Após exclusão de colegas por Bolsonaro, 21 cientistas renunciam a medalha
Um grupo de 21 cientistas condecorados com a Ordem Nacional de Mérito Científico, no último dia 3, anunciou hoje que renuncia à indicação (veja lista dos signatários abaixo). A ação acontece em solidariedade a dois cientistas que tiveram a condecoração retirada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), apenas dois dias após a divulgação da lista inicial. Ambos são críticos da forma como o governo federal conduziu o combate à pandemia.
Em carta aberta, os cientistas afirmam que a exclusão dos dois cientistas é "inaceitável sob todos os aspectos" e "uma clara demonstração de perseguição a cientistas".
"Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade científica brasileira nas últimas décadas", diz o texto.
A Ordem Nacional do Mérito Científico reconhece há 28 anos as "contribuições científicas e técnicas de personalidades brasileiras e estrangeiras". A carta dos cientistas ressalta que, por ser um reconhecimento técnico, eles sentem honra por terem sido indicados, já que o mérito científico é o único parâmetro.
Mas a postura do governo federal diante da pandemia de coronavírus foi destacada como exemplo de que a ciência é "ignorada" pelo presidente. Apesar de recusarem a medalha, os cientistas agradecem a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que, junto com membros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, indicam os cientistas para a condecoração.
"Esse ato de renúncia, que nos entristece, expressa nossa indignação frente ao processo de destruição do sistema universitário e de Ciência e Tecnologia. Agimos conscientes no intuito de preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção do processo civilizatório no Brasil", finaliza o documento.
Quem são os excluídos
Adele Schwartz Benzaken é diretora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia, e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda é pesquisador da Fundação de Medicina Tropical "Doutor Heitor Vieira Dourado".
Marcus Vinícius liderou um estudo conduzido no Amazonas que concluiu que a cloroquina não deve ser usada no tratamento da covid-19. O medicamento comprovadamente ineficaz contra a doença é frequentemente defendido por Bolsonaro e seus apoiadores.
Veja quem são os signatários da carta:
Aldo Ângelo Moreira Lima (UFC)
Aldo José Gorgatti Zarbin (UFPR)
Alfredo Wagner Berno de Almeida (UEMA)
Anderson Stevens Leonidas Gomes (UFPE)
Angela De Luca Rebello Wagener (PUC-RJ)
Carlos Gustavo Tamm de Araujo Moreira (IMPA)
Cesar Gomes Victora (UFPel)
Claudio Landim (IMPA)
Fernando Garcia de Melo (UFRJ)
Fernando de Queiroz Cunha (USP)
João Candido Portinari (Projeto Portinari)
José Vicente Tavares dos Santos (UFRGS)
Luiz Antonio Martinelli (USP)
Maria Paula Cruz Schneider (UFPA)
Marília Oliveira Fonseca Goulart (UFAL)
Neusa Hamada (INPA)
Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP)
Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG)
Pedro Leite da Silva Dias (USP)
Regina Pekelmann Markus (USP)
Ronald Cintra Shellard (CBPF)
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