Deputado governista é retirado da CPI após bater-boca com Randolfe
Um deputado federal governista que assistia à sessão da CPI da Covid foi retirado do local pela Polícia Legislativa a pedido do vice-presidente do colegiado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) por ter gravado vídeos com supostas críticas à reunião.
A situação entre Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR) e Randolfe gerou o terceiro bate-boca da sessão, que precisou ser suspensa para que a ordem fosse reestabelecida.
O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que a atitude do parlamentar que integra a base de apoio ao governo reflete o "modus operandi" da gestão federal.
Contrariado com a situação, considerada como um "insulto" à CPI da Covid, Randolfe pediu que o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado, gerisse a base de aliados para mantê-los contidos e prestando respeito à CPI.
Em resposta, Bezerra Coelho disse que, por ser líder apenas no Senado Federal, não é da alçada dele a contenção de um deputado federal governista. Ao mesmo tempo, o parlamentar assumiu ter discordado com a postura apresentada durante a sessão por Reinhold Stephanes Junior.
Diante das ofensivas da base bolsonarista, o Randolfe Rodrigues disse que pretende acionar o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para relatar o episódio de hoje.
Blanco diz que relação com Dominghetti visava mercado privado
Em depoimento hoje à CPI da Covid, o tenente-coronel Marcelo Blanco afirmou que projetava uma "parceria comercial" com o cabo da Polícia Militar mineira Luiz Paulo Dominghetti para vender vacinas contra o coronavírus ao mercado privado.
Na versão da testemunha, fora este o motivo pelo qual ele levou o PM —que se apresentava como lobista da empresa americana Davati Medical Supply— a um jantar com Roberto Dias, então diretor de logística do Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro, no restaurante Vasto, em Brasília.
Foi durante o encontro, descrito por Dias à CPI como um simples happy hour, que o ex-servidor teria, de acordo com Dominghetti, solicitado propina.
A vantagem ilícita teria a seguinte finalidade: levar adiante um acordo entre a Davati e o governo brasileiro para a aquisição de suposto lote de 400 milhões de doses da AstraZeneca. O ex-diretor do ministério nega ter cometido qualquer ilegalidade. Não há provas de que o crime tenha realmente ocorrido. Mesmo assim, Dias foi exonerado do cargo logo depois que o relato de Dominghetti foi publicado originalmente pelo jornal Folha de S.Paulo, em 29 de junho.
Blanco é cobrado pelos senadores do CPI a explicar as circunstâncias de sua relação com Dominghetti. O policial mencionou o depoente como um dos personagens que abriram as portas do Ministério da Saúde para a negociação com a Davati.
Durante a oitiva, o militar confirmou ter atuado como uma ponte entre as partes, mas com uma ressalva: o objetivo era apenas orientar o revendedor quanto aos trâmites comerciais. Ele também negou ter oferecido facilidades aos ofertantes da vacina e/ou solicitado algum tipo de comissão pelo trabalho de intermediação.
Blanco explicou que, de forma privada, nutria o interesse em explorar o potencial mercado de comercialização de vacinas com empresas e seus respectivos donos —embora não existisse perspectiva, à época, de tramitação de um projeto de lei com esse objetivo no Congresso Nacional (ou seja, autorizar legalmente a venda de imunizantes ao setor privado).
O depoente rebateu e citou uma reportagem publicada na imprensa em janeiro, um mês antes do jantar entre Dias e Dominghetti, que já indicava a possibilidade de que o tema poderia ensejar mobilizações favoráveis e contrárias em relação às atividades do Legislativo nacional.
"Eu prospectava na figura do Dominguetti que ele poderia ser um possível parceiro comercial da iniciativa privada. É uma coisa absolutamente distante da outra", disse Blanco ao colegiado, na tentativa de dissociar os seus interesses privados das negociações entre Davati e Ministério da Saúde.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), respondeu então que o coronel havia feito "lobby" e cometido potenciais crimes relacionados a intermediação de interesses. "Não, senhor. Não fiz lobby", retrucou a testemunha.
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