Aziz discute com Marcos Rogério após citação a 'gabinete digital paralelo'
O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), protagonizou bate-boca na sessão de hoje após o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) citar um suposto "gabinete digital paralelo" da comissão que, segundo ele, repassa documentos sigilosos a internautas.
"Houve um hackeamento aos sistemas da CPI! Isso é grave! É grave, é muito grave! Ou realmente existe um gabinete digital paralelo auxiliando o relator desta CPI - e o mais grave! -, tendo acesso a documentos sigilosos? A CPI está sendo coordenada por perfis falsos da internet. Não foi a primeira vez que eu ouvi aqui sendo relatados: 'Recebi de um internauta, recebi não sei de quem'", disse Marcos Rogério.
Aziz rebateu e afirmou ser uma decisão da CPI tornar público alguns documentos.
"E aquelas coisas que a CPI decide que não são sigilosas podem ir a público, podem chegar às mãos de quem quiser. Nós tomamos esta decisão aqui de quebrar sigilos de algumas coisas. Tudo era sigiloso aqui. Chegava tudo sigiloso. E nós tomamos essa decisão. Ele não fala da vida pessoal, não; fala de uma negociata. É uma negociata."
Em seguida, o presidente passou a criticar a defesa do colega ao governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Onde você não vê corrupção, a gente vê corrupção passiva. Onde você não vê administração caótica, eu vejo, o Brasil está vendo. Todos que sentaram aqui, Elcio Franco, Pazuello, Roberto Dias e outras pessoas do Ministério da Saúde mostram quem estava conduzindo a maior crise de saúde do mundo."
Omar Aziz, presidente da CPI da Covid
Em depoimento à CPI da Covid, o tenente-coronel e ex-assessor do Ministério da Saúde Marcelo Blanco afirmou hoje que projetava uma "parceria comercial" com o cabo da Polícia Militar mineira Luiz Paulo Dominghetti para vender vacinas contra o novo coronavírus ao mercado privado.
Na versão da testemunha, fora este o motivo pelo qual ele levou o PM —que se apresentava como lobista da empresa americana Davati Medical Supply— a um jantar com Roberto Dias, então diretor de logística do Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro, no restaurante Vasto, em Brasília.
Foi durante o encontro, descrito por Dias à CPI como um simples happy hour, que o ex-servidor teria, de acordo com Dominghetti, solicitado propina. Blanco nega ter feito qualquer pedido de propina ou que Dias tenha feito o mesmo.
Blanco disse ter feito a intermediação sem esperar nada em troca, ao que Aziz ironizou que o depoente era "muito humano". Em determinado momento, discutiu com Marcos Rogério também sobre o assunto.
"O coronel Blanco fez todo esse esforço a troca de um tapinha nas costas? Você me erre, aqui não tem otário. Vossa Excelência [senador Marcos Rogério] não é nenhum menino para acreditar em conversa da carrocinha", declarou.
Em tom de voz elevado, Aziz disse que Marcos Rogério tentava desqualificar a CPI e que o colega defende um governo "desqualificado, incompetente e irresponsável".
Marcos Rogério respondeu no mesmo tom de voz e disse que Aziz não tem argumentos nem autoridade para criticar o governo Bolsonaro.
"Tenho muito mais autoridade do que o seu líder que deixou o Brasil chegar onde chegou", rebateu então Aziz.
Blanco diz que relação com Dominghetti visava setor privado
O suposto pedido de vantagem ilícita relatado por Dominghetti teria a seguinte finalidade: levar adiante um acordo entre a Davati e o governo brasileiro para a aquisição de suposto lote de 400 milhões de doses da AstraZeneca.
O ex-diretor do ministério nega ter cometido qualquer ilegalidade. Não há provas de que o crime tenha realmente ocorrido. Mesmo assim, Dias foi exonerado do cargo logo depois que o relato de Dominghetti foi publicado originalmente pelo jornal Folha de S.Paulo, em 29 de junho.
Blanco é cobrado pelos senadores do CPI a explicar as circunstâncias de sua relação com Dominghetti. O policial mencionou o depoente como um dos personagens que abriram as portas do Ministério da Saúde para a negociação com a Davati.
Durante a oitiva, o militar confirmou ter atuado como uma ponte entre as partes, mas com uma ressalva: o objetivo era apenas orientar o revendedor quanto aos trâmites comerciais. Ele também negou ter oferecido facilidades aos ofertantes da vacina ou solicitado algum tipo de comissão pelo trabalho de intermediação.
Blanco explicou que, de forma privada, nutria o interesse em explorar o potencial mercado de comercialização de vacinas com empresas e seus respectivos donos —embora não existisse perspectiva, à época, de tramitação de um projeto de lei com esse objetivo no Congresso Nacional (ou seja, autorizar legalmente a venda de imunizantes ao setor privado).
O depoente rebateu e citou uma reportagem publicada na imprensa em janeiro, um mês antes do jantar entre Dias e Dominghetti, que já indicava a possibilidade de que o tema poderia ensejar mobilizações favoráveis e contrárias em relação às atividades do Legislativo nacional.
"Eu prospectava na figura do Dominguetti que ele poderia ser um possível parceiro comercial da iniciativa privada. É uma coisa absolutamente distante da outra", disse Blanco ao colegiado, na tentativa de dissociar os seus interesses privados das negociações entre Davati e Ministério da Saúde.
Omar Aziz respondeu então que o coronel havia feito "lobby" e cometido potenciais crimes relacionados a intermediação de interesses. "Não, senhor. Não fiz lobby", retrucou a testemunha.
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