Palanque literário: presidenciáveis publicam livros de olho na eleição
Antes de chegar às urnas no ano que vem, a campanha presidencial já começou nas livrarias. Ao menos cinco prováveis presidenciáveis já lançaram ou vão lançar livros com foco na política, em obras que têm um olho na disputa eleitoral e acabam se transformando em palanque.
Há desde a biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lançada este mês pela Companhia das Letras, até o relato das experiências na magistratura e na política de Sergio Moro (Podemos), ex-juiz e ex-ministro de Jair Bolsonaro (sem partido). A obra de Moro, editada pela Sextante, estará disponível no final da semana que vem.
"O momento histórico que nós vivemos tem levado à busca por projetos que tratam de projeto de nação, que tratam de política brasileira", diz Otávio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras. "Acho que há muita inquietação, angústia por parte dos leitores. Então isso se traduz num interesse crescente por política brasileira."
Além da obra sobre Lula e o livro de Moro, os leitores já têm à disposição publicações de Ciro Gomes (PDT), Luiz Felipe d'Avila (Novo) e Aldo Rebelo (sem partido).
"Absolutamente relacionado"
O de Ciro foi lançado em junho do ano passado pela editora Leya, e chegou a ser finalista, na categoria Ciências Sociais, do Jabuti deste ano, considerada a premiação mais importante da literatura brasileira. Ele, porém, não ganhou o prêmio.
Leila Name, diretora-geral da Leya, entende que o livro de Ciro tem objetivo político. "Do ponto de vista do autor, Ciro Gomes, esse livro está absolutamente relacionado à candidatura política. Nós sabemos disso. E, de verdade, não enfrentamos nenhum problema com isso", disse. "É uma falácia a gente achar que os conteúdos não estão a serviço de manifestações político-sociais."
Quando procurou Ciro, Name diz que o objetivo da editora era "trazer conteúdos que sejam fundamentados, que não sejam fake news, que promova um bom debate". "Faria de outros candidatos. Inclusive, não sou filiada ao partido do Ciro, não tenho uma liga, 100% de alinhamento", reforçando que todas as informações do livro foram checadas pela editora. "Não é um livro panfletário, ele é muito bem fundamentado, traz uma análise histórica."
Livro para pré-candidatura
Uma reflexão sobre o país e apresentação de ideias também é o foco de "O Quinto Movimento: Propostas Para Uma Construção Inacabada", de Rebelo.
Para ele, "a pré-candidatura é muito mais consequência do livro do que o livro consequência dela". "O objetivo da pré-candidatura é fazer o debate sobre essa agenda, esse roteiro de propostas para uma retomada da construção do país, uma construção inacabada."
Presidenciável do Novo, o cientista político Luiz Felipe d'Avila lançou neste mês uma obra em inglês chamada "The Blessings of Democracy: how democracies transform crisis into opportunities to reinvent themselves" (em tradução livre, "As Bênçãos da Democracia: Como as Democracias Transformam Crise em Oportunidades para se Reinventarem").
Este é o décimo livro de d'Avila, que em agenda de pré-campanha, não conseguiu conversar com a reportagem. Ainda não há data para o lançamento da versão em português do livro.
"Juiz é o leitor"
"Contra o Sistema da Corrupção" é o livro de Moro, que será lançado pelo Sextante. A editora não disponibilizou porta-voz para falar sobre a obra nem trechos para a reportagem.
Na publicação, ele deverá dar sua versão sobre a Operação Lava Jato, a participação no governo Bolsonaro e o fato de ter sido considerado um juiz parcial pelo STF (Supremo Tribunal Federal). "Juiz, agora, é o leitor", disse Moro no material de divulgação da editora.
O UOL apurou que Moro foi procurado por editoras após ter deixado o governo Bolsonaro, em abril do ano passado, e, cerca de dois meses foi feito o acerto. A obra, porém, só pode ser publicada agora porque Moro encerrou seu contrato com a empresa de consultoria Alvarez & Marsal no final de outubro —mesmo movimento que permitiu que ele se filiasse ao Podemos e se colocasse como postulante ao Planalto.
Eventos de lançamento estão previstos para Curitiba, Recife, São Paulo e Rio de Janeiro nas primeiras semanas de dezembro, o que dará mais gás para as agendas de pré-campanha que Moro tem promovido nos últimos dias.
Terceira pessoa
Moro também será figura constante em outro livro: "Lula, Volume 1: Biografia", de Fernando Morais. Publisher da Companhia das Letras, Costa diz que o lançamento da primeira parte da obra agora foi acidental. "O timing é muito bom, devo confessar, mas foi um feliz acidente porque o livro já deveria ter saído há muito tempo", comenta, indicando que a expectativa inicial era para 2015.
A "última página", segundo o publisher, foi entregue por Morais em setembro, o que fez a editora correr para lançá-lo ainda este ano porque não gostaria ter "uma certa distância do calendário eleitoral". O segundo volume deve ser publicado em 2023.
Costa ressalta que, ao contrário dos livros dos demais presidenciáveis, o livro "não é narrado na perspectiva do Lula, mas da do Fernando". "É uma biografia em terceira pessoa, independente."
O livro traz uma visão crítica mais forte em relação a Moro e figuras da Lava Jato do que a apoiadores do presidente, o que, para a Companhia das Letras, pode ser visto como algo "natural". "Todo biógrafo, jornalista forma uma opinião a partir da pesquisa e da apuração. É natural que as pessoas tenham opinião."
"Relevância"
Ter uma biografia de alguém que hoje é rejeitado por parte da população não é vista como problema por Costa. "Sem dúvida, é uma figura que desperta paixões, mas é uma das grandes figuras históricas do Brasil, um de nossos personagens políticos mais relevantes da República. Seja-se crítico, seja-se admirador, é incontestável a relevância", diz. "Não estamos muito preocupados com isso porque temos convicção da importância do livro".
Name defende que sejam publicadas mais obras com pensamento de políticos. "Adoraria que todos os candidatos tivessem um livro. De forma que cada eleitor, quando decidisse como vai se posicionar, tivesse uma agenda para refletir os atos políticos e sua prática como cidadão."
O cenário político do país seria um motivo extra, na visão de Rebelo. "No momento em que o Brasil se desorienta em torno de uma agenda secundária, como se fosse uma espécie de vertigem, que não sabe muito bem o rumo, achei importante que as ideias que amadureci, que as convicções sobre o país fossem postas no papel."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.