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Quais os prós e contras para Lula e Alckmin em uma eventual chapa?

Improvável, chapa entre Alckmin e Lula ganhou destaque em especulações nos últimos dias - 27.out.2006 - Tuca Vieira/Folhapress
Improvável, chapa entre Alckmin e Lula ganhou destaque em especulações nos últimos dias Imagem: 27.out.2006 - Tuca Vieira/Folhapress

Lucas Borges Teixeira e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

17/11/2021 04h00

Nos últimos dias, o mundo político tem convivido com as especulações sobre uma suposta chapa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pelo Planalto.

A ideia surgiu, segundo fontes, de uma ala do PT de São Paulo. Mas o entorno tanto de Lula quanto de Alckmin —que está de saída do PSDB— consideram improvável essa reunião. Alckmin deverá buscar o quinto mandato como governador de São Paulo.

A aliados, Alckmin disse, na última sexta-feira (12), que está muito próximo de fechar com o PSD e que deverá disputar o governo paulista em dobradinha com o PSB, tendo o ex-governador Márcio França como vice. A chapa com Lula seria uma possibilidade remota, apenas caso haja risco de vitória do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), um risco à democracia, na visão do grupo dele.

Na hipótese de essa chapa se realizar —Lula e Alckmin trocaram afagos nos últimos dias—, o UOL ouviu especialistas e políticos para analisar os possíveis prós e contras de uma união formal entre Lula e Alckmin. Para eles, o PT teria mais a ganhar com essa chapa enquanto o ex-governador, a perder.

Prós para Lula e Alckmin

  • Alckmin complementaria Lula

O ex-presidente perderia de Bolsonaro no Sul e no Sudeste, segundo a mais recente pesquisa do Datafolha. Alckmin é um nome que poderia ajudar o petista nessas regiões. Na equipe de Lula, quando se questiona sobre o perfil do vice, a indicação é de que se busque alguém que faça um papel semelhante ao de José Alencar (PL) nos dois mandatos do petista. Empresário, ele o ajudou a conquistar mais acesso a eleitores mais distantes da esquerda.

Uma união com Alckmin também traria uma feição mais ao centro da candidatura petista, muitas vezes relacionado a um extremo. Uma união com pessoas de espectros políticos diferentes indicaria, a uma parcela da população que não é inicialmente eleitora do ex-presidente, de que ele está cada vez mais aberto ao diálogo, como tem repetido.

Este é um ponto reforçado pelo próprio Alckmin. "A política precisa ser feita com civilidade, com quem tem apreço pela democracia", declarou o ex-governador à imprensa na última semana. Quando questionado se o Lula seria uma dessas pessoas, respondeu: "É claro que tem".

  • PT assumiria liderança na corrida pelo governo de SP

De acordo com a última pesquisa do Datafolha sobre o governo de São Paulo, em um cenário sem Alckmin, a liderança ficaria com o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT). A pesquisa também indicou que Haddad seria o principal herdeiro dos votos do futuro ex-tucano. Haddad é um entusiasta de uma chapa entre Alckmin e Lula.

  • União de adversários contra Bolsonaro

O discurso de defesa da democracia em uma disputa contra Bolsonaro é o que tem imperado nas conversas entre quem pensa em uma aliança entre Lula e Alckmin. Ameaças a instituições poderiam servir de catalisador para unir dois antigos adversários.

  • Volta de Alckmin para o cenário nacional

Na eleição de 2018, mesmo com o maior tempo de exposição na televisão, Alckmin teve o pior desempenho na história do PSDB em eleições presidenciais. O Planalto sempre foi um de seus objetivos. Além do último pleito, ele tentou ser presidente em 2006, sendo derrotado por Lula no segundo turno.

Ao ser vice de Lula, atual líder nas pesquisas, Alckmin ficaria mais próximo de novo desse objetivo após ele ter sido quase que descartado por completo após o desempenho de três anos atrás.

"Depois de ter performado mal em 2018, ter sido escanteado em um dos principais partidos da democracia brasileira, agora ser paparicado tanto por siglas da centro-esquerda quanto da centro-direita, mostra o quanto o legado de Alckmin é gigantesco", analisou o cientista político Henrique Curi, autor de "Ninho dos Tucanos".

Contras para Lula e Alckmin

  • Problemas com o PSB

Alckmin é muito próximo do ex-governador de São Paulo Márcio França, líder do PSB no estado. França assumiu o Palácio dos Bandeirantes após ser vice do ex-governador. O político do PSB tem o desejo de encabeçar uma chapa no ano que vem, mas abriria mão para retomar a parceria com Alckmin.

Caso Alckmin fechasse um acordo para ser vice de Lula, o PSB gostaria ter a candidatura ao governo paulista com o apoio do PT. Mas, entre os petistas, a opção seria por Haddad. Nessa briga, Alckmin tenderia a se manter fiel a França.

"A candidatura do PSB em São Paulo se chama Márcio França", disse o presidente do PSB, Carlos Siqueira, ao UOL.

