Sem provas, Bolsonaro acusa TSE de apagar registro de invasão hacker
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro na manhã de hoje e, sem provas, acusou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de cometer crime de obstrução de justiça e apagar registros da invasão hacker ao sistema da corte em 2018.
"Toda vez que alguém entra no computador deixa rastros, chama-se log. Então, tudo que esse hacker fez de abril a novembro de 2018, ele deixou suas pegadas no log. E tão logo começou o inquérito da Polícia Federal, o que o TSE fez? Ele simplesmente apagou os logs", disse o mandatário, em entrevista à rádio 93 - FM Gospel.
Os logs, citados por Bolsonaro, são registros de atividades gerados por programas de computador.
Na sequência, o presidente exemplificou a suposta ação do TSE, comparando a morte de uma pessoa. "Houve um crime, tem um corpo no chão e você vai colher as digitais, só que o perito apaga as digitais, passa um pano em tudo o que é local que poderia ter digital. Isso aí chama-se obstrução de justiça, isso é crime, e o TSE fez isso, apagou todas as pegadas", disse o mandatário
Ontem, o mandatário compartilhou pelo Twitter documentos do inquérito da PF (Polícia Federal) que investigam o comprometimento de sistemas do TSE e disse que "o sistema eleitoral brasileiro foi invadido e, portanto, é violável", sem apresentar provas.
O jornal Folha de S.Paulo noticiou ontem que recebeu, na semana passada, o inquérito citado pelo presidente e consultou diversos especialistas e uma pessoa envolvida na investigação, que foram unânimes: o inquérito não conclui que houve fraude no sistema eleitoral em 2018 ou que poderia ter havido adulteração dos resultados.
Em nota divulgada nesta madrugada, o TSE afirmou que, apesar da invasão do hacker, não houve risco à integridade das eleições realizadas em 2018.
Nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde a adoção da urna eletrônica.
O UOL procurou o TSE e o STF para saber se os órgãos irão se pronunciar sobre as acusações, mas não teve retorno até a última atualização desta matéria.
Bolsonaro mente sobre urna e pede CPI dos equipamentos
Na entrevista, o chefe do Executivo voltou a afirmar que as urnas não são auditáveis e questionou o sistema eleitoral eletrônico.
"A urna não é auditável. Temos dois laudos da Polícia Federal dizendo isso. O que você ver no final da noite de domingo, ao final de uma apuração, se você apertar o botão para recontar tudo de novo vai dar exatamente o mesmo número", declarou Bolsonaro.
Bolsonaro ainda classificou como "vital" para a democracia a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos equipamentos para apurar indícios de irregularidades que ele aponta nos aparelhos. No entanto, o chefe do Executivo ponderou que não sabe se obterá assinaturas no Parlamento para a abertura da comissão e não apresentou provas das supostas fraudes.
Apesar da fala de Bolsonaro, o TSE já explicou que as urnas eleitorais são auditáveis. Segundo o órgão, ao final da votação, o equipamento de votação emite um BU (Boletim de Urna), com informações detalhadas de todos os votos digitados no aparelho. O documento é disponibilizado na porta da seção eleitoral para que os eleitores possam conferir e "comparar o BU apurado de forma eletrônica e divulgado no site do TSE".
Presidente ataca Barroso novamente
Além de questionar o sistema eleitoral, o mandatário subiu o tom das críticas que vem fazendo nos últimos dias a Luís Roberto Barroso, ministro do STF (Supremo Tribunal de Federal) e presidente do TSE. Ele declarou que o ministro tem como bandeiras o "aborto, a legalização das drogas e a diminuição da idade do estupro de vulnerável".
Se continuarmos acreditando no Barroso, deve ter alguma coisa para o PT, com toda a certeza. Alguma coisa o faz lutar contra o voto impresso como se fosse a vida dele. Dizer a vocês, para onde fugirá o nosso povo? Até porque os outros países da América do Sul, estamos vendo, tornando-se vermelho novamente. Como disse agora pouco, peço para repetir, entre as bandeiras do Barroso [estão] o aborto, a legalização das drogas e a diminuição da idade do estupro de vulnerável. É um homem também que não tem religião. Ele fala em ciência, mas se consulta com o João de Deus"
Jair Bolsonaro (sem partido) em entrevista na manhã de hoje
O STF, no início do mês passado, já informou que é mentira que o ministro Barroso seja a favor da diminuição da maioridade para estupro de vulnerável. O Supremo declarou que no julgamento do habeas corpus 122.945, em março de 2017, o ministro se posicionou a favor da manutenção da ação penal contra um jovem de 18 anos que teve relações sexuais com uma adolescente de 13 anos.
À época, Barroso foi redator do acórdão para dar continuidade a ação penal contra o rapaz. Ainda no seu voto, ele afirmou que mesmo que os autos trouxessem "elementos de consentimento da suposta vítima, o fato de ela ser menor de 14 anos justificava a continuidade do processo, em nome da proteção da infância e da adolescência".
Bolsonaro também afirmou que Barroso deve ter alguma relação com o seu concorrente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e que deveria concorrer como vice do petista nas próximas eleições.
"Essa é a pessoa [Barroso] que nós temos dentro do Supremo Tribunal Federal e se [acha] agora, o dono do Brasil. Se ele quer ser presidente, que se candidate. Afinal de contas, ele tem um amor eterno pelo Lula. Poderia ser vice do Lula ou quem sabe convidar o Lula para ser vice dele. E daí ele, com as suas urnas, quem sabe buscar a vitória de umas eleições."
Moraes também é citado
Bolsonaro ainda aumentou o tom contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e disse que a hora dele vai chegar, depois que o ministro determinou investigação do chefe do Executivo no âmbito do inquérito das fakes news por ataques ao sistema eleitoral brasileiro. A notícia-crime acolhida por Moraes foi encaminhada ao Supremo pelo TSE.
Durante a entrevista, Bolsonaro mencionou que Moraes e Barroso têm adotado decisões que fogem da razoabilidade. Ele convocou a população da cidade de São Paulo a se manifestar na Avenida Paulista contra os ministros com o objetivo de "defender a Constituição". "Não podemos continuar com ministros (Judiciário) arbitrários", declarou.
O presidente classificou Moraes como sendo "a própria mentira dentro do STF". Para o presidente, Moraes faz "ações intimidatórias" e "joga fora da Constituição". Em ameaça ao ministro, Bolsonaro afirmou: "A hora dele vai chegar".
O presidente não detalhou ao que se referia quando afirmava que a hora do ministro Moraes se aproxima.
*Com informações da Reuters e do Estadão Conteúdo
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