Hospital e Planalto não explicam quem bancou avião para médico de Bolsonaro
O hospital Vila Nova Star, em que Jair Bolsonaro (PL) ficou internado no início de janeiro, em São Paulo, e a Secretaria-Geral da Presidência República não explicam quem arcará com o custo do avião que buscou às pressas o médico Antônio Luiz Macedo em Nassau, nas Bahamas, para tratar o presidente da República na capital paulista. O valor da viagem também não foi revelado.
Bolsonaro começou a passar mal durante folga de fim de ano em Santa Catarina em 2 de janeiro. Após ligar para Macedo e dizer que "estava morrendo", ele foi internado no hospital particular em São Paulo na madrugada do dia seguinte com um quadro de obstrução intestinal. O cirurgião é responsável pelo tratamento de Bolsonaro desde a facada sofrida na campanha eleitoral de 2018.
O médico estava de férias em Nassau e foi levado com urgência para cuidar do presidente. Beatriz Macedo Lopes, filha do cirurgião, revelou ao colunista do UOL Felipe Moura Brasil, que "o hospital em que ele trabalha enviou o avião para buscá-lo". "Não foi avião da FAB, não foi avião pago pelo governo, nada disso", disse.
Beatriz explicou ainda que seu pai teve de voltar ao Brasil para tratar Bolsonaro por ser o cirurgião que já havia operado o presidente anteriormente. "Então, caso se tornasse cirúrgico, nenhum assistente dele que estava aqui se sentiu apto a operar, a cuidar do presidente sem meu pai."
A cirurgia foi descartada por Macedo ao examinar Bolsonaro no hospital e o presidente recebeu alta médica na manhã de 5 de janeiro.
O UOL procurou tanto o hospital Vila Nova Star quanto a Secretaria-Geral da Presidência da República para saber quem bancou a conta do avião. No entanto, ninguém explicou como ficou a situação.
A assessoria do hospital se negou a responder quaisquer questionamentos enviados relativos ao avião, inclusive o trajeto e de quem é a propriedade da aeronave — se da Rede D'Or São Luiz, dona do Vila Nova Star, por exemplo. Também não informou se os custos são passíveis de serem ressarcidos pela Presidência e, em caso positivo, se há a intenção de cobrar a conta do governo federal.
Já a Secretaria-Geral da Presidência respondeu que "não dispõe de informações sobre o meio de transporte utilizado pelo médico no seu deslocamento para o local de trabalho".
A Folha de S.Paulo levantou um orçamento de voo fretado das Bahamas a São Paulo com duas empresas e obteve custos de R$ 340 mil e R$ 680 mil.
Mais falta de informações
Para todos os questionamentos feitos pela reportagem do UOL, a assessoria do Vila Nova Star enviou somente uma mesma nota afirmando que a conta hospitalar referente à internação de Bolsonaro "deverá ser devidamente paga pela Presidência da República assim como ocorreu com as outras três internações anteriores" e que as "informações detalhadas de cada uma das internações estão de posse da Secretaria de Comunicação da Presidência da República".
Acrescentou ainda que "cabe ressaltar que a equipe médica tem autonomia para definir seus honorários junto ao paciente".
A Secretaria-Geral da Presidência informou que, por enquanto, só foi apresentada a fatura referente à internação de Bolsonaro de julho de 2021 (tratamento de outra obstrução intestinal) no valor de R$ 7.500.
A despesa foi paga pelo HFA (Hospital das Forças Armadas) — responsável pela gestão dos convênios com os hospitais utilizados pelo presidente, vice-presidente, dependentes e ministros ligados à Presidência — em 15 de dezembro e a documentação chegou à Presidência em 7 de janeiro para que o HFA seja ressarcido, disse.
"Até a presente data, não foram apresentadas outras despesas para fins de ressarcimento", afirmou a Secretaria-Geral.
A assistência médico-hospitalar prestada pelo HFA à Presidência e à Vice-Presidência é regida pela Portaria Interministerial nº 3.073, de 15 de setembro de 2020. Com base nesse texto, as despesas com as internações e os tratamentos do presidente da República são ressarcidas pela Presidência após a apresentação da fatura pelo hospital e a respectiva validação/pagamento pelo HFA, segundo a Secretaria-Geral.
Sobre a afirmação do hospital de que "a equipe médica tem autonomia para definir seus honorários junto ao paciente", a Secretaria-Geral da Presidência informou que, até o momento, os valores referentes a essa última internação de Bolsonaro "não foram apresentados pelo HFA para fins de ressarcimento". Também disse que, como rege a portaria citada, as despesas serão ressarcidas após a apresentação da conta pelo hospital e validação/pagamento pelo Hospital das Forças Armadas.
Não ficou claro, portanto, se os honorários médicos são pagos de forma particular por Bolsonaro, ressarcidos à parte dos custos hospitalares ou até mesmo se não cobrados do presidente da República.
Ao colunista do UOL Felipe Moura Brasil a filha de Macedo disse que o pai "nunca recebeu um real por ter tratado do Bolsonaro, jamais cobrou nada". "O governo, nem ninguém, nunca pagou nada a ele."
Questionada sobre a frase de Beatriz e como é feito o pagamento do atendimento fornecido por Macedo ao presidente Bolsonaro, a Secretaria-Geral informou "não dispor de tais informações".
Passeios e críticas durante folga
Enquanto esteve em Santa Catarina, Bolsonaro foi alvo de crítica por não ter voltado a sobrevoar áreas atingidas por enchentes na Bahia. A viagem de folga foi marcada por passeios de moto aquática, aglomerações em praias, passeio em parque temático e ida a uma pizzaria.
Quando estava prestes a voltar a Brasília, o período de descanso foi encurtado em um dia por causa do problema de saúde do presidente.
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