2022 haverá "problemas" para os parlamentares.
"Se esse mesmo (sistema) continuar, sem a contagem pública, eles vão ter problema porque algum lado pode não aceitar o resultado. Esse algum lado, obviamente, é o nosso lado. Nós queremos transparência", disse.
Desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude nas eleições. Essa constatação foi feita não apenas por auditorias realizadas pelo TSE, mas também por investigações do MPE (Ministério Público Eleitoral) e por estudos independentes.
Além disso, as urnas eletrônicas são auditáveis e este procedimento é feito durante a votação. O processo é chamado Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas (ou "votação paralela"). Na véspera da votação, juízes eleitorais de cada TRE (Tribunal Regional Eleitoral) fazem sorteios de urnas já instaladas nos locais de votação para serem retiradas e participarem da auditoria.
Pelo menos desde março do ano passado, Bolsonaro tem afirmado possuir provas, embora não apresente, de fraude nas eleições de 2014 e de 2018. Sobre a primeira, ele afirma que o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) teve mais votos que Dilma Rousseff (PT), eleita naquele ano. A respeito de 2018, ele afirma que uma fraude o impediu de ter derrotado o candidato do PT, Fernando Haddad, ainda no primeiro turno.
No dia 21 de junho, o TSE deu prazo de 15 dias para que o presidente forneça provas das alegações sobre a segurança das urnas. O prazo, porém, só vencerá em agosto, devido ao recesso judicial. Ainda não houve resposta de Bolsonaro no processo.
Hoje Aécio rebateu as suspeitas levantada por Bolsonaro e afirmou não acreditar que tenha havido fraude nas urnas eletrônicas no pleito daquele ano — seu candidato a vice à época também disse que as eleições foram limpas e que o PSDB perdeu por falta de votos.
Ataques a Barroso
O presidente também tem atacado o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, em função do tema. Na última terça-feira (6), Bolsonaro afirmou que o ministro articula para que a mudança não seja aprovada.
Nesta semana, Barroso voltou a argumentar contra a implementação do voto impresso no país e apresentou como argumento contra o sistema a logística envolvendo o transporte dos votos "no país do roubo de carga", além da dificuldade de implementação da modalidade.
Ele citou também o risco de judicialização devido a possíveis divergências em uma recontagem. Para Barroso, o voto impresso não é mecanismo a mais de auditoria, "ele é um risco para o processo eleitoral".
Portaria sobre armas
Na conversa com apoiadores na manhã de hoje, Bolsonaro disse ainda que três novas portarias que tratam de armas estão "prestes a ser publicadas".
"Mandei checar três portarias do Exército para a gente clarear mais e facilitar mais ainda a compra de armas, porque está na lei. A arma dá uma coisa sagrada para você, que é, além da segurança, a garantia da sua vida, porque o Estado não tem como dar garantia a sua vida 24 horas por dia", disse.
CPI da Covid
Bolsonaro também criticou o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, e o acusou de desviar R$ 260 milhões do Amazonas. O presidente disse que "não tem cabimento" denúncias apresentadas contra ele.
"Só na cabeça de um cara que desvia do seu estado R$ 260 milhões, como Omar Aziz desviou, que pode falar isso aí. Só um cara que tem 17 inquéritos no STF, como Renan Calheiros, faz. Virou CPI da cloroquina, CPI do ministério paralelo, CPI do orçamento secreto, é isso que os caras fazem. Não tô reclamando não, sabia que ia ser assim", disse.
O presidente disse ainda que a CPI não contribuiu para diminuir o número de mortos pela covid-19. "Só fofoca o tempo todo e tenta desgastar o governo."
Aziz, por sua vez, disse que o presidente não vai parar os trabalhos da comissão e mandou uma carta ao presidente pedindo que ele responda se são falsas as acusações de corrupção em contratos de vacinas.
"Lhe acuso de ser contra a ciência, de não fazer propaganda para a vacinação do povo brasileiro, de tentar desqualificar as vacinas que estão salvando vidas porque isso é verdade", disse o parlamentar. "Não lhe acuso de ser ladrão, de fazer parte de rachadinha e de outras acusações, como genocida. Mas presidente, sua palavra é forte, Vossa Excelência me acusa de uma coisa que eu não cometi", declarou Aziz.
"Por isso te faço um desafio: procure uma denúncia contra mim ou se sou réu em alguma acusação. O senhor já mandou seus agentes vasculharem minha vida toda, não tem dúvida. Não há fatos que comprovem absolutamente nada contra minha pessoa".
*Colaborou Afonso Ferreira, do UOL, em São Paulo
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