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Substituto de Queiroga chora com vacinação e agrada ao pregar união

Rodrigo Cruz, ministro interino da Saúde, que foi aplaudido por secretários estaduais  - Arte UOL/Foto Marcelo Camargo/Agência Brasi
Rodrigo Cruz, ministro interino da Saúde, que foi aplaudido por secretários estaduais Imagem: Arte UOL/Foto Marcelo Camargo/Agência Brasi

Rafael Neves

Do UOL, em Brasília

02/10/2021 04h00

Uma cena inusitada interrompeu um evento do Ministério da Saúde no último dia 30. O ministro interino, Rodrigo Cruz, falava durante o lançamento da campanha nacional de multivacinação quando caiu no choro ao citar a imunização dos próprios filhos pequenos.

Cruz deu uma pausa, bebeu água e foi abraçado pelo Zé Gotinha, que estava em pé atrás da mesa com as autoridades no evento, um mutirão que o governo promove em outubro para colocar em dia as cadernetas de vacinação de crianças em todo o país.

"A gente fica muito tempo longe de casa, esses dias são intensos. Sempre que a gente fala das crianças eu acabo me emocionando", desculpou-se.

Os dias de Cruz têm realmente sido intensos. Engenheiro e advogado por formação, ele se viu aos 40 anos com a inesperada missão de comandar a pasta da Saúde quando o titular, Marcelo Queiroga, anunciou que estava com covid e que precisaria cumprir isolamento em Nova York, onde acompanhou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Assembleia-Geral da ONU.

Cruz foi nomeado secretário-executivo do ministério no final de março no lugar do coronel Élcio Franco, que havia sido exonerado. Mesmo antes de substituir Queiroga, o número 2 já vinha sendo porta-voz frequente do governo para tratar da distribuição de vacinas e outros insumos de combate à pandemia. Já no comando provisório, esteve à frente da retomada da vacinação para adolescentes, que havia sido suspensa pelo titular.

Um dia antes do evento em que foi abraçado pelo Zé Gotinha, Cruz deixou boa impressão na assembleia do Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), que reúne os gestores estaduais.

Na reunião da entidade, a primeira presencial desde o início da pandemia, o interino chegou a ser aplaudido por sua presteza em resolver problemas dos estados. Os secretários gostaram, por exemplo, da solução apresentada por Cruz para retomar os repasses federais destinados a cirurgias eletivas.

Na ausência de Queiroga, o interino tem pregado a união entre governo federal, estados e municípios para fazer avançar a vacinação contra a covid e outras demandas da saúde nacional.

"Eu queria reforçar aqui a importância do Sistema Único de Saúde, que foi colocado à prova durante essa pandemia e mostrou que é forte. Mostrou que é capaz de vencer isso tudo quando os três atores dão as mãos", afirmou o interino aos gestores. Segundo Cruz, divergências políticas são naturais, "mas a gente não pode deixar isso contaminar os trabalhos técnicos".

Rodrigo Cruz abraça Zé Gotinha - Walterson Rosa / Ministério da Saúde - Walterson Rosa / Ministério da Saúde
Em evento no dia 30 Cruz emocionou-se ao falar dos filhos e ganhou um abraço do Zé Gotinha
Imagem: Walterson Rosa / Ministério da Saúde

Discrição

Rodrigo Cruz criou perfis no Instagram e no Twitter em maio deste ano, mas não publica conteúdos de teor pessoal. As postagens limitam-se a descrever o trabalho na Saúde, em especial no combate à covid. Diferentemente de outros membros do alto escalão do governo, ele não faz comentários políticos ou qualquer manifestação em defesa do governo ou de Bolsonaro.

Ao concluir sua tese de doutorado pela UnB (Universidade de Brasília), em 2013, o hoje ministro interino falou brevemente sobre si mesmo e a família nos agradecimentos do trabalho acadêmico. Citou a esposa, a também engenheira Mariana, com quem se casara no ano anterior. À época, ainda não eram nascidos os filhos, Benício e Otávio, que levaram Cruz às lágrimas no evento do ministério.

Na dedicatória, Cruz também agradeceu pelo carinho e o amor da mãe e o "modelo de disciplina" do pai. "Que infelizmente não puxei", confessou no texto. Nascido em Porto Velho (RO), o ministro interino cresceu no Distrito Federal e frequentou o Colégio Marista de Brasília, cujos antigos colegas também foram lembrados na homenagem.

Mesmo antes de assumir a função na pasta da Saúde, Cruz já havia trabalhado no combate à pandemia. No ano passado, ele organizou uma operação que trouxe da China uma série de carregamentos de máscaras, testes para covid e outros insumos. Fez isso na condição de secretário-executivo adjunto da Infraestrutura, pasta onde atuava desde 2016.

O ministro interino é servidor federal da carreira de analista de infraestrutura. Seu primeiro posto, em 2013, foi na secretaria de aviação civil do governo de Dilma Rousseff. Com mestrado e doutorado em engenharia de transportes, foi cedido à Saúde por indicação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, de quem é nome de confiança.

Ironicamente, também foram as credenciais em logística que impulsionaram, no ano passado, a nomeação do ex-ministro Eduardo Pazuello, antecessor de Queiroga na Saúde. Apesar da fama, o ministério sob Pazuello mostrou deficiências de gestão na pandemia, como no episódio da falta de oxigênio em Manaus.

Rodrigo Cruz e Carlos Eduardo Lula - Divulgação/Conass - Divulgação/Conass
Rodrigo Cruz, e o presidente do Conass, Carlos Eduardo Lula: o interino tem a simpatia dos secretários estaduais
Imagem: Divulgação/Conass