Ex-comandante da PM: Bolsonarismo usa de tudo para instalar caos
O coronel da reserva e ex-comandante da PM (Polícia Militar) de São Paulo Glauco Carvalho desaprovou a punição aplicada ao também coronel Aleksander Lacerda, que foi afastado da instituição após atacar o governo de João Doria (PSDB) e criticar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
Entretanto, a postura de Carvalho é por achar que Lacerda, de quem é amigo, não foi punido de forma severa o suficiente pelo que fez. Em entrevista ao jornal Estadão, o ex-comandante disse que, se fosse em outra época, Lacerda sairia do cargo e seria preso.
Para ele, o bolsonarismo se "alastrou" pela PM. "E usa de todos os instrumentos para instalar o caos. Veja o Eduardo Bolsonaro. Ele usou o fato de PM ter o pior salário do Brasil e o uso de câmeras pelos policiais para que os PMs se insurjam contra o Doria", afirmou.
Os fatores que levaram a isso, na análise de Carvalho, incluem uma desvalorização e humilhação de parte da esquerda em relação ao trabalho dos PMs, uma vergonha da profissão causada por isso e o surgimento de Bolsonaro, figura que prometia valorizar a classe.
"Não basta só criticar as Polícias Militares. Precisamos tirar as PMs desse buraco", disse. "O bolsonarismo não tem institucionalidade, ele não tem limites, e tenta destruir todos os valores da instituição. É o que tem de mais indecente na vida pública do país", criticou.
O coronel disse que é importante distinguir entre funcionários da reserva e da ativa militar, porque quem faz parte da ativa ainda representa a instituição. "Há limites éticos na diplomacia, na Polícia Civil e, de forma muita mais acentuada, nas instituições militares", falou.
O limite que o PM pode exercer em matéria político-eleitoral e partidária é zero. Ele não pode criticar a política do Doria, como a do Lula e da Bolsonaro. Isso também vale para Bolsonaro. Quem é da ativa não deve se manifestar porque eles são autoridades constituídas, legal e democraticamente eleitas. O Brasil perdeu seus limites e valores".
Glauco Carvalho
"Eu posso falar porque estou na reserva, mas passei 35 anos sem falar nada. O limite é o limite em que as instituições se balizam", afirmou. Para Carvalho, o maior problema é que Bolsonaro, em tentativa de se manter relevante e no poder, "prega a desinstitucionalização" das Forças Armadas, PMs, Ministério Público e Justiça.
Uma das ideias discutidas para barrar essas situações no futuro é uma "quarentena" de poder, sobre a qual Carvalho disse ser "radicalmente favorável". A proposta é que "policiais, militares, juízes, promotores, delegados, auditores e todas as categorias típicas de Estado permaneçam por um período de cinco anos sem poder se candidatar a qualquer cargo eletivo".
Com isso, o ex-comandante acredita que as tentações de subida ao poder e tensões poderiam cessar. "Espero que essas circunstâncias ajudem o país a sedimentar sua democracia e não viva eternamente sob a égide um facão no pescoço de quem pode e de quem não pode dar um golpe", falou.
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