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PE: Para testemunhas, atropelamento em ato contra Bolsonaro foi proposital

Concentração para protesto contra Jair Bolsonaro no Recife - MARLON COSTA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Concentração para protesto contra Jair Bolsonaro no Recife Imagem: MARLON COSTA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

04/10/2021 21h36Atualizada em 04/10/2021 21h36

Começaram a ser ouvidas hoje no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) testemunhas do atropelamento de uma advogada de 28 anos que participava do protesto contra o governo de Jair Bolsonaro no Recife, ontem. Até agora, 12 testemunhas já prestaram depoimento.

Segundo a defesa da vítima, as testemunhas, que não se conhecem, afirmaram que o atropelamento foi proposital, com o condutor do veículo partindo para cima de um grupo que estava no ato e depois fugindo.

Já o motorista afirmou que teve o carro depredado e fugiu por medo de ser atacado. Ele é investigado pela Polícia Civil de Pernambuco por tentativa de homicídio.

A vítima é uma advogada integrante da Comissão de Advocacia Popular da OAB-PE (Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Pernambuco). Seu nome não será divulgado a pedido dela, por medida de segurança e para manter sua privacidade. A comissão ainda procura outras pessoas que possam também ter sido atingidas pelo veículo.

A advogada atuava na área da segurança do protesto, caso ocorresse algum conflito, e acabou sendo atingida por um Jeep Renegade conduzido pelo administrador de empresas Luciano Matias Soares, na avenida Martins de Barros, em frente ao Armazém do Campo, no bairro de Santo Antônio, região central do Recife.

Testemunhas relataram que o grupo estava na dispersão quando o carro avançou em cima das pessoas e atropelou a advogada.

Ela está internada em leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Real Hospital Português, em Paissandu, área central do Recife. O hospital não divulgou o estado de saúde dela, mas a OAB informou ser estável.

Segundo a Ordem, a advogada sofreu traumatismo craniano com hemorragia e teve o pé e tornozelo fraturados. A vítima se submeteu a uma cirurgia ortopédica, para colocar dez pinos no pé e no tornozelo. Não há previsão de alta.

"Quanto ao traumatismo na cabeça, há uma hemorragia controlada e que, pela avaliação médica inicial, está estável e não parece ameaçar sequelas futuras", informou a OAB-PE.

A advogada Priscilla Rocha disse que a vítima está em estado de choque devido ao trauma sofrido pelo atropelamento. "Ela vai precisar reaprender a andar e vai ser uma recuperação longa", afirmou.

O condutor do veículo, em entrevista à imprensa local, negou que, ao acelerar o carro, teve a intenção de atropelar manifestantes. Matias Soares afirmou que manifestantes começaram a bater na lataria do carro e o cercaram. Segundo sua versão, a advogada bateu com as mãos no carro dele, mas testemunhas não relataram o ocorrido dessa forma à polícia.

Ele disse que fugiu por medo, mas, logo depois, procurou uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência por dano e depredação do veículo.

A Polícia Civil de Pernambuco informou, por meio do DHPP, que instaurou inquérito policial e está investigando uma tentativa de homicídio "quando uma mulher foi atropelada por um homem após a dispersão de uma manifestação politica".

Segundo a polícia, o investigado registrou, por sua vez, ocorrência de dano/ depredação do seu veículo na Ceplanc (Central de Plantões da Capital). O delegado Elielton Xavier, do DHPP, é quem coordena das investigações.

O UOL perguntou à polícia sobre o teor dos depoimentos colhidos até agora, mas foi informado, por meio de nota, que não serão passados detalhes para não atrapalhar as investigações.

"Todas as providências estão sendo tomadas para o esclarecimento dos fatos. No momento, não é possível fornecer mais informações para não atrapalhar o andamento das diligências. A PCPE se pronunciará em momento oportuno", disse a nota.

Dados do Detran-PE mostram que o veículo que atropelou a advogada tem registro de oito infrações de trânsito, que somam o valor de R$ 2.886,34. As multas são: infrações por dirigir em alta velocidade (duas vezes), transitar na contramão, furar sinal vermelho, transitar em faixa exclusiva de ônibus, estacionar em esquina, utilizar telefone ao volante e estacionar em local de horário proibido. O veículo foi adquirido em 2020 e tem alienação fiduciária.