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CPI ouvirá diretores de empresas ligadas a vacinas e ex-secretário de saúde

19.ago.21 - Francisco Maximiano, sócio-diretor da Precisa Medicamentos, em depoimento hoje na CPI da Covid - Jefferson Rudy/Agência Senado
19.ago.21 - Francisco Maximiano, sócio-diretor da Precisa Medicamentos, em depoimento hoje na CPI da Covid Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília*

19/08/2021 14h14Atualizada em 20/08/2021 16h32

Na semana que vem, a CPI da Covid vai ouvir diretores das empresas Belcher Farmacêutica e FIB Bank, envolvidas em negociações de vacinas contra o novo coronavírus, e o ex-secretário de saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo. A informação foi prestada hoje pelo presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Omar Aziz (PSD-AM).

O primeiro a depor, na terça-feira (24), será Emanuel Catori, diretor-presidente da Belcher. A farmacêutica representava a vacina Convidecia, do laboratório chinês CanSino Biologics. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu arquivar o pedido de uso emergencial da Convidecia no final de junho deste ano após a Belcher e o Instituto Vital Brazil serem descredenciados para representar o laboratório no Brasil, tampouco requisitar o uso emergencial do imunizante.

A CPI quer investigar a ligação do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), na aquisição das doses da Convidecia, da russa Sputnik e da indiana Covaxin, hoje o foco das apurações. As três vacinas são mais caras e teriam de ser compradas de laboratórios internacionais por meio de empresa intermediárias no Brasil com relações com o político paranaense.

A Belcher tem sede em Maringá, no Paraná, terra natal de Barros, investigado na comissão por possível tráfico de influência e vantagem indevida nas negociações com o Ministério da Saúde durante a pandemia. O líder comandou a pasta no governo de Michel Temer (MDB). Senadores de oposição e independentes afirmam que Barros tem laços de amizade com a família dona da Belcher.

O nome de Barros surgiu durante os trabalhos da CPI a partir do depoimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF). De acordo com as versões de Miranda e do irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria dito a eles após ser alertado de problemas contratuais no processo de aquisição do imunizante indiano: "Isso é coisa de um fulano".

Na comissão, as testemunhas declararam que "fulano" era uma referência a Barros, possível articulador de esquema que visava atropelar procedimentos burocráticos e acelerar a importação da Covaxin.

Na quarta (25), a CPI deve ouvir Roberto Pereira Ramos Junior, presidente da FIB Bank. Ao contrário do que o nome dá a entender, a empresa não é um banco e não tem autorização do Banco Central para funcionar como instituição financeira, segundo senadores na comissão.

A FIB Bank está envolvida em suspeitas de irregularidades na carta de fiança oferecida como garantia pela Precisa Medicamentos, liderada por Francisco Maximiano, que depõe hoje à CPI, para o contrato da Covaxin ao Ministério da Saúde.

Já a quinta-feira (26) será dedicada a ouvir o ex-secretário de saúde do Distrito Federal Francisco Araújo. Ele foi denunciado ao lado de outras 14 pessoas pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios em setembro do ano passado a partir da Operação Falso Negativo. O trabalho apurou irregularidades na venda de testes rápidos de diagnóstico para covid-19 ao governo do Distrito Federal. Uma das empresas também investigadas no caso é justamente a Precisa Medicamentos.

Araújo é alvo ainda da Operação Ethon, que apura superfaturamento numa contratação emergencial de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pelo Iges-DF (Instituto de Gestão Estratégica em Saúde do Distrito Federal), no ano passado.

*Com Estadão Conteúdo

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.