Apoiadores de Doria e Leite batem boca na véspera das prévias do PSDB
Os tucanos entraram em pé de guerra na véspera das prévias que deverão escolher o candidato à presidente do PSDB em 2022. Depois de uma amenizada nas tensões nas últimas semanas, apoiadores dos governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) estão trocando acusações e voltaram a falar em judicialização do pleito.
O estopim da nova briga foi a declaração de apoio conjunta do presidente e do coordenador da Comissão de Prévias, o senador José Aníbal (SP) e o ex-deputado Marcus Pestana (MG), respectivamente, a Leite. Responsáveis por organizar a disputa, a oficialização dos votos, que já eram esperados, revoltou a equipe de Doria.
Com o fim do período de campanha, Aníbal anunciou deixar o cargo, em prol de Leite, ontem (19) em um evento na capital paulista com a presença do gaúcho, organizado por Paulinho Serra (PSDB), prefeito de Santo André e principal articulador de Leite em São Paulo.
Já Pestana declarou voto no início da tarde de hoje, em publicação no Twitter. "Venho como fundador e militante do PSDB manifestar meu apoio a Leite como o melhor nome para nos liderar em 2022", disse o ex-deputado.
Além dos dois, compunham a comissão de prévias os presidentes dos diretórios estaduais gaúcho, deputado Lucas Redecker, e paulista, o secretário Marco Vinholi, o senador Izalci Lucas (DF), o deputado Pedro Vilela (AL) e a prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro.
Os votos de Pestana e Aníbal já eram contados para Leite entre os tucanos, mas a declaração pública às vésperas do pleito deixou a campanha de Doria revoltada.
"As raposas estavam dentro do galinheiro. O presidente e o coordenador da Comissão de Prévias, que elaboraram as regras (alteradas sempre com o jogo em andamento) e julgaram recursos, ainda documentam a vergonha imposta ao PSDB", declarou o coordenador da campanha de Doria, Wilson Pedroso, em nota à imprensa.
"É como o presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], um dia antes da eleição, declarasse voto a um dos candidatos. É debochar na cara dos filiados do PSDB", argumentou Pedroso.
No comunicado, a campanha paulista classificou o ocorrido como "falta de idoneidade" e disse que "causou estranheza a parcialidade, antes velada, agora tornada explícita faltando menos de 24h para a eleição".
Em mensagem enviada a Pedroso e encaminhada ao UOL, Pestana argumenta que, na comissão, Vinholi, Cinthia e Izalci já tinham declarado apoio público a Doria, enquanto Vilela e Redecker já haviam feito o mesmo por Leite.
"Eu e o Zé [Aníbal] mantivemos discrição e a Comissão não tem status jurídico de órgão deliberativo. Era um grupo de trabalho e de assessoria que preparava as decisões mas quem decidia era a Executiva. Esgotado nosso papel, eu resolvi externar respeitosamente", responde Pestana.
"Não sou galinha nem raposa. Sou fundador do PSDB e quero o melhor para o partido e para o país. Não me venham você e esse cara [Cesar Gontijo, apoiador de Doria] me dar lições de ética e de moral. Quem fala sobre minha integridade e ética é minha trajetória de 36 anos de vida pública", declarou o mineiro a Leite.
Aníbal foi no mesmo tom e argumentou que a comissão "foi um colegiado escolhido pelo presidente do partido, com a participação de representantes dos candidatos" e que aprovou os regramentos das prévias "por ampla maioria de seus membros [6 a 1]".
"Ontem entreguei ao presidente do partido a função que desempenhei como coordenador das prévias. Em seguida manifestei meu apoio a Eduardo Leite. Qual o problema? Agora atacam minha posição de forma injuriosa. Por que perderam nos critérios das prévias? Por que perderam na tentativa de fraude? As verdadeiras raposas felpudas parecem inconformadas", declarou Aníbal.
O clima pesado se alastrou entre as redes de apoiadores de ambos. Figurinhas de WhatsApp que zombam do apoio do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) a Leite e da antiga relação entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltaram a ser compartilhadas.
Entre apoiadores de Doria, voltou ainda a sondar uma antiga ameaça de judicialização da disputa. Oficialmente, a campanha diz não considerar antes de ter o resultado nas urnas.
Doria elogia Leite, mas alfineta Aníbal
Em meio à polêmica entre a militância, Doria elogiou Leite, afirmando que o gaúcho é "um bom nome", "um bom governador", e "uma figura expressiva, apesar da juventude".
Ainda de acordo com o governador paulista, a realização de prévias fortalece o PSDB e o coloca na "vanguarda democrática". Após a votação, segundo ele, a legenda continuará unida em torno de um único nome.
"Não há crítica a qual candidato será o vencedor. Será o vencedor aquele que vencer, que tiver o maior número de votos, 50% mais um. Esse será o candidato abraço pelo PSDB e que poderá liderar o partido no bom diálogo, no bom entendimento, com outros partidos e outras lideranças para compor a terceira via", disse.
Doria disse ver com "naturalidade" o apoio de Aníbal e Pestana a Leite, mas alfinetou o senador paulista, que assumiu a vaga depois que José Serra se afastou do cargo para se tratar da doença de Parkinson.
"O senador José Aníbal disputou duas prévias comigo e foi derrotado duas vezes. Portanto, que encontre o seu papel e, mais uma vez, quem sabe, receba a sua terceira derrota em menos de seis anos em prévias do PSDB. Vejo com naturalidade, faz parte do processo democrático", afirmou Doria.
Disputa voto a voto
Os tucanos vão às urnas amanhã com disputa voto a voto entre Doria e Leite. O ex-senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) também participa do pleito. O voto será presencial em Brasília ou via aplicativo em todo o país, com regras diferentes para a votação. Os filiados foram divididos em quatro grupos distintos o que acaba dando mais força a certos representantes.
- Governadores, vices, ex-presidentes, presidente, senadores e deputados federais: 25%
- Prefeitos e vices: 25%
- Vereadores (12,5%) e deputados estaduais (12,5%): 25%
- Filiados: 25%
Segundo o partido, quase 45 mil filiados se inscreveram. Entre eles, todos os quase 50 medalhões (governadores, vices, senadores, deputados federais e ex-presidentes), deputados estaduais e quase 90% dos mandatários.
Com base nos cálculos das respectivas campanhas, Doria deverá triunfar entre filiados, visto que São Paulo concentrou 62% dos inscritos, enquanto Leite leva vantagem entre os medalhões. O grupo de prefeitos e vices está bem dividido e o de vereadores é uma incógnita.
No cenário atual, São Paulo representa 35,6% de toda a votação, já considerando os pesos de cada grupo, enquanto o Rio Grande do Sul, 6,8%. Ainda é difícil prever um vencedor.
*Colaborou Hanriksson de Andrade, do UOL em Brasília
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