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CPI ouvirá 'sócio oculto' de fiadora no caso Covaxin na próxima quarta

Na foto, Marcos Tolentino (à direita) quando a Rede Brasil de Televisão anunciou a contratação de Hermano Henning. Tolentino é presidente da empresa - Divulgação
Na foto, Marcos Tolentino (à direita) quando a Rede Brasil de Televisão anunciou a contratação de Hermano Henning. Tolentino é presidente da empresa Imagem: Divulgação

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

25/08/2021 17h04Atualizada em 25/08/2021 17h06

A CPI da Covid vai ouvir suposto "sócio oculto" da empresa FIB Bank, Marcos Tolentino da Silva, na próxima quarta-feira (1º), informou o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM).

Tolentino é apontado por senadores como o verdadeiro dono da FIB Bank, fiadora da Precisa Medicamentos no acordo para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin pelo Ministério da Saúde. Os parlamentares apuram se a FIB Bank —que não é um banco, apesar do nome— foi utilizada com o intuito de mascarar irregularidades.

O contrato foi celebrado entre o Ministério da Saúde e o laboratório indiano Bharat Biotech em fevereiro deste ano e acabou suspenso meses depois, devido às investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito e do MPF (Ministério Público Federal).

O diretor da FIB Bank, Roberto Pereira Ramos Júnior, prestou depoimento à CPI e foi alvo de diversos questionamentos dos senadores. Ele não soube explicar com clareza as operações da empresa e se calou diante de situações suspeitas apontadas pela comissão.

Júnior também não convenceu os senadores de que o capital social da empresa é de R$ 7,5 bilhões lastreados em dois imóveis. Ala de senadores afirma que um dos terrenos não existe e outro pertence a terceiros.

A convocação de Tolentino havia sido aprovada pela CPI em 5 de agosto.

No requerimento apresentado para a convocação, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), aponta que o endereço de uma emissora de Tolentino, por exemplo, seria o mesmo de uma das duas empresas acionistas do FIB Bank, a Pico do Juazeiro Participações.

Outra empresa acionista do FIB Bank teria o mesmo número de telefone do escritório de advocacia de Tolentino em São Paulo.

Ainda, uma ação de cobrança ajuizada na Justiça por uma construtora, acrescenta Randolfe, indica que Tolentino seria o verdadeiro dono de empresas no nome de Ricardo Benetti, ligado à Pico do Juazeiro.

Hoje à CPI, Júnior negou que Tolentino seja sócio do FIB Bank nem manter relação com ele. Apesar disso, Tolentino tem email institucional do FIB Bank e procuração de Ricardo Benetti, um dos acionistas da empresa, afirmaram senadores.

Os senadores ainda suspeitam que Tolentino seja próximo do líder do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Em depoimento à CPI, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, Luis Ricardo Miranda, servidor concursado do Ministério da Saúde, denunciaram suspeitas de irregularidades envolvendo o contrato da Covaxin.

Ao ouvir denúncia sobre o caso, segundo os irmãos Miranda, Bolsonaro disse que Ricardo Barros poderia estar envolvido no "rolo". O líder do governo nega qualquer irregularidade.

CPI também ouvirá ex-secretário e motoboy

A CPI também vai ouvir outras duas pessoas suspeitas de envolvimento em esquema de corrupção na pandemia na semana que vem.

Na terça (31), a comissão receberá em depoimento o ex-secretário de saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo. Ele foi denunciado ao lado de outras 14 pessoas pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios em setembro do ano passado a partir da Operação Falso Negativo.

O trabalho apurou irregularidades na venda de testes rápidos de diagnóstico para covid-19 ao governo do Distrito Federal. Uma das empresas também investigadas no caso é justamente a Precisa Medicamentos.

Araújo é alvo ainda da Operação Ethon, que apura superfaturamento numa contratação emergencial de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pelo Iges-DF (Instituto de Gestão Estratégica em Saúde do Distrito Federal), no ano passado.

Já na quinta (2), a CPI receberá o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva. Segundo Randolfe Rodrigues, também autor do requerimento para ouvir a testemunha, Ivanildo é "responsável por nada menos do que 5% de toda movimentação atípica feita pela VTCLog", empresa de logística que presta serviços para o Ministério da Saúde na mira dos senadores.

"O Relatório de Inteligência Financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que a VTCLog movimentou de forma suspeita R$ 117 milhões nos últimos dois anos. O nome de Ivanildo Gonçalves é citado várias vezes no documento. Ele chegou a sacar em diversos momentos o montante de R$ 4.743.693. A maioria foi saques em espécie e na boca do caixa", diz trecho do documento.

O senador cita que reportagem do Jornal de Brasília localizou Ivanildo e este teria admitido ter realizado os saques. Ele teria afirmado não entender o motivo pelo qual transportava altos valores em espécie e depositar os valores em contas de pessoas que não conhece.

"Chama a atenção a confiança que os donos da VTCLog depositaram em Ivanildo. Com vencimentos que não ultrapassam um teto de R$ 2 mil mensais, Ivanildo chegou a carregar em sua moto R$ 430 mil no dia 24 de dezembro de 2018, ironicamente, a poucas horas da noite de Natal daquele ano", diz Randolfe no texto.

A VTCLog está na mira dos senadores por possível envolvimento em suspeita de propinas de até R$ 296 mil mensais na pasta da Saúde.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.