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Bolsonaro critica Deltan e 'pessoal da Lava Jato': 'Falta de caráter?

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

15/12/2021 11h34Atualizada em 15/12/2021 18h43

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar hoje o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e que, assim como o ex-juiz Sergio Moro, filiou-se ao Podemos e deve efetivar no ano que vem a migração para a política.

Moro surge nas pesquisas como uma alternativa de "terceira via" em relação ao duelo entre Bolsonaro, que tentará a reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que representa o campo oposicionista (principalmente partidos de esquerda).

Os ataques a Deltan são uma tática na tentativa de minar o crescimento de Moro, que deve disputar votos com Bolsonaro em espectro ideológico concorrente (direita e conservadores).

Bolsonaro afirmou hoje que deve abordar em sua próxima live, tradicionalmente realizada às quintas-feiras, o que chamou de "tráfico de influência do Deltan". Na versão do presidente, o ex-procurador tentou junto ao colega de MPF (Ministério Público Federal) Vladimir Aras fazer uma espécie de lobby para supostamente interferir na indicação para a chefia da PGR (Procuradoria-Geral da República), hoje com Augusto Aras (primo de Vladimir) à frente.

As alegações de Bolsonaro são contestadas publicamente por Deltan, que afirmou anteriormente, em entrevista à imprensa, nunca ter procurado o presidente com tal finalidade.

Disse Bolsonaro hoje a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, a residência oficial da chefia do Executivo:

"Mostrar na live aí o tráfico de influência do Dallagnol. Olha só, hein, pessoal. É bom gravar aí. Naquela operação da Vaza Jato, a troca de mensagens lá, tem uma onde o Vladimir Aras, primo do Aras, não tem nada a ver um com o outro, pergunta ao Dallagnol... 'Você conhece o pastor da primeira-dama?'. 'Conheço'. Perguntaram à frente né... 'Dá para marcar uma audiência com ele?'. 'Dá'. Já telefonei, pode ligar para ele."

"Sabe o que o Vladimir Aras e o Dallagnol queriam, via minha esposa? Colocar um nome na PGR (...) [de interesse da Lava Jato]. Aí ele diz que nunca me procurou. Então estou demonstrando hoje... Vaza Jato aí, entre outras coisas."

Bolsonaro também afirmou que, na visão dele, "a maioria do pessoal da Lava Jato votou no Haddad". E acusou os membros da força-tarefa de "hipocrisia" e "falta de caráter".

"Você sabia que no segundo turno a maioria do pessoal da Lava Jato votou no Haddad? Não era o pessoal que estava combatendo a corrupção, o PT? E está lá na troca de mensagens entre eles também."

"Hipocrisia não. Isso é falta de caráter. Desculpa aqui, hipocrisia serve também."

Indagado sobre as eleições do ano que vem, Bolsonaro pediu que os apoiadores ficassem "tranquilos" e afirmou que "a política é um self-service".

"O que é a política. Um self-service. É o que tem na mesa. Não dá para pedir lagosta. Não tem? Não tem. Então o povo tem que entender o que é bom e o que não é bom. Tem milhares de pessoas melhores do que eu por aí. Milhares não... Dezenas de milhares. Mas não são candidatos."