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Senadores da CPI atacam Bolsonaro por fala na ONU: 'Golpista do cercadinho'

Do UOL, em São Paulo

21/09/2021 12h00Atualizada em 21/09/2021 16h09

Senadores que integram a CPI da Covid criticaram hoje o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por seu discurso na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. Vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), por exemplo, disse que Bolsonaro "mentiu do início ao fim" e deu "vexame mundial" ao insistir em erros do Brasil na pandemia.

Na fala, Bolsonaro voltou a criticar o lockdown, medida já comprovada como eficaz pela ciência, e a defender o chamado tratamento precoce, baseado em medicamentos que não tem eficácia contra a covid-19 e podem ser prejudiciais aos pacientes.

"Bolsonaro mentiu do início ao fim, e ao invés de defender a vacina, criticou o passaporte da vacina, que tem dado resultados bons no mundo todo, e falou sobre um tratamento sem efetividade contra à covid-19! Um vexame mundial!", disse Randolfe.

A CPI da Covid, que investiga a conduta do governo federal durante a pandemia do coronavírus, tem entre seus principais pontos justamente a insistência com o tratamento precoce, sem eficácia e que mobiliza até hoje o presidente.

Além disso, a comissão investiga possíveis irregularidades em contratos de vacina, o que gerou outra ironia de Randolfe. No discurso, Bolsonaro disse que o Brasil não tinha casos concretos de corrupção desde que assumiu o poder.

Mais críticas

Durante a sessão de hoje da comissão, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), também criticou o discurso. "O presidente mentiu do começo ao fim do seu discurso. Vergonhoso. Parece que ele estava falando de outro país que não esse velho Brasil com as contradições que todos nós vemos", afirmou.

Bolsonaro também mentiu sobre a participação de milhões na manifestação de 7 de setembro. Não foram mais do que 30 mil pessoas, e hoje nós sabemos a que custo. O golpista do cercadinho repetiu seu negacionismo e sua limitação cognitiva para todo o mundo. A frieza nas reações, após dez minutos de fake news sobre o Brasil, foi eloquente sobre a sua irrelevância.
Renan Calheiros, relator da CPI

Já o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), foi irônico. "Para quem acha que a CPI ia acabar em pizza, nós vimos ontem o chefe da nação comendo pizza na rua. Isso é uma pizza do outro país, a nossa não dá em pizza."

Nas redes sociais, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), membro suplente da CPI, também citou o "cercadinho" — referência ao local em frente ao Palácio da Alvorada onde Bolsonaro normalmente interage com apoiadores — para criticar o presidente.

"Bolsonaro conseguiu um feito extraordinário: levar o cercadinho à Assembleia Geral da ONU. Ignorou totalmente o Brasil real e falou sobre o país imaginário que flutua na bolha de desinformação das redes sociais. É motivo de vergonha mundial, mas não dá para dizer que é surpresa.", escreveu Vieira, que também é pré-candidato à presidência em 2022.

Outro integrante da CPI da Covid a se manifestar no Twitter, Humberto Costa (PT-PE) foi na mesma linha que Randolfe, dizendo que Bolsonaro "fez um discurso fake e passou vergonha".

Senadores alinhados ao governo que participam da CPI ainda não comentaram sobre o discurso de Bolsonaro da ONU.

A CPI da Covid foi criada no Senado após determinação do Supremo. A comissão, formada por 11 senadores (maioria era independente ou de oposição), investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia do coronavírus e repasses federais a estados e municípios. Teve duração de seis meses. Seu relatório final foi enviado ao Ministério Público para eventuais criminalizações.