Bolsonaro contraria indicações da ciência e diz que não vai vacinar a filha
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a desacreditar a vacinação infantil contra a covid-19, já autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para a faixa etária de 5 a 11 anos e em curso em muitos países, como os Estados Unidos.
Em viagem a São Francisco do Sul (SC), onde deve passar o fim do ano, Bolsonaro disse que não vai vacinar a filha Laura, de 11 anos. "Minha filha não vai ser vacinada... Deixar bem claro. Ela tem 11 anos de idade", falou o presidente.
A decisão vai na contramão do que recomenda a ciência. Na sexta-feira (23), cerca de 80 especialistas em saúde elaboraram um documento em defesa da vacina contra a covid-19 para crianças de 5 a 11 anos. "Dados publicados demonstram que crianças têm risco de desenvolver quadro clínico grave de covid-19, mesmo as que não apresentam comorbidade ou imunocomprometimento", diz o texto.
A Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Infectologia também divulgaram seus pareceres em prol da vacinação infantil contra a covid-19.
"Temos mais de 25 milhões de crianças entre três e 11 anos não vacinadas, que estão desprotegidas", alerta Paulo Martins-Filho, epidemiologista chefe do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS (Universidade Federal de Sergipe). "É de fundamental importância imunizar essas crianças o quanto antes", diz o especialista, principalmente levando-se em conta a retomada das aulas de forma presencial no ano que vem.
Além de dizer que não vai vacinar a filha, Bolsonaro sinalizou diversas vezes que ele próprio não foi imunizado contra a covid-19, uma postura que o deixa completamente isolado entre os demais líderes de países do mundo. A maioria não só tomou a vacina como o fez em cerimônia pública, como forma de incentivar os cidadãos dos seus países a também se vacinarem.
O avanço da vacinação é considerado o grande responsável pela redução do número de mortes por covid-19.
Já a primeira-dama Michelle Bolsonaro, mãe de Laura, se vacinou contra a covid-19 nos Estados Unidos, em setembro deste ano.
Em live realizada em 16 de dezembro, Bolsonaro afirmou que a decisão sobre vacinar ou não a filha caçula não estava tomada. E observou que conversaria sobre o assunto com a primeira-dama, Michelle.
'Interferência' do Judiciário
Em Santa Catarina, o presidente disse ainda que espera "que não haja interferência do Judiciário" na decisão sobre a vacinação infantil. O Ministério da Saúde anunciou, na semana passada, a intenção de só liberar a vacina contra a covid-19 para crianças mediante pedido médico. Em resposta, diversos estados disseram que não irão acatar a obrigatoriedade do pedido médico.
Também em resposta ao anúncio do governo, o partido Rede Sustentabilidade pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o Ministério da Saúde seja obrigado a disponibilizar vacinas para crianças de 5 a 11 anos de forma imediata.
"É facilmente perceptível que a pretensão de aval médico para cada vacina individualmente considerada é um grande embaraço ao avanço da vacinação infantil no Brasil", disse a Rede.
Ainda no âmbito da ação da Rede, na sexta-feira (24), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski determinou que o governo se manifestasse a respeito em 5 dias.
O presidente disse ainda que o ministro da Saúde Marcelo Queiroga deve divulgar em 5 de janeiro "nota de como acha que devem ser vacinadas as crianças".
O tema é alvo de uma consulta pública inédita lançada pelo Ministério da Saúde, que fica aberta para receber contribuições até 2 de janeiro. A consulta vem sendo criticada por especialistas, que argumentam ser esse um assunto técnico, já aprovado pela Anvisa desde 16 de dezembro e também da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19.
Hoje, em Santa Catarina, Bolsonaro voltou a dizer que não estão morrendo crianças por covid-19 de forma a justificar a aplicação da vacina nessa faixa etária. "Não vem morrendo crianças que justifique uma vacina nas crianças. Não justifica isso aí", disse Bolsonaro.
A fala do presidente, que já havia sido dita pelo ministro da Saúde Marcelo Queiroga e pelo próprio Bolsonaro, já foi desmentida por especialistas em saúde pública.
Levantamento feito na plataforma Sivep-Gripe, do Ministério da Saúde, aponta que o Brasil teve 6.163 casos de síndrome respiratória grave entre crianças de 5 a 11 anos desde o início da pandemia. Destes, 301 resultaram em mortes.
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