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Governadores querem reunião com Bolsonaro para tentar estancar crise

Do UOL, em São Paulo*

23/08/2021 13h02Atualizada em 23/08/2021 19h51

Em meio a ameaças de Jair Bolsonaro e à escalada da tensão entre os Poderes, governadores decidiram propor ao presidente e aos chefes do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) uma de reunião de pacificação e de normalização institucional do país.

"Esse choque permanente [entre os Três Poderes] atrapalha e impede que a economia seja reativada. Estamos buscando uma pacificação", afirmou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, em entrevista ao UOL News, após encontro entre 22 chefes de Executivos estaduais e do Distrito Federal nesta segunda-feira.

Segundo Casagrande, que esteve presente, mais cedo, na reunião com outros governadores realizada em Brasília, os chefes dos Executivos estaduais decidiram que, ainda hoje, um pedido de reunião será enviado ao ministro da Casa Civil do governo federal, Ciro Nogueira (PP).

Na avaliação do governador capixaba, o pedido de audiência com o presidente é um "sinal claro" de que os governadores querem ajudar a "pacificar" as relações institucionais no Brasil.

No encontro do Fórum dos Governadores — com a maioria dos presentes participando de forma virtual — não faltaram críticas ao comportamento de Bolsonaro e houve unanimidade sobre a avaliação de que o clima de instabilidade política é prejudicial para todos. A ideia de um manifesto formal contra o presidente, no entanto, dividiu opiniões, especialmente porque poderia apenas ampliar o clima de instabilidade, sem resolver a situação.

Para sair do impasse e não deixar de mandar uma clara mensagem de insatisfação ao presidente, a ideia de marcar uma agenda com Bolsonaro e com os outros representantes de Poderes foi proposta pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

A sugestão foi tratada pelos governadores como uma espécie de tentativa final de restabelecer alguma normalidade no país e que poderá servir para que Bolsonaro tenha uma espécie de "saída honrosa" para recuar dos ataques que vêm fazendo contra ministros do Supremo e das suas ameaças às eleições do próximo ano.

"Temos de estabelecer que este é um país que tem eleitores do PT, do PSB, do MDB. Mas todos nós trabalhamos com uma única coisa: o bem-estar comum. Quando queremos levar essa conversa para o presidente é porque aqui não tem ninguém nem contra, nem a favor dele. Somos a favor de um país que merece, sim, um tratamento melhor das suas instituições para que a gente entre numa normalidade", disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

O movimento feito pelos governadores é uma reação às ações do presidente, que, nas últimas semanas, intensificou seus ataques a ministros do Supremo e do Tribunal Superior Eleitoral, colocou sob dúvida a realização das próximas eleições e apresentou ao Senado um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes na ultima sexta-feira.

Nesta segunda, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também voltou a pedir a retomada do diálogo institucional e disse que não admitirá nenhum tipo de retrocesso no Estado democrático de Direito.

"Pedi ao ministro Luiz Fux [presidente do STF] que houvesse a iniciativa da reunião entre os Poderes", disse Pacheco durante evento do Secovi, sindicato patronal do mercado imobiliário.

Precisamos dar o mínimo de estabilidade nas relações"
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado

Pacheco ainda disse que não interfere nas decisões do Executivo e, assim, "seria bom outros que Poderes não interferissem no Legislativo".

Governadores em reunião na sede do Governo do DF  - Renato Alves/Agência Brasília - Renato Alves/Agência Brasília
Governadores em reunião na sede do Governo do DF
Imagem: Renato Alves/Agência Brasília

Governadores criticam STF

Governadores mais alinhados a Bolsonaro também reclamaram na reunião de hoje das medidas tomadas pelo STF mandando prender ou investigar aliados do presidente.

Todos têm de reconhecer que não está bem essa história do presidente agredir o Supremo e o Supremo sai prendendo apoiadores do presidente. Isso não está bom para ninguém e não é a pauta que nós queremos para o país" governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), governador do DF

A divergência de visões sobre como tratar a crise com o governo ficou clara nas posições do governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), que discordava de uma manifestação formal de protesto contra Bolsonaro, e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que adotou um tom mais duro.

"O que temos o dever de fazer é defender a democracia, Moisés. E não silenciar diante das ameaças que estamos sofrendo constantemente", disse Doria. "O país sofre uma ameaça constante em relação à democracia. Basta observar as manifestações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro, que flerta com o autoritarismo permanentemente e muitos dos seus ministros endossam isso. Isso afronta os princípios da liberdade, os princípios das instituições, os princípios da democracia e daquilo que nós defendemos e eu sei que você também defende", disse o governador tucano.

Doria ainda demonstrou preocupação com as manifestações de Sete de Setembro, que têm mobilizado os seguidores de Bolsonaro, incluindo setores da Polícia Militar.

"Se já não bastassem as ameaças cada vez mais crescentes nas últimas semanas, teremos nesse mês de setembro manifestações. Não apenas do direito de se manifestar contra ou a favor, mas manifestações ruidosas para colocar em risco a democracia", disse.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), também concordou com essa visão. "Além de ameaçar a democracia, é uma tragédia para a renda e para os investimentos", disse.

O prejuízo que a instabilidade política vem causando na economia foi outro consenso na reunião.

"Estamos saindo da pandemia e a gente precisa de um ambiente de estabilidade. Precisamos de um ambiente de governança melhor. Temos de ter um ambiente de investimentos na economia e isso só se faz quando sentem tranquilidade na política", disse Ibaneis. "Se você esgarçar essa corda mais, nós vamos chegar num ambiente de insustentabilidade", afirmou.

Coordenador do Fórum dos Governadores e governador do Piauí, Wellington Dias (PT), defendeu a criação de um "Pacto pela Democracia", nos moldes do "Pacto pela Vida", proposto pelos mesmos gestores durante a pandemia do novo coronavírus.

"O Brasil precisa criar um ambiente de diálogo e de segurança, principalmente para os investidores", afirmou.

*Com Estadão Conteúdo