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Governistas apoiam decisão de Bolsonaro de não cancelar férias para ir à BA

Luciana Amaral e Lucas Valença

Do UOL, em Brasília

29/12/2021 16h56Atualizada em 29/12/2021 19h56

Mesmo com a ponderação de que uma nova ida às áreas afetadas por enchentes na Bahia poderia ajudar a amenizar críticas e ser boa para a imagem de Jair Bolsonaro (PL), parlamentares governistas procurados pelo UOL defenderam a decisão do presidente de não encerrar seu período de férias em São Francisco do Sul, em Santa Catarina.

O mandatário já declarou que não pretende abandonar seu período de descanso. A previsão é que ele retorne a Brasília na semana que vem. No Sul, Bolsonaro andou de moto aquática, cumprimentou apoiadores, visitou o deputado federal Coronel Armando (PSL-SC) —logo depois diagnosticado com covid-19— e saiu para pescar. Enquanto isso, tem delegado a seus ministros a responsabilidade pelas contenções dos danos na Bahia.

Antes, Bolsonaro havia passado alguns dias no Guarujá, litoral de São Paulo, quando dançou funk em uma lancha.

Em conversa com a reportagem, um senador ligado ao Palácio do Planalto afirmou que "seria interessante" o presidente ir à Bahia, mas ponderou dizendo que a presença dos principais ministros já tem contribuído com ações em prol da população do estado, em especial, com a liberação de recursos pela União.

O líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), buscou ressaltar que Bolsonaro já visitou a Bahia e que as críticas são usadas politicamente visando as eleições de 2022, ainda mais que o estado é comandado por Rui Costa, do PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ser seu principal adversário à reeleição ao Planalto.

Bolsonaro foi ao estado em 12 de dezembro para sobrevoar cidades atingidas pelas fortes chuvas. Contudo, as áreas afetadas e os danos sofridos pela população aumentaram desde então.

Com 21 mortos e 358 pessoas feridas em decorrência das chuvas, a Bahia contabiliza mais de 77 mil pessoas que foram obrigadas a deixarem suas casas —34 mil delas estão desabrigadas. O último balanço da Defesa Civil, divulgado ontem, diz que 470 mil pessoas foram afetadas em 136 cidades —os municípios declararam situação de emergência, o que representa cerca de 30% do estado.

"A enchente continuou, mas ele já foi lá. Não tem justificativa para essa cobrança. Ele foi, mantém os ministros ajudando e editou Medida Provisória com R$ 200 milhões para ajudar. Não há o que se cobrar do presidente. O acidente é o mesmo. Cada vez que chover ele tiver que ir à Bahia, como vai fazer? Vai ter que ir em todos os estados?", afirmou Ricardo Barros.

O UOL procurou a Presidência da República sobre as críticas, mas sua assessoria de imprensa não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Outro líder bolsonarista do Congresso, sob reserva, admite que a forma como o presidente lida com a situação hoje pode não ser a melhor para os aliados governistas.

Em sua avaliação, Bolsonaro nem sempre capitaliza como poderia em cima das atividades do governo federal. "Quando ele aparece, geralmente, a gente fica até com medo, porque faz coisa controversa. A gente pode não concordar, mas ele é diferente."

Porém, o líder também segue as argumentações de Ricardo Barros. Ele defende as ações tomadas pelo governo federal, como o apoio dado pelas Forças Armadas e a Medida Provisória de R$ 200 milhões para a recuperação de rodovias de Bahia, Amazonas, Minas Gerais, Pará e São Paulo.

O Ministério da Defesa informou que a Marinha está transportando bombeiros e cestas básicas aos desabrigados, por exemplo. As Forças Armadas também atuam no transporte de água potável, remédios, equipes médicas, roupas e produtos de higiene, fora a desobstrução de vias interditadas pelos temporais, completou.

Hoje, o ministério disse que o Exército resgatou indígenas da aldeia Caramuru, então ilhados no município de Pau Brasil.

Um dos principais deputados federais bolsonaristas, Carlos Jordy (PSL-RJ) escreveu hoje no Twitter que "não importa o que ele [Bolsonaro] faça".

"Mesmo que esteja fazendo o certo, presidente Bolsonaro sempre será criticado pelos agentes do caos!", completou junto a um vídeo do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, com fala no mesmo sentido de que Bolsonaro é criticado por qualquer ação tomada.

Bolsonaro postou hoje, nas redes sociais, vídeos de um helicóptero com mantimentos e de mais um passeio de moto aquática.

A primeira postagem, realizada no Twitter nesta manhã, foi da aeronave com ajuda. As imagens têm duração de 11 segundos e não detalham onde a gravação foi feita nem quando.

No texto, Bolsonaro também diz: "Continuamos na Bahia". E acrescenta que informações são "atualizadas constantemente". Em seguida, marcou uma série de perfis de ministérios e ministros, além das Forças Armadas, da Caixa Econômica Federal e da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.

Mais tarde, pouco depois das 13h30, Bolsonaro publicou um novo vídeo, no Facebook, em que aparece pilotando uma moto aquática acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da filha do casal, Laura.

Por se recusar a interromper o recesso para acompanhar mais de perto a situação na Bahia, Bolsonaro é criticado nas redes sociais e tem sido alvo de membros da oposição, que consideram "falta de empatia" a atitude do presidente. Além disso, políticos baianos reclamam do volume de recursos liberado pelo governo federal para o enfrentamento do desastre.

Deputado aliado ao presidenciável Ciro Gomes (PDT), Félix Mendonça Jr (PDT-BA) avalia que o presidente Bolsonaro deveria ter dado mais atenção à Bahia.

"Tudo bem, ele mandou ministros, mas, num momento desses, é bom ter o presidente da República, quem vai tomar as decisões mesmo, presente vendo o problema. Nisso ele faltou para com a Bahia", afirmou.

Vitoria Rocha, 81, segura a foto dos pais após encontrá-la nos escombros da casa onde morou por quase 40 anos que foi destruída por enchentes, em Itambé, Bahia - Amanda Perobelli/Reuters - Amanda Perobelli/Reuters
Vitoria Rocha, 81, segura a foto dos pais após encontrá-la nos escombros da casa onde morou por quase 40 anos que foi destruída por enchentes, em Itambé, Bahia
Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Do mesmo jeito que governistas criticam uma suposta politização da tragédia na Bahia para críticas a Bolsonaro, Mendonça diz que o governo de Rui Costa está sendo alvejado por prefeitos de oposição à gestão estadual. Ainda assim, admite que "essa questão política atrapalha muito".

"As pessoas devem esquecer por um momento que são adversários. As eleições vão acontecer em outubro do próximo ano, não agora", afirmou.

Parlamentares baianos conversaram ontem com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em busca de agilizar o acesso a recursos para mitigar danos causados pelas enchentes no estado.

A criação de um fundo emergencial para assistência em casos de catástrofes foi discutida, mas o entendimento atual é de que qualquer votação de proposta no Congresso Nacional só acontecerá no retorno do recesso parlamentar.

Em entrevista ao UOL News ontem, o senador Otto Alencar (PSD-BA), ex-integrante da CPI da Covid, criticou a continuidade das férias do presidente Bolsonaro e disse que o mandatário tem "fugido dos problemas" do país.

"Não é coisa para quem é presidente da República, com responsabilidade, deixar de estar presente no estado, tomando providência junto com o governador", afirmou.