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Bolsonaro diz duvidar de diálogo de Moro: 'Quero ver num carro de som'

Sergio Moro e Jair Bolsonaro abraçados - Pedro Ladeira/Folhapress
Sergio Moro e Jair Bolsonaro abraçados Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colaboração para o UOL, em Brasília

22/11/2021 21h57

Em conversa com apoiadores, no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a entrada de seu ex-ministro da Justiça, o ex-juiz Sergio Moro, na política, questionando a capacidade do ex-aliado de conversar com a população durante campanha.

"Não tô acompanhando esse cara. Ficou comigo [no Ministério da Justiça] um ano e pouco aí. Eu quero ver ele num carro de som falando com o povo. Só isso e mais nada", disse. Sobre outros concorrentes, Bolsonaro disse que "não consegue ir no boteco tomar uma branquinha e voltar... Têm que tomar em casa".

Antes, o presidente Bolsonaro havia ironizado o discurso de filiação do ex-ministro ao Podemos. Em conversa com apoiadores no início do mês, o chefe do Executivo disse que o ex-juiz "não aprendeu nada" quando comandava a pasta.

"Vocês gostaram do discurso lido pelo cara ontem? O cara leu? Eu assisti porque foi meu ministro, né? Li o discurso, tinham 2 teleprompter lá. Não aprendeu nada, não aprendeu nada. Ficou um ano e quatro meses ali, não sabe o que é ser presidente nem ser ministro", disse.

Em sua fala, o ex-juiz afirmou que não teve apoio do governo para combater a corrupção quando esteve no cargo. Além disso, ele disse que a sua entrada na política "não é um projeto pessoal".

Internamente, o Podemos espera lançar Moro no pleito à presidência da República em 2022. O presidente Bolsonaro, por sua vez, ainda estuda em que legenda deve ingressar para disputar a reeleição.

O presidente está sem partido há dois, desde que deixou o PSL, em 2019. No início deste mês, ele havia batido o martelo e decidido que iria se filiar ao Partido Liberal (PL), de Valdemar Costa Neto.

A cerimônia que formalizaria a filiação estava marcada para 22 de novembro, mas foi cancelada. O motivo foi o incômodo do presidente da República com possíveis alianças estaduais do PL em 2022. Entre elas, em São Paulo, onde a sigla planejava estar ao lado de Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de João Doria ao governo.

Hoje, Bolsonaro disse que deve decidir sobre uma filiação "até março". De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para concorrer a cargo por eleição, o candidato deve estar filiado a um partido no mínimo 6 meses antes da data das eleições —ou seja, em março de 2022.

Ciro Gomes também criticou

Em entrevista ao canal MyNews, no YouTube, o candidato Ciro Gomes (PDT), afirmou que o ex-juiz Sergio Moro é "uma filial deplorável de Bolsonaro". Questionado sobre as virtudes de seus possíveis concorrentes ao Planalto em 2022, Gomes disse que "Moro e Bolsonaro, não dá".

"Moro é um corrupto. O establishment quer fazer o Moro [acontecer] a força. Moro é uma filial deplorável de Bolsonaro. Estamos numa República. Um juiz julgou um político, tirou dele os direitos políticos, e —em seguida— foi ser ministro do político que ganhou a eleição porque aquele político [Lula] não participou por causa de uma sentença dele. Isso é de uma ladroeira, de uma corrupção", disse.

Ciro negou se sentir ameaçado por Moro em 2022 e elogiou Lula. "Lula pegou salário mínimo valendo US$ 120 e entregou a US$ 320 a poder de compra. Pegou o crédito como proporção do PIB [...] e entregou com 57%. Não tenho medo do Moro. Tenho coragem de mamar em onça", disse.

O volume de crédito, que representava 26% do PIB, em dezembro de 2002, atingiu 45,2% do PIB, em dezembro de 2010. Segundo o Ipea, quando Lula assumiu o governo, em janeiro de 2003, o salário mínimo, em paridade de poder de compra, era de US$ 154,69. Paridade de poder de compra (PPC) é uma medida em dólar utilizada para indicar quanto uma determinada moeda [no nosso caso, o real] poderia comprar se não fosse influenciada pelas razões de mercado ou de política econômica que determinam a taxa de câmbio. Em janeiro de 2011, quando Dilma Rousseff assumiu o governo, o salário mínimo, em PPC, subiu para US$ 327,24.

Moro e Odebrecht

Ciro Gomes citou ainda o envolvimento de Moro com consultoria Alvarez & Marsal. "Moro destruiu a construção pesada brasileira. Você manda prender pessoas e salva as empresas e os trabalhos. O Moro destruiu a Odebrecht. E sabe onde ele trabalhava até ontem? Para empresa contratada para gerir a massa falida da Odebrecht. Ele é um picareta", afirmou Ciro.

Em fevereiro, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu à corte a suspensão de qualquer pagamento à Alvarez & Marsal, no âmbito da recuperação judicial da Odebrecht até que o papel do ex-juiz na derrocada econômica da empreiteira seja avaliado pelo tribunal.

A empresa de consultoria global de gestão de empresas Alvarez & Marsal, administradora judicial do processo de recuperação do Grupo Odebrecht, anunciou em 2020 a contratação do ex-ministro de Moro como sócio-diretor para atuar na área de disputas e investigações.

A apresentação destacou a atuação do ex-juiz na Operação Lava Jato. O anúncio da contratação foi feito por meio do site da empresa e, segundo a divulgação, "está alinhada com o compromisso estratégico de desenvolver soluções para as complexas questões de disputas e investigações, oferecendo aos clientes da consultoria e seus próprios consultores a expertise de um ex-funcionário do governo brasileiro".

Enquanto juiz federal em Curitiba, em junho de 2015, Moro ordenou a prisão do ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em uma das fases da Lava Jato. Em março do ano seguinte, também condenou Marcelo a 19 anos e quatro meses de prisão por crimes como corrupção e organização criminosa.

Na sentença, Moro considerou que Marcelo repassou R$ 109 milhões e US$ 35 milhões em propina a agentes da Petrobras. "O comportamento adotado pela Odebrecht e por seu presidente Marcelo Bahia Odebrecht não é consistente com o que seria esperado da empresa e de executivo que de fato não tivessem responsabilidade pelas contas secretas no exterior e com o pagamento através delas de propinas. O comportamento esperado seria o de reconhecer a falta e identificar dentro da corporação os executivos individualmente responsáveis por comprometer o nome e a reputação da companhia", escreveu em um trecho da sentença.

No ano passado, a 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Justiça de São Paulo concedeu nesta segunda-feira (27) a recuperação judicial da Odebrecht S.A. e outras 11 empresas do grupo.

A recuperação judicial da Odebrecht é a maior da história do país, com dívidas totais estimadas em R$ 98,5 bilhões. Desse valor, R$ 54 bilhões são alvo da reestruturação, enquanto o montante restante diz respeito a dívidas entre companhias do próprio grupo e créditos extraconcursais, que não entram no processo.