Ex-vice de Alckmin, ele tem repetido que deveriam lembrar o nome do governador nacionalmente. "Ele é uma das pessoas mais experientes da política brasileira, já teve mais de 50 milhões de votos. Acho que ele tem muito mais ideias nacionais do que locais, ele se preparou para uma eleição nacional."

À reportagem, França também lembrou que perdeu a eleição de 2018 para Doria por uma margem pequena, o que o credenciaria para ser o candidato na ausência de Alckmin e numa aliança com o PT. "Eu disputei a eleição. E acho que muita gente que votou no Doria se arrependeu. E acho que vou ser governador."

  • Alckmin não se "vingaria" de Doria

Ser candidato a governador, líder em todas as pesquisas e voltar ao Palácio dos Bandeirantes seria uma resposta a João Doria (PSDB), atual comandante do estado.

Doria conseguiu protagonismo na política após ser apadrinhado por Alckmin na eleição municipal paulistana em 2016. O ex-governador foi preterido por Doria como candidato a sua sucessão no ano que vem, o que motivou os movimentos de Alckmin para sair do PSDB, partido que ajudou a fundar.

No meio político, impera a tese de que o ex-governador foi traído por Doria. Para Curi, uma eventual chapa com Lula tira a chance de Alckmin "assumir novamente o estado de São Paulo, dando uma resposta ao seu principal algoz, que é o Doria."

  • Eleitorado de Alckmin votaria em Lula?

Adversários no segundo turno da eleição presidencial de 2006, Alckmin e Lula trocaram ataques ao longo daquela campanha. A rivalidade entre PSDB e PT apenas cresceu ao longo das últimas três décadas, o que caracterizou a antiga polarização política no país, gerando rejeição entre as militâncias de cada partido. Isso seria superado em uma chapa entre os dois?

"Essa união, para quem é do centro progressista, não tem como não celebrar", diz a socióloga e professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Heloisa Pait. "Mas os mais radicais, seja de um lado, seja do outro, votariam?"

  • Acerto de Alckmin com PSD ficaria em risco

O PT tem dialogado com o PSB para uma aliança nacional no ano que vem. Uma contrapartida seria a posição de vice de Lula. Alckmin sempre teve convite aberto do partido de Márcio França para se filiar, mas ele está mais próximo do PSD, de Gilberto Kassab. Segundo aliados, o ainda tucano tem um sentimento de confiança pela acolhida que Kassab tem lhe dado. Mesmo sem certeza da filiação de Alckmin, Kassab tem reforçado que estará com o ex-governador em qualquer situação.

Com Alckmin no PSD, para que ele seja vice de Lula, Kassab teria de abrir mão de ter o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, como candidato ao Planalto. Publicamente, o líder do PSD tem reiterado que seu partido terá candidatura própria na disputa presidencial, seja ela com Pacheco ou não.

  • PSOL e PT-SP aceitariam uma chapa com Alckmin?

O PSOL foi um dos principais críticos às gestões de Alckmin no governo de São Paulo. Uma chapa de Lula com o político complicaria as conversas para uma aliança entre PT e PSOL, que, pela primeira vez em sua história, abriria mão de uma candidatura para apoiar outro partido.

A situação fica ainda mais delicada quando se trata do PT paulista. O partido foi o principal opositor de Alckmin em seus quase quatro mandatos no Palácio dos Bandeirantes e a ideia de subir no mesmo palanque não é bem aceita pela maioria dos mandatários. O comentário entre deputados federais e estaduais de São Paulo é que fariam para derrotar Bolsonaro, mas apenas como última opção.

  • Perda de protagonismo de Alckmin

O ex-governador hoje é a principal figura na disputa pelo governo de São Paulo, estado que ele já comandou por quatro mandatos. Na posição de vice de Lula, ele perderia o protagonismo que comandar o estado mais rico do país lhe daria novamente.

"Se o Alckmin topa uma candidatura como essa, ele tende a perder mais porque ele fica sem o protagonismo, sendo que ele já foi um candidato [a presidente] viável em outras eleições", diz Curi.

Quem perderia mais com essa chapa?

Para Curi, o PT tem menos a perder com uma chapa incluindo Alckmin. "O eleitorado no PT está com muito 'sangue nos olhos' para ganhar do Bolsonaro. E já é mais maleável aos conchavos que o partido vai fazer." Por isso, ele acredita que o PT seguirá com seu eleitorado fiel independentemente de ter a figura de um antigo adversário em uma chapa com Lula.

"O eleitorado paulista está muito mais suscetível a virar as costas para o Alckmin do que o eleitorado petista virar as costas para o Lula", diz o cientista político, que ressalta. "O Alckmin é uma pessoa que conversa muito, fala com tudo quanto é sigla. Ouve. Ele não dá ponto sem nó, não."

Para Curi, quem perderia mais mesmo não seria Lula nem Alckmin, mas o PSDB, ao ter um de seus ícones atrelados ao PT, principal adversário dos tucanos. "O PSDB se enfraqueceria. A candidatura de um tucano histórico, que seja a vice-presidente, por outro partido, e formando uma aliança com seu rival histórico, acho que o PSDB tenderia a perder mais força."