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'Jamais pedi comissionamento': veja frases de coronel Blanco à CPI da Covid

Segundo Marcelo Blanco, denúncia sobre suposta propina é "absolutamente desconectada da realidade" - Leopoldo Silva/Agência Senado
Segundo Marcelo Blanco, denúncia sobre suposta propina é "absolutamente desconectada da realidade" Imagem: Leopoldo Silva/Agência Senado

Do UOL, em São Paulo

04/08/2021 17h57Atualizada em 04/08/2021 18h10

A CPI da Covid no Senado ouviu hoje o ex-assessor do Ministério da Saúde, tenente-coronel Marcelo Blanco, apontado como possível elo entre a pasta e a Davati Medical Supply. A empresa americana está envolvida em uma negociação de vacinas contra a covid-19 em que supostamente houve pedido de propina por parte de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística da Saúde.

Aos senadores, Blanco afirmou que projetava uma "parceria comercial" para vender vacinas ao mercado privado com o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, que denunciou à Folha de S.Paulo a suposta corrupção. Segundo o coronel, foi este o motivo pelo qual ele levou o PM — lobista da Davati — a um jantar com Roberto Dias em 25 de fevereiro, em Brasília.

Foi durante esse encontro que o ex-diretor de Logística teria, de acordo com Dominghetti, pedido propina.

Blanco, que participou do jantar, negou ter negociado "comissionamentos" ou "qualquer tipo de vantagem" em acordos para compra de imunizantes contra o coronavírus. Ele também negou que Dias tenha pedido propina.

Veja as principais frases ditas pelo coronel Marcelo Blanco à CPI:

Mercado privado

O meu intuito em relação ao senhor Dominghetti se restringia ao desenvolvimento de um possível mercado de vacinas para o segmento privado (...). Sempre deixei muito claro, porque foi uma coisa que ele, ao apresentar as condições da suposta proposta dele, ele dizia que também seria destinada ao meio privado — tá? —, somente necessitando de uma liberação do laboratório AstraZeneca.

(...)

Bom, é um timing, eu preciso aproveitar o timing. Se se apresenta uma pessoa para mim que eu posso prospectar como um futuro parceiro comercial — e era assim que eu enxergava o Dominghetti —, eu preciso aproveitar esse timing. Se eu tiver um modelo de negócio construído, desenhado, guardado comigo, se, porventura, os instrumentos legais saírem...

"Não articulei"

Para que fique bem claro: quando Dominghetti me procurou, a única coisa que ele pediu é que ele gostaria de enviar propostas para o departamento logístico. Eu simplesmente o orientei a enviar para os e-mails institucionais. Eu não intermediei, eu não fui com ele lá, eu não articulei... Eu não fiz absolutamente nada disso. Eu passei para ele os dois e-mails institucionais.

Suposta propina

Eu jamais fiz qualquer pedido de comissionamento ou qualquer tipo de vantagem, isso daí é absolutamente desconectado da realidade. (...) Nunca tratei nada desse tipo com o Cristiano [Carvalho, representante da Davati no Brasil], com o Dominghetti.

Dois Dominghetti

Na minha percepção, existem dois Dominghetti: esse Dominguetti, que é sabido por todos, de hoje, de várias matérias, enfim, que esteve aqui na CPI, e o Dominghetti que se apresentou para mim no início de fevereiro, onde nós vivíamos, em termos de corrida de vacina, um momento extremamente sensível. (...) Ele se apresentou com um discurso muito bem feito, dizendo que é representante de uma multinacional americana de vacinas e que teria acesso a 400 milhões de doses de vacinas AstraZeneca. Eu entendi que era possível.

Chope não é "ilegal"

"O senhor há de convir que o chopinho do final de tarde com alguém que estava querendo vender vacina, junto com o diretor do Departamento de Logística, não é propriamente um canal oficial", disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI.

Coronel Blanco, então, respondeu:

Não, canal oficial seguramente não é, mas ele estava ali para pedir o canal oficial, e ele pediu. (...) Eu, particularmente — vou dar pro senhor a minha percepção —, eu não vi qualquer tipo de ilegalidade nisso.

Parceria comercial

Desde o início, deixei claro que eu prospectava sair na frente no ambiente privado, na área do privado. O senador Randolfe por várias vezes colocou aqui que não existiam ferramentas legais ainda, mas eu desenhar um modelo de negócios no privado, isso eu deixei claro aqui no início. Então, eu enxergava no Dominghetti algo como parceria comercial mais na frente, para o privado.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.