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Com Malafaia, Mendonça diz que nomeação ao STF foi 'plano de Deus'

Igor Mello

Do UOL, no Rio

09/12/2021 21h03Atualizada em 10/12/2021 12h29

Em discurso na sede da igreja do pastor Silas Malafaia, André Mendonça disse que sua indicação ao STF (Supremo Tribunal Federal) já estava decidida por Deus. O novo ministro afirmou ainda que o "salto para os evangélicos" mencionado por ele após a aprovação no Senado é "tornar [o mundo] o mais próximo possível o reino de Deus e sua justiça".

Na pregação, acompanhada por uma série políticos — como o governador do Rio, Claudio Castro (PL), e o senador Romário (PL-RJ), além de três desembargadores e uma série de deputados —, ele procurou atribuir sua chegada à mais alta corte do país a um plano divino.

"Hoje é dia de eu agradecer a Deus pela obra dele. Assim como Deus é um Deus de aliança e de promessa em toda a narrativa bíblica, quando ele determina um plano, esse plano não pode ser frustrado", disse. "Não é porque o André tinha que ser aprovado. É que estava estabelecido por Deus antes da fundação do mundo que um menino ia sair dali e chegar aqui".

Mendonça ainda destacou sua trajetória até a cúpula do poder em Brasília.

"[Na sabatina] Eu estava em paz, estava tranquilo. Não que tenha sido cansativo ou difícil, mas sabia que a história já tinha sido escrita", completou.

A visita ao templo da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, fundada e comandada por Malafaia, foi a primeira aparição pública de Mendonça. A escolha foi estratégica: aliado de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PL), o pastor foi um dos mais vocais defensores da indicação do novo ministro do STF, fazendo pressão pública para que a sabatina fosse marcada por Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.

Em sabatina, Mendonça se comprometeu a respeitar estado laico

Após um intenso trabalho de articulação no Senado — que contou com forte pressão de lideranças evangélicas — Mendonça teve a indicação ao STF aprovada no plenário do Senado por 47 votos favoráveis a 32 contrários. Sua sabatina durou cerca de oito horas.

Aos senadores, Mendonça se comprometeu a respeitar o estado laico e a não articular pela revisão de decisões já tomadas pelo Supremo, como a discussão sobre a prisão em segunda instância. Ele também fez um afago aos senadores — vários deles alvos de inquéritos — ao dizer que em sua visão delações premiadas não são prova, se afastando do lavajatismo.

Indicado para o cargo em julho, Mendonça foi aprovado depois de mais de quatro meses de espera, devido à resistência do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ, em agendar a sabatina. O futuro ministro deve tomar posse do cargo ainda neste ano e acabar com o desfalque no STF, que passou todo o semestre com apenas 10 integrantes.

Mendonça foi aprovado com a margem mais apertada entre todos os atuais ministros do STF. Os 32 votos contrários que teve superaram as 27 rejeições que teve o ministro Edson Fachin, recordista anterior no quesito, em 2015, quando foi sabatinado. Antes de ter o nome levado ao plenário, Mendonça foi aprovado por 18 votos a 9 na CCJ, uma rejeição também superior aos futuros colegas de Corte.

Malafaia ataca críticos de nomeação

Fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia fez um discurso exaltado em defesa da nomeação de Mendonça —eecolhido pelo presidente Jair Bolsonaro por ser "terrivelmente evangélico".

Aliado de primeira hora de Bolsonaro, ele atacou os críticos da escolha de um ministro do STF por critério eminentemente religioso.

"Se a indicação de André Mendonça fere a laicidade do Estado, o estúpido que disse isso quer dizer que no STF não pode ter católicos, espíritas ou judeus. Só pode ter ateus ou pessoas sem religião. Deixa de ser estúpido!", disparou o pastor.

Malafaia ainda disse "esquerdistas", "comunistas" e "marxistas" "tentam alienar o povo evangélico do processo político".

Ao convidar Mendonça a subir ao púlpito, Malafaia adotou um tom jocoso com o aliado: "Aqui ele é pastor".

A sede da igreja de Malafaia, localizada no bairro da Penha, na zona norte do Rio, estava próxima da lotação máxima —os organizadores esperavam cerca de 6 mil pessoas no culto. Os presentes usavam máscara, mas não havia distanciamento.